014 mamãe?

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Agatha se levantou lentamente, observando os corpos espalhados ao seu redor. O bar estava em silêncio, mas em sua mente o som de algo quebrando ecoava. "Agora são só restos, carcaças", pensou. Não havia mais nada ali, exceto os vestígios de uma noite que parecia ter se estendido além do que o tempo poderia permitir. Seu olhar caiu sobre um pedaço de torta de maçã deixado na mesa, em cima do qual repousava uma folha de ortelan. Agatha a observou atentamente. Sentiu uma energia estranha, difícil de descrever, como se algo estivesse ao mesmo tempo perto e distante. A sensação era desconcertante, como se aquela mulher estivesse brincando com ela, tentando deixá-la fora de controle.

Ela não resistiu e pegou a torta, mordendo-a com um misto de desejo e ansiedade. O sabor doce e familiar a acalmou momentaneamente, mas a sensação persistia. Sem mais palavras, saiu do bar e entrou na rua. O céu estava limpo, de um azul intenso, e uma brisa suave tocava seu rosto. Agatha caminhou sem rumo, até que algo a fez parar diante de uma loja. Era uma pequena livraria, ao lado de uma loja de cristais. Ela sentiu que precisava entrar ali, algo a puxava. Dentro, pegou dois pés de coelho, um gesto que, no fundo, sabia que seria necessário para trazer sorte aos caminhos desconhecidos que se abriam diante dela.

Continuou caminhando até o fim da rua, onde encontrou a última casa. Ali, estava a estrada de barro que procurava, com uma entrada apertada, quase escondida. Agatha demorou um pouco até encontrar o caminho exato, mas quando o fez, o que aconteceu foi algo que ela não poderia prever. Ao atravessar a entrada cheia de arames, sentiu o sangue escorrer de seus braços, mas não parou. Quando olhou para baixo, viu o chão se abrindo à sua frente, uma estrada formada onde antes não havia nada. Olhou para trás e a entrada desapareceu, como se nunca tivesse existido.

Foi então que viu algo que a fez parar por um instante. Seu nome estava gravado na parede à sua frente, e ao lado dele, os nomes de todos os que haviam passado por ali antes dela. Agatha sabia que não estava mais sozinha. A estrada diante dela era marcada por aqueles que a haviam atravessado, e ela agora fazia parte daquela história. O que quer que estivesse à sua frente, ela não voltaria atrás.

Agatha sentiu um arrepio percorrendo sua espinha, uma sensação horrível que a envolveu como um manto gelado. De repente, uma sombra densa se formou à sua frente, uma presença familiar que lhe causou um nó no estômago. Ela levantou os olhos, e o peso da visão a fez parar por um momento. Lá estava ela. Sua mãe.

A mulher diante de Agatha tinha os traços familiares, mas seu olhar estava cheio de desprezo. A voz que surgia de seus lábios era carregada de rancor.

- Agatha Harkness... - a mãe a chamou com um tom de reprovação, como se cada sílaba fosse um golpe. - O que você está fazendo? Não percebe que está trilhando o caminho errado?

Agatha sentiu a raiva começar a borbulhar em seu interior. Ela deu um passo à frente, seus olhos brilhando com fúria.

- Eu não desisto, mãe. Você não pode me parar.

A mãe dela deu uma risada amarga, o olhar dela se tornando ainda mais frio e cortante.

- Você ainda não percebeu, não é? Rio Vidal... ela não é a mulher certa para você, Agatha. Ela vai te arrastar para o abismo. O que você está fazendo com sua vida? Você, que sempre teve o potencial de ser alguém grandiosa, agora se apaixona por uma mulher que... que me enoja.

As palavras caíam como veneno, e o ódio da mãe se fazia presente em cada frase. Agatha tentou manter a compostura, mas as lembranças de seu passado começaram a tomar conta dela.

- A família Harkness nunca teria seguido pelo mal. Nunca! - a mãe dela gritou, seu rosto contorcido pela indignação. - Você não é mais parte de nós. E agora você está disposta a perder tudo... tudo por essa mulher! E um filho com outra mulher, Agatha?! Isso é insuportável!

O chão parecia tremer sob os pés de Agatha. A raiva e a dor a consumiam, mas ela não iria se deixar abalar.

