𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐀𝐎 | 𝑲𝒀𝑳𝑰𝑬 𝑱𝑬𝑵𝑵𝑬𝑹

4: a presa na teia

Com Kylie Jenner, tudo precisava ser planejado nos mínimos detalhes. Cada palavra, cada gesto, cada movimento. Ela era uma obra-prima, mas também vivia em um mundo cercado por seguranças e paredes de vidro, que a separavam do resto das pessoas — e de mim. Mas, pouco a pouco, eu estava me infiltrando naquela realidade, ultrapassando as barreiras que ela acreditava serem suficientes para protegê-la.

Nossas conversas no café tinham se tornado rotineiras, sempre com um toque de mistério e cumplicidade. Ela contava sobre as gravações do seu reality, as festas, as viagens. Falava sobre o estresse de sempre estar cercada de seguranças, como se fossem sombras que a perseguiam o tempo todo.

— Deve ser cansativo — comentei um dia, enquanto ela tomava um cappuccino. — Não poder fazer nada sozinha.

Ela suspirou, tirando os óculos escuros e me olhando como se, finalmente, eu fosse a única pessoa que a entendia.

— Você não faz ideia, Mia. Às vezes, eu só quero fugir.

Eu me permiti um sorriso breve. Essa era a abertura que eu precisava.

— Você sabe que pode confiar em mim, certo?

Ela assentiu, sem hesitar. A confiança dela era a minha chave. Mas eu sabia que a qualquer momento as coisas poderiam mudar; ela poderia voltar atrás, se afastar. E eu não poderia deixar isso acontecer.

Foi numa tarde de terça-feira que ela me mandou uma mensagem.

Kylie: “Estarei em uma inauguração esta noite. Venha, será divertido. Me disseram que vai ser mais… exclusivo. Vai dar para conversar.”

Minha mão apertou o celular enquanto meu coração batia rápido. Ser convidada por Kylie para um evento exclusivo significava um passo adiante, uma aproximação real. O local estava preparado para manter paparazzi e fãs a uma boa distância, mas para mim, significava que eu teria o privilégio de estar ao lado dela, quase como uma igual.

À noite, vesti um vestido discreto e elegante, algo que passasse despercebido, mas ainda assim alinhado ao glamour do evento. Quando cheguei, os seguranças na porta verificaram meu nome na lista, e logo me deixaram entrar.

Kylie estava ali, rodeada por algumas celebridades e seus guardas pessoais, mas ao me ver, abriu um sorriso e veio em minha direção.

— Que bom que você veio, Mia! — ela disse, com uma familiaridade que me fez sentir em casa.

Conversamos sobre as obras de arte expostas, o lugar, e até mesmo sobre os convidados. Mas, ao longo da noite, percebi que o tal Bryce também estava lá, os olhos dele sempre atentos a Kylie, como se a vissem de uma maneira que era só minha. Ele tinha o tipo de atenção que eu sabia bem onde terminaria. Mas eu precisava esperar.

Alguns dias depois, Kylie estava mais próxima, quase dependente das conversas que tínhamos. Quando ela se queixava de algo, lá estava eu para oferecer uma solução, um conselho, ou só para ouvi-la, enquanto analisava cada detalhe do seu rosto e entendia suas vulnerabilidades mais profundas.

Foi nessa época que comecei a ficar mais firme com algumas coisas. Se algum fã tentava se aproximar demais quando ela estava comigo no café, eu fazia questão de afastá-lo, gentilmente, claro, mas com a intenção de estabelecer limites. Kylie não percebeu minha postura protetora. Apenas sorriu e disse que eu era sua “protetora secreta”.

E foi então que decidi que ela precisava ver o quão segura ela poderia estar… comigo.

No porão da minha casa, a jaula de vidro estava pronta. Nada se perderia ali dentro; era o ambiente ideal para controlar cada detalhe. Mas eu não a preparei para Kylie. Não, isso seria drástico demais. Aquela jaula era para qualquer pessoa que pudesse tentar interferir no que estava construindo com ela. E eu tinha uma lista de possíveis ocupantes, com Bryce no topo.

Enquanto isso, continuei meu trabalho com cuidado. Esperei dias até saber que Bryce estaria novamente com ela em um evento. A ocasião era uma festa de lançamento de um novo produto de beleza. Como era padrão, o local estava rodeado de seguranças, e eu mantinha minha distância. Observei, de longe, enquanto ele fazia questão de aparecer ao lado dela, segurando seu braço e exibindo um sorriso falso. Era uma provocação direta, e ele nem ao menos sabia que estava jogando comigo.

Assim que ele se afastou dela, esperei por minha chance e fiz o que precisava ser feito: aproximei-me dele no bar. Ele me olhou com um misto de surpresa e curiosidade, claramente intrigado com a minha presença.

— Mia, certo? — ele disse, olhando-me de cima a baixo, como se me medisse.

— Bryce. — Respondi, tentando manter um tom de voz casual. — Eu sou amiga da Kylie.

— Eu sei, ela fala bastante de você.

Essas palavras me atingiram como uma promessa. Ela falava de mim. Ela pensava em mim quando eu não estava por perto. Eu o observei por alguns minutos, o suficiente para perceber que ele era apenas mais um que se achava próximo a Kylie pelo que ela podia oferecer.

Conversa vai, conversa vem, convidei-o para um drinque em um bar discreto perto dali, onde sugeri continuarmos a conversa. Ele aceitou sem hesitar.

Aquela noite terminou como eu havia planejado: com Bryce desacordado na jaula de vidro em meu porão. Ele estava confuso, atordoado, e, quando acordou, tentou lutar, mas as paredes grossas de vidro não deixavam que ninguém o ouvisse.

— O que você acha que está fazendo? — ele gritou, a voz abafada. — Você é louca!

Apenas sorri. Era como se ele realmente achasse que entendia o que estava acontecendo. Ele achava que Kylie pertencia a ele, mas agora, eu estava no controle.

— Eu estou protegendo Kylie de você, Bryce — respondi calmamente. — Você estava prestes a cruzar uma linha e eu não podia permitir isso.

Ele gritou, se debateu, mas nada do que ele fazia ou dizia me incomodava. No fundo, eu sabia que Kylie nunca sentiria sua falta. Ele era apenas mais uma distração, alguém que precisava sair do caminho.