CAPÍTULO XXIII - Quarto 612

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Corro os olhos nervosamente pelo bar, mas não consigo vê-la.

— Camila, o que é? Parece que você viu um fantasma.

— É a Lauren, ela está aqui.

— O quê? É mesmo? — Ela também corre os olhos pelo bar.

Deixei de mencionar para minha mãe a propensão de Lauren a perseguir as pessoas. Eu a vejo. Meu coração dá um salto e entra num ritmo histérico enquanto ela vem em nossa direção. Ela está mesmo aqui — por mim. Minha deusa interior se levanta pulando da chaise longue, batendo palmas. Ela atravessa a sala calmamente, e os reflexos de alguns fios mais claros dos seus cabelos castanhos ficam realçados embaixo das lâmpadas halógenas embutidas. Seus olhos verdes brilham. De raiva? Tensão? Sua boca está contraída, a mandíbula cerrada. Ah, puta merda... não. Estou tão irritada com ela agora, e aqui está ela. Como posso ficar com raiva na frente da minha mãe?

Ela se aproxima da nossa mesa, e me olha desconfiada.

Lauren está usando uma calça de alfaiataria preta, justa, com um cinto da mesma cor, encapado, e uma blusa na cor creme, de gola alta e mangas que vão até um pouco acima do seu cotovelo. Nos pés, usa um scarpin preto. Os cabelos estão soltos, como sempre, e levemente revoltos.

— Oi — digo, sem conseguir disfarçar o choque e o assombro ao vê-la em carne e osso.

— Oi — responde ela, e me dá um beijo carinhoso nos lábios, pegando-me de surpresa.

— Lauren, essa é minha mãe, Sinuhe.

Meus bons modos arraigados prevalecem.

Ela cumprimenta minha mãe.

— Sra. Estrabao, muito prazer em conhecê-la.

Como ela sabe o nome dela? Ela lhe dá aquele sorriso irresistível com a marca registrada Lauren Jauregui. Ela não tem defesa. O queixo de minha mãe praticamente bate na mesa. Por favor, controle-se, mãe. Minha mãe pega a mão que ela estende, e as duas se cumprimentam. Minha mãe não responde.

Ah, emudecer completamente é uma característica genética e eu não tinha ideia.

— Lauren — ela consegue dizer afinal, ofegante.

Ela lhe sorri com cumplicidade, os olhos faiscando. Estreito os olhos para as duas.

— O que está fazendo aqui?

Minha pergunta soa mais crispada do que eu pretendia, e seu sorriso é substituído por uma expressão cautelosa. Estou elétrica, mas também completamente confusa com a presença dela, a ponto de explodir de raiva da Mrs. Robinson. Não sei se quero gritar com aquela vagabunda ou me atirar nos braços de Lauren, mas acho que ela não iria gostar nem de uma coisa nem de outra, e quero saber por quanto tempo ela ficou nos observando. Também estou meio aflita com o e-mail que acabei de lhe enviar.

— Vim para ver você, claro. — Ela me olha impassível. Ah, o que ela está pensando? — Estou hospedada neste hotel.

— Está hospedada aqui? — Falo como uma caloura sob o efeito de anfetaminas, num tom muito estridente até para os meus ouvidos.

— Bem, ontem você disse que queria que eu estivesse aqui. — Ela faz uma pausa, tentando avaliar minha reação. — Nosso objetivo é satisfazer, Srta. Cabello. — A voz dela é calma, sem vestígio de humor.

Merda, ela está zangada? Será que foram os comentários sobre a Mrs. Robinson? Ou o fato de eu estar no terceiro, prestes a ir para o quarto, Cosmopolitan? Minha mãe está olhando aflita para nós duas.

Cinquenta tons de verde (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora