Eu tinha acabado de me mudar para a Itália para começar meu curso de História da Arte. Estava deslumbrada com cada detalhe daquele país e mal podia acreditar que estava vivendo meu sonho. As aulas eram intensas, mas, para mim, era quase como viver em um museu a céu aberto. Cada passeio pela cidade, cada pausa para um café, parecia ter um novo pedaço de história para ser descoberto.
Em uma dessas saídas, conheci um rapaz, Luca. Tínhamos marcados alguns encontros, sem pretensões amorosas de fato, um flerte descomplicado. Mantinhamos um relacionamento sem envolvimento emocional (se é que pode chamar isso de relacionamento).
Ele sabia que eu era brasileira e apaixonada pela Ferrari — não só pela equipe, mas também por seus dois pilotos, que eu acompanhava avidamente desde o início. Ele trabalhava para uma empresa que patrocinava a Scoderia. Como Luca sabia do meu grande sonho de ir assistir a um GP na Itália (a casa da Ferrari), me fez o convite para ir com ele, já que tinha alguns privilégios devido ao seu emprego. Era um convite irresistível.Quando o grande dia chegou, vestida com uma camisa vermelha da Ferrari, entrei no paddock com o passe livre que Luca me deu. Meus olhos não sabiam para onde olhar primeiro. Ver a agitação nos bastidores, a movimentação das equipes, era como entrar em um universo paralelo. Eu estava eufórica e ao mesmo tempo tentando manter a compostura para não parecer uma fã deslumbrada.
O ponto alto foi quando chegamos perto da garagem da Ferrari. Eu estava ali, tão próxima dos pilotos que admirava. Ver Carlos Sainz de longe me deixou nervosa, mas não tanto quanto ao perceber que Charles Leclerc estava por perto, conversando com alguns membros da equipe. Eu sempre admirei seu jeito reservado, mas focado, e estava acostumada a vê-lo apenas pela tela.
Luca sugeriu que ficássemos um pouco ali, e foi o que fizemos. Fingi não estar tão interessada, tentando parecer casual, mas era impossível. Eu o vi de relance, e ele parecia tranquilo, concentrado. Estava me virando para comentar algo com Luca, quando senti um olhar sobre mim. Me virei discretamente e, para minha surpresa, lá estava ele — Charles Leclerc, me observando.
Naquele momento, senti meu coração acelerar de um jeito inexplicável. O tempo pareceu desacelerar enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo. Aquele olhar curioso e demorado me deixou um pouco sem reação. Nossos olhos se encontraram por alguns segundos, mas que pareceram uma eternidade. Eu queria sorrir, dizer algo, mas fiquei completamente muda.
Quando ele desviou o olhar e voltou a conversar com sua equipe, senti um misto de nervosismo e euforia. Luca, alheio a tudo, continuou falando sobre as novidades da temporada, mas eu só conseguia pensar naquele momento surreal. Estar ali, tão perto de alguém que eu admirava tanto, e ainda ter esse breve, porém intenso, momento de troca de olhares era mais do que eu poderia ter imaginado.
Passei o resto do dia em uma espécie de transe, ainda tentando processar o que tinha acontecido. Não comentei nada com Luca, afinal, era algo só meu, um segredo que queria guardar e reviver na memória. Eu ainda estava me acostumando com a nova vida na Itália, mas aquele dia no GP fez tudo parecer ainda mais especial, como se a vida estivesse começando a me reservar surpresas ainda maiores.
Engraçado como mesmo com meus 23 anos as vezes eu agia como uma adolescente. Sim, uma autocrítica.
O segundo dia de treino livre chegou, e eu já estava mais acostumada à atmosfera do paddock. Ainda era surreal para mim, estar tão perto do mundo que sempre acompanhei de longe. Mas dessa vez, o nervosismo tinha se transformado em uma espécie de empolgação constante. Eu sabia que teria mais uma chance de ver os bastidores da Fórmula 1 em ação, e não podia deixar de ficar ansiosa com a ideia.
