𝐂𝐚𝐩 29 - Íntimos

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P.O.V João Romania:

Pedro se afasta de mim, e imediatamente, sinto falta de seu calor.

— João, isso é passado, não tem porquê falarmos de nada disso!...
Seu olhar exala desespero, e sua voz quase tremia.

— Eu sei que você deve ter tantos problemas com o passado quanto eu, e eu também quero te ajudar. Não estou pedindo pra você me explicar, nem contar com detalhes, eu só quero uma base, o mais resumida possível. Mas se você não se sentir bem, eu também vou entender.

Alcanço seu braço e acaricio levemente a área.

— Eu fiz merda, Romania.
Suas palavras saem fracas, e eu consigo sentir a dor nelas. O moreno respira fundo e continua.

— Eu tinha uma vida, eu trabalhava com algo que eu amava, e eu tinha alguém... Mas antes disso, eu me envolvi com as pessoas erradas, e isso acabou alterando meu futuro... Ou eu fazia o que eu fiz, ou iriam me matar. Depois, eu só fugi de lá, e torci pela minha vida...

Uma única lágrima escorre em seu rosto e eu o abraço tão forte que poderia arrancar o ar dos pulmões do homem.

O passado dele provavelmente o assusta tanto quanto o meu me assusta.
Ele também tinha pessoas que se importavam com ele pelo visto, e acabou perdendo tudo.

Acho que lá no fundo, a nossa dor é parecida.

— Eu sei como é a sensação... Não é como se eu também tivesse escolhido fazer o que fiz... Me desculpa tocar nesse assunto, eu sei que é difícil, mas é necessário que você fale com alguém, então...

Um sorriso leve surge de sua expressão triste.

— Realmente é. Obrigado por se preocupar comigo, Romania. Você é um dos únicos.

Eu não quero soltar ele.
E Pedro também não quer sair daqui.

Novamente, ele está com a cabeça encostada em meu peito, encolhido e aconchegado.
Os seus braços se afrouxam da minha cintura levemente, como se ele estivesse conseguindo relaxar um pouco ali. Meus dedos deslizam por seu cabelo, e o silêncio se mantém por um tempo.

— Às vezes eu acho que não mereço isso... Não mereço alguém que se importe comigo...
O garoto murmura, sua voz um pouco abafada contra meu peito.
Meu coração aperta ao ouvir tais palavras vindo dele. Levanto levemente seu rosto, fazendo nossos olhos se esbarrarem e continuarem juntos.

— Pedro, como assim não merece? Você merece muito mais do que pensa...

Ele desvia seu olhar e encosta novamente a cabeça em meu peito, não querendo sair dali.

Minha mão afaga seu cabelo, acariciando cada mecha ondulada e perfeita dele.

— Se eu mereço tanto assim... Me diz, Romania. Por que você ficou? Por que você se importou?! Mesmo depois de tudo que já aconteceu?!

Com aquela fala, chego a conclusão que Pedro não é nem um pouco durão como parece ser.
Ele parece um garotinho medroso e inseguro, com medo de incomodar os outros com os problemas; pelo menos, é o que me parece.

— Talvez porque eu veja algo diferente em você, Pedro. Algo que você nunca percebeu, um brilho que você nunca enxergou em si mesmo, mas que sempre esteve aí...

Aperto ele um pouco mais, numa forma de conforto.
— E mesmo que você não admita, eu acho que você precisa de alguém ao seu lado.

Ele levanta a cabeça, e olha pra mim surpreso, com um pequeno e quase imperceptível sorriso de canto.
Ele é a pessoa mais linda que eu já vi em toda minha vida.

𝐂 𝐎 𝐑 𝐈 𝐍 𝐆 𝐀 - pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora