17. É Só Olhar Para Felix

268 63 103
                                    

Lee Felix


Recusar a oferta de Hwang Hyunjin parecia uma missão impossível. Afinal, nada de ruim ou desconfortável havia acontecido durante o tempo que passei em sua casa para o trabalho de Sociologia. O problema era que eu já havia passado tempo demais com a touca.

Ao aceitar sua proposta, estaria condenado a permanecer ainda mais tempo com aquelas orelhas felinas abafadas. A ideia de prolongar aquele incômodo, de sentir a dor das feridas que começavam a se abrir, me deixou hesitante.

Havia chiado e miado bastante ao que mamãe tentou passar pomada, então não conseguia imaginar como minhas orelhas ficariam ao final do dia.

Apesar disso, me sentia inclinado a aceitar. Hwang não parecia tão ruim quanto outros faziam parecer e até havia sido divertido. Além disso, era uma experiência completamente nova para mim, especialmente porque havia passado muito tempo sem conseguir fazer amizades.

Observava meus colegas de turma combinando de passar o dia na casa uns dos outros, e me entristecia por não poder fazer o mesmo. Raramente recebia convites, e, em todas essas poucas ocasiões, precisei recusar, temendo que meu segredo fosse descoberto.

A sociedade já havia se acostumado com a presença de híbridos, mas isso não significava que a aceitação era total. Era quase a mesma situação enfrentada pela comunidade LGBTQIA+: as pessoas sabiam da existência e não se chocavam tanto ao vê-los, mas ainda assim ignoravam e olhavam como se fosse melhor que não existissem.

Mamãe me questionou várias vezes se essa era realmente a melhor decisão, já que eu não escondia meu segredo para me enturmar; mantinha em segredo sem um propósito claro.

Cheguei a me questionar várias vezes do motivo para esconder, e só cheguei à conclusão de que era apenas o medo de não ser aceito. Eu não conseguia viver uma juventude normal, mas era a minha escolha. Não queria ter que passar por uma rejeição, seria pior que o isolamento autoimposto.

Acabei por usar mamãe como desculpa para adiar minha resposta. Porém, Hwang apenas ignorou, escrevendo nossos nomes na lista, alegando que a pediria pessoalmente.

— Se ele aparecer aí em casa e pedir para fazermos o trabalho, diga que precisa pensar. — Sussurrei contra o celular, tentando o meu melhor para não ser ouvido pelas garotas sentadas à mesa. — Não precisa entender agora, só faça isso para mim, mamãe. — Bufei audivelmente e pedi desculpa com o olhar, vendo Taylor me olhar desconfiada. — Não, ele não fez nada contra mim; foi muito educado e fizemos todo o trabalho de Sociologia, mas eu não sei se estou pronto para ir na casa dele mais uma vez. Ainda estão muito feridas... Eu sei, mamãe, conversaremos em casa. Tenho que desligar. Beijinho. — Encerrei a ligação e me ajeitei na cadeira, sentindo todos os olhares em cima de mim, como havia sido desde que me sentei para almoçar.

— Está tudo bem, Felix? Algo que queira compartilhar com as suas amigas? — Taylor perguntou em um tom um pouco exigente.

— Minhas amigas? — Pisquei várias vezes, vendo a forma como elas riram.

— Acho que ainda não somos amigos. Você nem quis nos contar para onde foi ontem. — Empurrou seu pedaço de frango grelhado com o garfo, em um desinteresse encenado.

— Ontem? Eu não fui para nenhum lugar d-diferente. — Me apressei a mentir, temendo que descobrissem sobre a ida a casa de Hwang Hyunjin.

— Nós vimos você entrar no carro do Hwang, então não tente nos enganar. Pensei que nos contaria, mas apenas se sentou em silêncio e pegou o celular.

— Não fizemos nada demais; ele me forçou a aceitar fazer o trabalho de Sociologia. Faz poucas semanas que cheguei a esse colégio, não posso perder pontos.

— É óbvio que ele forçou. — Taylor revirou os olhos e levou o garfo à boca antes de continuar com a boca ainda cheia. — Hyunjin deve ter ficado com o ego ferido por você ter se recusado a fazer o trabalho para ele; do contrário, ele jamais te chamaria.

— Ou pode ser um interesse romântico. — Eleanor cantarolou em um tom de voz irritante e estridente, se animando ao ponto de pular contra o assento. — Nos conte tudo.

