007. o tempo passa voando

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Agatha inclinou-se levemente, os olhos buscando os de Rio, e um sorriso cheio de desafio apareceu em seus lábios. Ela se aproximou, tentando tomar a iniciativa de um beijo, mas Rio desviou, o rosto virando apenas o suficiente para que os lábios de Agatha tocassem o vazio. Rio riu de leve, um som que misturava provocação e satisfação por ter resistido.

— Não tão rápido, Agatha, — Rio murmurou, a voz impregnada de um charme irresistível.

Agatha arqueou uma sobrancelha, sua expressão mudando para algo malicioso. — Tudo bem. Eu gosto de caçar, sabe, — ela respondeu com um ar casual, afastando-se e caminhando em direção ao banheiro. Sem se incomodar com a presença de Rio, Agatha abriu a porta do chuveiro, ligando a água quente que logo começou a vaporizar o ambiente.

Enquanto a bruxa de cabelos escuros entrava sob a água, o som das gotas caindo ecoava pelo banheiro. Rio permaneceu encostada na pia, os braços cruzados, observando cada movimento de Agatha. O vapor envolvia o espaço, criando um ambiente de mistério e desejo. Rio não conseguia evitar; algo na presença de Agatha sempre a puxava como um imã.

— Vai ficar aí só olhando? — Agatha provocou, a água escorrendo por sua pele pálida, os cabelos ficando escuros e grudados no rosto. Ela lançou um olhar desafiador para Rio, sem se preocupar em se esconder.

Rio hesitou apenas por um instante, mas então um sorriso surgiu, um que combinava perfeitamente com o calor do ambiente. Ela afastou-se da pia, cada passo revelando uma determinação maior. Sem pressa, ela começou a tirar suas próprias roupas, peça por peça, até que o tecido caiu aos seus pés. O banheiro parecia pequeno demais para conter a eletricidade entre as duas.

Rio entrou no chuveiro, a água quente imediatamente se derramando por sua pele. As duas mulheres se encararam, olhos nos olhos, com a água servindo como uma cortina invisível entre elas.

— Você sempre gostou de ter a última palavra, não é? — Rio sussurrou, um toque de vulnerabilidade misturado com o desejo. Ela se aproximou, deixando os dedos se demorarem no ombro de Agatha, traçando lentamente a linha do pescoço. — Mas nunca achei que te ver assim seria tão... desarmante.

Agatha sorriu, mas seus olhos carregavam uma melancolia súbita, uma dor que se misturava com os momentos que dividiam. — Talvez seja porque você nunca viu o que está por trás de tudo isso... nunca sentiu o que realmente significa perder.

O olhar de Rio suavizou, e mesmo com todo o desejo que pairava entre as duas, havia um respeito novo e profundo. — Eu sei o que é perder, Agatha. — Sua voz ficou quase um sussurro, tomada por algo que parecia mais do que palavras. — E sei o quanto Nick significava para você.

Agatha sentiu o coração apertar ao ouvir o nome do filho, a lembrança doce e dolorosa. — Ele amava as cachoeiras... amava a liberdade que a água trazia. — As lágrimas se mistauravam com as gotas do chuveiro, tornando impossível discernir o que era água e o que era dor. — Todos os dias, sinto falta dele.

Rio hesitou, mas então puxou Agatha para um abraço apertado, deixando que o calor da água e o calor do momento unissem as duas. — Ele sente sua falta também, — Rio sussurrou, uma promessa que parecia vinda de um lugar que transcendia o físico. — E talvez nós duas, juntas, possamos honrá-lo.

Agatha respirou fundo, sentindo o toque reconfortante de Rio, como se o abraço de sua antiga namorada pudesse remendar, ainda que por um breve momento, as feridas do passado. A água quente continuava a correr sobre seus corpos, o vapor envolvendo-as em uma névoa quase mágica. O silêncio era denso, carregado de emoções que há muito estavam enterradas, mas que agora se recusavam a permanecer adormecidas.

Agatha fechou os olhos, permitindo-se um instante de vulnerabilidade, uma chance de sentir a presença de Rio sem as barreiras que costumava erguer. — Às vezes, sinto que o tempo se arrasta, como se o luto nunca fosse embora... — Ela mordeu o lábio, hesitante. — Mas ao mesmo tempo, fico com medo de esquecer. De deixar que as memórias dele se tornem sombras de um amor que nunca vai voltar.

Rio a apertou um pouco mais, como se desejasse proteger Agatha de todo o peso que carregava. — Eu sei que as palavras nunca são suficientes, mas... você não precisa enfrentar tudo sozinha, Agatha. — A voz de Rio era suave, mas havia uma determinação ali, algo forte e inquebrável. — Mesmo que o mundo tenha nos separado tantas vezes, eu estou aqui agora. Estou aqui para você.

Agatha finalmente se afastou um pouco, apenas o suficiente para encarar Rio nos olhos, aqueles olhos que sempre escondiam mais do que revelavam. Ela procurou algo ali, alguma verdade ou esperança. — E você? — perguntou, sua voz um sussurro carregado de incerteza. — Você realmente acha que podemos superar tudo isso? Que podemos curar as cicatrizes que deixamos uma na outra?

Rio inclinou a cabeça, seu rosto a poucos centímetros de Agatha. — Talvez nunca possamos apagar o que aconteceu, — ela admitiu, a honestidade crua cortando o ar entre elas. — Mas podemos começar de novo, se quisermos. Podemos transformar a dor em algo novo, algo que ele também teria se orgulhado de ver.

As palavras de Rio tocaram fundo, e Agatha sentiu uma mistura de medo e esperança borbulhando dentro de si. Era difícil abrir as portas de um coração tão marcado, mas naquele momento, com o som da água caindo ao redor delas e o calor das emoções preenchendo o espaço, Agatha se sentiu tentada a acreditar.

Ela estendeu a mão e acariciou o rosto de Rio, os dedos deslizando suavemente pela pele quente. — Se vamos tentar de novo... — começou, a voz rouca de emoção, — que seja com tudo que temos, sem esconder o que somos. Eu não posso prometer que será fácil, mas...

Rio interrompeu, os lábios curvando-se em um sorriso melancólico. — Eu nunca quis nada fácil, você sabe disso. — Seus olhos encontraram os de Agatha, firmes e resolutos. — E por você, Agatha... eu sempre estarei disposta a lutar.

As palavras ecoaram no coração de Agatha, despertando um calor há muito esquecido, algo que ela pensou ter perdido para sempre. Elas ficaram assim, uma de frente para a outra, deixando que o passado e o presente se misturassem, enquanto o futuro permanecia incerto, mas pela primeira vez em muito tempo, carregado de uma possibilidade que talvez valesse a pena explorar juntas.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Agatha. — Então vamos começar com algo simples, — disse ela, pegando a mão de Rio e saindo do chuveiro. — E ver onde isso nos leva.

Rio riu levemente, a música de seu riso preenchendo o banheiro e quebrando a tensão. — Que seja algo simples, pelo menos por agora. — E assim, as duas seguiram adiante, um passo de cada vez, tentando encontrar um caminho onde o amor pudesse florescer entre as ruínas do passado.

Sob o véu da morte-AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora