Capítulo bônus

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Demorou, mas veio.

Os netinhos que a minha mãe tanto cobrou estavam à caminho há quase 35 semanas. O ventre de Akemi já se aparenta perfeitamente redondo. É o equivalente há 8 meses. Eu parei de vez de jogar beyblade profissionalmente, pois já tenho 27 anos, o esporte é mais voltado para crianças e fico mais do que feliz em ensiná-las. Akemi diz que sou um bom mentor e professor, que me dou bem com crianças, mas a experiente é ela, não eu. Já lidou com mais crianças do que se pode contar, eu lido apenas com algumas crianças, a maioria dos jovens que ensino já estão pré-adolescentes ou adolescentes mesmo.

Akemi - Ai que ódio. - Mais uma vez ela estava reclamando, sentada no sofá enquanto eu cozinho.

Akemi simplesmente não suporta a própria condição de gestante, ela está sempre estressada e reclamando das coisas. Não a julgo nem um pouco, afinal está sendo extremamente difícil para ela. Além de não poder mais cavalgar ou fazer quaisquer esforços físicos, ela também tem enjoos frequentes, dores pelo corpo todo principalmente nos seios, pés e coluna por ter que sustentar seu novo peso. Mudanças de humor frequente e um sentimento de insegurança esmagador. Eu não suportaria estar no lugar dela, por isso faço o possível para tornar esse processo mais confortável.

Shu - O que foi? Sente dor? - Entrei no closet, onde ela sismava de tentar colocar as calças legging que antes usava.

Akemi - Não está servindo. - Ela dava pequenos pulinhos, parada no mesmo lugar puxando a calça para cima com força.

Shu - Não faça isso, podemos comprar uma calça nova, ou você pode usar os vestidos que minha mãe te deu. - Ela abaixou a cabeça, tirando a calça.

Akemi - Não quero mais. - Pegou um moletom bem largo meu, como sempre fazia.

Não sei o que deu nela, mas ultimamente ela parece ter perdido toda a autoestima e a vaidade. Eu nunca a acharia feia, mas ela não se cuida mais como antes. Seu olhar para si mesma no espelho é sempre carregado de desdém e desprezo. Fico preocupado com ela. Mesmo que esteja passando por um período muito difícil, ela não me pede por ajuda e isso me chateia, pois estou aqui para ela, pronto para ajudá-la no que for necessário. Akemi, por outro lado, nem sai mais de casa. Ela fica aqui o dia inteiro todos os dias. Eu não tinha reparado antes, mas nesse oitavo mês aderi ao home office e comecei a notar esses pequenos detalhes em sua rotina, detalhes antes que pelo trabalho eu não tinha percebido. Me sinto péssimo por vê-la nesse estado, não seu estado físico, acho-a linda quando grávida, mas sim seu estado mentalmente abalado.

Shu - Akemi... meu bem, está tudo bem? - Ela estava deitada em posição fetal na cama, de costas para mim.

Akemi - Não sinto dor. - Resmunga, abraçando mais forte o travesseiro.

Shu - Não foi isso que eu perguntei. - Acariciei seu quadril por cima da calça, agora mais largo. - Perguntei se está tudo bem com você... como se sente?

Akemi - Acabada. - Suspira. - Não quero fazer drama, eu sabia que ficaria assim no momento em que fiz o teste de gravidez, me sinto muito feliz por gerar nossa menininha, mas... me sinto... tão feia.

Eu já sabia de sua condição, mas ouvir de sua boca como ela se sentia me causou um aperto no peito...

Shu - Você não está feia. Só não está mais cuidando de si mesma como antes, podemos resolver isso, uhm? - Acariciei seu cabelo.

Akemi - Eu tentei, mas o cheiro dos produtos que eu usava antes me faz vomitar. Eu nem tenho mais roupas para sair de casa, fico parecendo uma mendiga com essas roupas enormes e esse cabelo todo descuidado. Além disso, eu estou enorme. Não só a minha barriga, minhas pernas estão cheias de celulites e eu não consigo mais depilá-las, estou tão grande que nem enxergo meus dedos dos pés. - Ela estava chorando, seus hormônios a flor da pele juntados com o sentimento de insegurança e insuficiência que ela sentia eram o bastante para fazê-la ficar depressiva. - Eu não consigo nem me abaixar mais, me sinto toda dura. - A puxei para os meus braços, deixando-a chorar tudo que ela tinha para chorar naquele momento, sem dizer nem uma palavra, apenas fazendo a promessa silenciosa de nunca deixá-la se sentir dessa maneira outra vez.

DARK REDEMPTION - Shu KurenaiOnde histórias criam vida. Descubra agora