— Interesse no Felix? Não acho que o Felix faça o tipo do Hyunjin... — Taylor soltou uma risadinha antes que eu pudesse puxar o ar para responder.

— E por que não? Todos sabem que Hwang Hyunjin é bissexual; Felix é carne fresca, além de bem bonito. — Eleanor fechou a expressão, encarando Taylor com uma sobrancelha arqueada.

— Felix disse que nunca namorou ou teve relações com ninguém; acredito que não teria abertura ou interesse da parte do Hwang Hyunjin. — Riu e negou com a cabeça, como se eu não estivesse bem à frente delas. — E é só olhar para o Felix; ele é uma fofurinha inocente, com certeza não combinaria com o estilo do Hwang. — Abriu um sorriso em minha direção, que talvez fosse para parecer amigável e terno, mas só me deixou constrangido e ofendido. — Hyunjin só o faria mal.

Estava acostumado a ser tratado como apenas uma criança pela minha mãe, mas era completamente diferente de quando outras pessoas faziam aquilo.

Por essa razão, eu não considerava aquelas garotas minhas amigas. Na minha visão, elas me tratavam como um animalzinho de estimação, mesmo sem saber da minha parte híbrida, o que se tornou irritante com o passar dos dias, algo que eu só notei quando parei de focar em Hyunjin.

Elas me deixaram confortável para, em seguida, me tratarem como a criança do grupo, fazendo-me esforçar muito para parecer mais adulto e menos deslocado.

Eu já me sentia no limite de esconder os costumes e instintos felinos, o que já me deixava exausto. Ter que me provar como um indivíduo crescido tornava-se ainda mais difícil.

Então, apenas naqueles minutos de conversa desconfortável e desagradável, decidi por não me submeter. Levantei, segurando a bandeja firmemente, mesmo que minhas mãos estivessem trêmulas, e me retirei, ouvindo os chamados e apenas os ignorando.

Caminhei para fora do refeitório, só então percebendo o que havia feito e pensando onde eu poderia terminar de comer.

Pensei em caminhar até o banheiro masculino, mas me impedi ao parar em frente a ele e perceber os olhares esquisitos dos garotos que saíam pela porta.

Dem escolhas, acabei jogando os restos de comida no lixo, junto com a bandeja e o copo de suco ainda pela metade.

Havia saído de casa sem tomar o café da manhã e tive que esperar até a hora do almoço para saber qual seria o menu do dia. Havia quase miado de alegria quando a ajudante colocou frango grelhado em meu prato, junto com um cheiroso purê de batatas, tudo isso para, em um impulso, eu decidir jogar fora.

Olhei ao redor do corredor, sem saber o que fazer depois do meu ato impulsivo. Mamãe não estava tirando um tempo para realmente cozinhar, então provavelmente colocaria carne enlatada em meu prato.

Sem escolha, fiz meu caminho de volta para a sala, optando por esperar o final do horário do almoço sozinho.

Ao final da aula, puxei meu celular do bolso, abrindo o mapa para descobrir onde se situava o ponto de ônibus. Foi quando ele foi puxado da minha mão.

— Está procurando o que? — Hyunjin estreitou os olhos enquanto passava o dedo indicador pela tela do meu celular, aumentando e diminuindo o zoom do mapa.

— Preciso descobrir onde é o ponto de ônibus. Minha bicicleta ainda está com os pneus furados e minhas pernas já estão me matando. Peguei o único dinheiro que tinha para dar um descanso a elas. — Me inclinei para massagear minhas coxas de forma desajeitada, tentando enfatizar meu ponto.

— Pensei que havíamos combinado sobre o trabalho em dupla. Vou dirigir até a sua casa, não precisa pegar o ônibus hoje. — Bloqueou a tela do meu celular e jogou em seu próprio bolso de trás da calça. — Vamos, Lee Felix!

Pensei em recusar, pensando na saúde das minhas orelhas felinas, mas a ideia de sentar em um banco confortável e não ter que me preocupar com o dinheiro me fez apenas assentir sem muita empolgação.

...

Heey,

Essa voltou com força :) a criatividade voltou :')

+10 comentários e eu solto mais um 🤟🍓

My Blue Moon | Hyunlix | Hibrido!FelixOnde histórias criam vida. Descubra agora