Luca, sempre muito gentil, me levou novamente para as áreas exclusivas. Eu vestia outra camisa da Ferrari, desta vez com um boné para me proteger do sol e, claro, para demonstrar ainda mais meu amor pela Scuderia. A energia do circuito parecia diferente; a adrenalina aumentava conforme o fim de semana avançava. As equipes estavam mais focadas, os pilotos com expressões mais sérias, já ajustando os últimos detalhes.
Nos posicionamos próximos às garagens, e consegui um bom lugar para observar o movimento. Carlos Sainz saiu para um treino logo cedo, e foi interessante vê-lo tão concentrado enquanto ajustava o capacete e recebia as últimas instruções de sua equipe. Eu estava encantada com a proximidade, quase podia sentir a tensão no ar.
Mas o momento que mais esperava ainda estava por vir. Quando vi Charles Leclerc saindo da garagem para se preparar, prendi a respiração. Ele estava tranquilo, mas com aquela expressão característica de foco absoluto. Eu sabia que ele precisava se concentrar, então tentei não ficar encarando, afinal, não queria me destacar ali, apenas observar tudo.
Eu criaria minha realidade alternativa com a lembrança de tudo isso na hora de dormir, por enquanto iria sentir e viver o momento.Quando ele entrou no carro e saiu para a pista, o ronco do motor fez o coração disparar. Acompanhei o treino do monitor, observando os tempos e a performance, mas também absorvendo o ambiente ao meu redor. Os engenheiros cochichando estratégias, os mecânicos correndo de um lado para o outro, os membros da equipe trocando sinais e expressões sérias. Era uma coreografia quase perfeita, onde cada movimento tinha um significado.
Após algumas voltas, Charles voltou para a garagem. Ele tirou o capacete, passando a mão pelos cabelos desalinhados e começou a conversar com seu engenheiro. Tentei olhar sem ser notada, mas por algum motivo senti que ele sabia que eu estava ali. E então, enquanto ele levantou o olhar e nossos olhares se cruzaram novamente. Dessa vez, eu tentei ser corajosa e lhe dei um leve sorriso, quase imperceptível. Ele piscou rapidamente, como se estivesse tentando processar o momento, e depois pareceu sorrir de volta, de forma discreta, antes de voltar a se concentrar nos detalhes técnicos.
Eu estava com o coração a mil. Por que ele estava prestando atenção em mim? Será que era apenas coincidência? Talvez fosse apenas gentileza de sua parte. Mas, de qualquer forma, aquilo me deixou ainda mais fascinada por ele. Não comentei nada com Luca, mas senti que ele notou meu entusiasmo que dava para disfarçar sendo sobre a corrida. Era feio da minha parte paquerar outro cara sendo que estava acompanhada de meu "ficante"? Me bateu esse questionamento, mas acho que sendo Charles Leclerc o alvo, ninguém iria se importar, porque ele nunca iria de fato querer algo com uma garota aleatória que não estivesse no ciclo de amizade de sua ex.
O resto do dia foi um misto de observação e novas descobertas. Fui convidada a visitar uma área onde estavam expondo os carros históricos da Ferrari, o que para mim era um sonho. Caminhar entre aquelas relíquias enquanto ainda tentava absorver o que tinha acontecido mais cedo foi quase mágico.
Fiquei imaginando como seria incrível se Charles entrasse ali e fosse me contar a história de cada carro, mas seria cinema demais e eu vivia na realidade, que por sinal, já estava boa até demais.
Tantas coisas dando certo na minha vida me deixava com receio quando tudo começasse a desandar.
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MORE THAN I CAN SAY
FanfictieUma jovem brasileira vai para a Itália fazer um curso de história da arte, lá ela consegue uma oportunidade com a qual sempre sonhou, a de ir em uma corrida da F1. Em meio ao cheiro de borracha queimada, gritos de torcida e muita competição, Anna co...