Rúben
Quando alguém que conhecemos toda a vida parte, é difícil saber como reagir. Por mais que saibamos que a lei natural das coisas é que os mais velhos deixem este mundo primeiro, ninguém nunca nos ensina como lidar com essa perda quando o momento chegar, ninguém nos ensina como nos devemos preparar para esse momento. Mesmo quando sabemos que é inevitável e que está próximo, nunca estamos realmente preparados para o baque que sentimos quando nos cai a ficha e percebemos que nunca mais iremos ver, ouvir, falar com aquela pessoa. E eu sei que isto é duro com qualquer pessoa de quem gostemos, mas é ainda mais duro quando se trata de alguém que foi uma peça fundamental do nosso crescimento e da nossa construção enquanto pessoa.
Perder o meu avô foi um murro no estômago. Eu achava que estava pronto, porque todos sabíamos que, mais dia menos dia, iria acontecer, mas não estava. Não estava pronto para olhar para o rosto pálido e frio, sereno, como se apenas estivesse a dormir, mas sabendo que nunca mais irá acordar. Não estava pronto para aceitar que jamais o ouvirei chamar-me para falarmos sobre o Benfica ou sobre qualquer outro clube, porque mais do que ensinar-me a amar o Benfica, o meu avô ensinou-me a amar futebol.
Por tudo isto, o dia de hoje foi difícil. Acordei sabendo que ia ser complicado e a desejar que acabasse o mais rápido possível. Felizmente, tenho um anjo da guarda que me enviou a Laura, para tornar tudo um bocadinho mais leve. Tê-la ao meu lado tornou as coisas um bocadinho menos difíceis, porque sei que tenho nela um ombro amigo com quem não me sinto mal por falar da minha tristeza – porque embora tenha os meus pais, o meu irmão e o resto da minha família, estamos todos a passar por isto e não quero ser mais um peso nos seus ombros.
Foi um dia de emoções fortes, mas terminá-lo com tranquilidade, a olhar o mar, em silêncio, ajudou-me a acalmar. Estou imensamente grato à Laura por ter ficado comigo, mesmo que apenas em silêncio, por me ter dado o meu espaço. Tê-la ao pé de mim soube-me estranhamente bem – saber que não estava sozinho e que, se precisasse dela, ela estava ali mesmo ao meu lado. E isso é impagável.
Quando passo a porta de casa dos meus pais, já passam das oito da noite, visto que só saímos da praia depois de o sol se pôr.
- Filho, estava a ficar preocupada contigo. – a minha mãe diz, ao ver-me entrar em casa.
- Eu estou bem, só não dei conta do passar das horas. – justifico-me, embora eu seja maior e vacinado e já nem viva na casa dos meus pais, porque eu sei que a minha mãe não faz por mal e estava genuinamente preocupada.
- Descansou-me saber que estavas com a Laura, pelo menos. – ela afirma e eu estou só à espera do momento em que ela irá desenvolver a conversa, porque sei que ela deve ter perguntas para mim, mas somos interrompidos pelo meu pai.
- Chegaste a tempo de comer um prato de sopa, filho. Anda, íamos agora sentar-nos à mesa. – o meu pai diz e eu assinto, seguindo-os para me juntar ao meu irmão e à sua namorada na sala.
- A avó? – pergunto.
- Comeu um bocadinho de sopa, por nossa insistência, e foi-se deitar. Demos-lhe a medicação para dormir para ver se ela descansa alguma coisa de jeito. – o meu pai suspira, obviamente também cansado.
- Fizeram bem. – assinto.
Durante o jantar, conseguimos distrair-nos um pouco e conversar sobre outras coisas, o que ajuda a aliviar um bocadinho o ambiente – algo que todos precisávamos. Acabamos por falar de trabalho ou das noticias que passam na televisão, abstraindo-nos da notícia que abateu a nossa família.
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Pontos Nos Is | Rúben Dias
Roman d'amour«Hoje é o dia de a agarrar Pra ficar com quem eu sempre quis E se a voz nervosa não falhar Talvez vá ser feliz!»