- Eu não pedi para ser rejeitada pela minha própria família, mãe! - Agatha gritou de volta, seus olhos agora transbordando de emoção. - O coven tentou me matar! E você... você, mãe, tentou fazer o mesmo! Não foi minha culpa! Eu só estava tentando sobreviver!

O silêncio que se seguiu foi pesado. A mãe de Agatha ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos nela, mas o desprezo ainda estava lá.

- Você sempre foi uma vergonha para nossa linhagem, Agatha. E agora vai arruinar tudo por causa de uma ilusão.

As palavras da mãe dela ecoaram na noite, mas Agatha não cedeu. Ela se ergueu com mais força, a decisão firmada em seu coração. Não importava o que sua mãe dissesse, não importava o quanto ela tentasse afastá-la de seu caminho. Agatha Harkness estava determinada a seguir sua própria jornada, independentemente dos demônios do passado.

A tensão no ar era palpável, a cada palavra trocada entre Agatha e sua mãe, a raiva e a dor cresciam ainda mais. De repente, a mãe de Agatha deu um passo à frente, seus olhos cheios de fúria. Antes que Agatha pudesse reagir, uma mão fria e impiedosa a atingiu com força, o som do tapa ecoando na noite silenciosa.

Agatha, atônita por um momento, levou a mão ao rosto. A sensação do contato, a humilhação, fez seu sangue ferver. Olhou nos olhos de sua mãe, sentindo uma onda de nojo e decepção tomar conta dela. Não era mais a mulher que ela amava, nem a figura que um dia ela tivera como referência. Ela não era nada mais que um símbolo de dor e traição.

Com um movimento brusco, Agatha deu um passo para trás, se afastando de sua mãe. Sentiu o peso da tristeza, mas também uma sensação de liberdade, como se estivesse finalmente se afastando de uma prisão que havia durado a vida toda. Ela começou a andar, os passos firmes, decididos, como se o futuro estivesse chamando.

Mas antes que ela pudesse se afastar mais, sentiu uma mão fria e forte agarrar seu pulso. O arrepio percorreu sua espinha novamente, mas dessa vez não era da raiva ou do medo. Era um cheiro familiar, um cheiro de ervas, hortelã e algo mais... algo que só ela reconhecia. Quando olhou para baixo, seus olhos se encontraram com os de Rio.

Rio estava ali, diante dela, com um olhar decidido. Antes que Agatha pudesse dizer uma palavra, Rio segurou com firmeza o pulso da mãe de Agatha, fazendo-a soltar a mão com um simples movimento, quase como se a mulher não fosse nada mais que uma folha ao vento.

A mãe de Agatha, furiosa, se virou para Rio, os olhos flamejando de desdém.

- Quem você pensa que é para se meter nisso, mulher? - a mãe de Agatha gritou, sua voz carregada de desprezo. - Você não passa de mais uma ilusão para minha filha! Uma sombra que a arrasta para a escuridão!

Mas Rio, com sua calma característica, não respondeu com raiva. Seu olhar, fixo na mãe de Agatha, transmitia uma quietude que contrastava com a ferocidade da mãe de Agatha.

- Não precisa se preocupar com ela - Rio disse com um tom baixo e controlado. Ela se virou para Agatha, sua expressão suavizando. - Desculpe pela demora.

Agatha olhou para Rio, a sensação de alívio e de segurança invadindo seu corpo. Ela nunca imaginara que Rio a encontraria ali, no momento em que mais precisava.

- Eu... - Agatha tentou dizer, mas as palavras pareciam não sair, o turbilhão de emoções em seu interior a impedindo de se expressar completamente.

Rio, então, tocou o ombro de Agatha com delicadeza, um gesto simples, mas reconfortante.

- Eu sei que você está lutando, Agatha. Mas agora você vai precisar de ajuda. E eu estou aqui para isso. - O tom de Rio era firme, mas ao mesmo tempo cheio de compreensão. - Vamos seguir juntos, e eu não vou te deixar sozinha. Nunca mais.

Com aquelas palavras, Agatha sentiu uma sensação de calma tomar conta de seu corpo. Pela primeira vez, ela sentiu que talvez tivesse encontrado alguém que a compreendesse verdadeiramente, alguém que não a abandonaria no meio da tempestade. Rio estava ali, e, de alguma forma, Agatha sabia que, com ela ao seu lado, nada mais poderia destruí-la.

Sob o véu da morte-AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora