Capítulo 3

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No dia da corrida, acordei com uma mistura de ansiedade e entusiasmo. Era o grande dia. O dia em que toda a adrenalina acumulada nos treinos e na classificação culminaria em um evento que poderia mudar os rumos do campeonato. Vestida novamente com minha camisa da Ferrari, uma saia branca, boné e sorriso ansioso no rosto, me juntei a Luca para irmos ao circuito.

Desta vez, o paddock estava ainda mais cheio. O ambiente parecia respirar energia e nervosismo; jornalistas corriam de um lado para o outro, convidados especiais se amontoavam tentando conseguir fotos ou entrevistas, e as equipes se preparavam intensamente. Eu tentava absorver tudo, pois sabia que aquela era uma experiência única. Mesmo tentando parecer relaxada, não conseguia ignorar a excitação dentro de mim.

Luca e eu nos posicionamos em um local de onde poderíamos ver de perto a movimentação na área dos pilotos. Em meio ao caos, vi de longe Charles se dirigindo para uma breve reunião com sua equipe. Ele estava concentrado e sério, mas carregava uma determinação. Ele passou por nós, e eu discretamente segurei a respiração, com medo de atrair seu olhar e ao mesmo tempo desejando que isso acontecesse.

Por algum motivo, parecia que ele sabia onde eu estava. Charles olhou rapidamente na minha direção, mas logo desviou o olhar, voltando a se concentrar em seu objetivo. Minha mente estava uma bagunça de emoções contraditórias: uma parte de mim racionalizava o momento, dizendo que era apenas coincidência, enquanto outra parte, mais romântica, queria acreditar que aqueles olhares tinham algum significado. Eu realmente preciso acordar pra vida real, esse tipo de coisa não existe.

Quando a corrida finalmente começou, os motores rugiram em uníssono, e eu fui tomada por um frisson familiar. Assistir à corrida do paddock era completamente diferente de vê-la na TV. Eu conseguia ouvir a comunicação entre a equipe, sentir a tensão em cada volta e ver a excitação nos olhos dos engenheiros e mecânicos. Era como se eu estivesse vivendo o coração da Ferrari.

Charles largou bem e, ao longo da corrida, foi mantendo uma performance sólida. Cada ultrapassagem era um pequeno triunfo, e cada curva era uma tensão nova. O tempo parecia fluir de forma diferente ali; minutos se transformavam em segundos enquanto eu torcia internamente por cada boa volta. Por um momento, senti que meu amor pela Ferrari e por aquele esporte havia sido levado a um nível totalmente novo. Eu não era mais uma espectadora; eu fazia parte de algo maior, de uma conexão entre piloto e equipe, entre paixão e dedicação.

Quando a corrida terminou e Charles cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, o paddock explodiu em aplausos e gritos de alívio. Eu me peguei sorrindo e vibrando, comemorando cada sucesso como se fosse meu também. Luca bateu palmas e me deu um abraço, comemorando junto com todos. Para mim, parecia um daqueles momentos que você guarda para sempre na memória e não consegui conter as lágrimas.

Após a corrida, houve uma movimentação mais descontraída. Vi algumas celebridades circulando, membros das equipes conversando e brindando discretamente. Estávamos perto da garagem da Ferrari, e Luca se distraiu conversando com um conhecido. Eu aproveitei para dar uma última olhada em direção ao centro das atenções.

Charles estava ali, interagindo com os engenheiros e membros de sua equipe. Todos sorrindo e explodindo de tanta alegria, era contagiante. Ele parecia aliviado, mas ainda focado, discutindo o que havia acontecido durante a corrida. Em um momento de descontração, vi ele fazer algumas brincadeiras com seu companheiro de equipe e se aproximar da parte externa da garagem. E então, como se algo além do meu controle estivesse acontecendo, nossos olhares se cruzaram de novo. Eu sorri de leve, tentando manter a compostura, e, dessa vez, ele retribuiu com um sorriso mais aberto. Meu coração pareceu errar as batidas.
Um sorriso, um lindo e vitorioso sorriso, foi o que ganhei.

Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, ele deu alguns passos na minha direção. Senti meu coração disparar, e uma vozinha interior me dizia para não criar expectativas. Ele parou, ainda um pouco distante, mas o suficiente para que nossa troca de olhares fosse direta e sem intermediários. Com um sorriso breve, Charles fez um gesto de cabeça como se estivesse reconhecendo a presença, e depois seguiu para o lounge dos pilotos.
Cheguei a pensar que aquilo tudo não especialmente focado para mim poderia ter sido para qualquer uma, afinal ele acabou de ganhar a corrida. Mas não era um delirio, não havia dúvidas de que Charles Leclerc estava me olhando fixamente e sorrindo após ganhar uma corrida.

Fiquei estática por alguns segundos, tentando absorver o que havia acabado de acontecer. Era um simples reconhecimento, mas para mim significava muito mais. Era como se ele estivesse, de alguma forma, validando a minha presença ali, reconhecendo que eu era parte daquela experiência.

Luca voltou e perguntou se eu queria ir a uma confraternização que aconteceria em uma das áreas reservadas. Eu concordei, mas minha mente ainda estava longe, revivendo aquele breve encontro. Ele colocou a mão em minha cintura e me guiou até o local.

Na confraternização, com música ao fundo e um clima de celebração, ouvi algumas conversas sobre a corrida, sobre a performance dos pilotos, e não pude deixar de me sentir grata por ter tido a chance de viver tudo aquilo tão de perto. Eu sabia que aquele fim de semana tinha mudado algo em mim, que minha relação com a Fórmula 1 e minha nova vida na Itália nunca mais seria a mesma. Iria guardar para sempre aquela sensação.

Enquanto as luzes da festa brilhavam e a noite se desenrolava, eu senti que estava vivendo algo especial. Algo que misturava paixão pelo esporte, um encantamento novo e, quem sabe, um pouco de destino.

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