006. Senhor Scratchy.

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Ao chegarem à casa de Agatha, a atmosfera de Westview já parecia mais serena, envolvida por uma aura de calma ao entardecer. As casas vizinhas estavam iluminadas por uma luz dourada, e o som distante das risadas infantis preencheu o ar. O olhar de Agatha se desviou para a casa ao lado, onde Wanda Maximoff brincava com seus filhos, Tommy e Billy, enquanto Visão estava ao lado, assistindo a tudo com um sorriso satisfeito. Depois de tudo o que haviam enfrentado, Wanda parecia finalmente ter encontrado uma felicidade genuína, uma paz tão distante do caos que havia se tornado a vida delas há alguns anos.

— Olhando assim, parece que tudo voltou ao normal, — Agatha comentou, sua voz calma, mas com um toque de nostalgia. — Mesmo que normal nunca tenha sido uma palavra apropriada para nós.

Rio observou Agatha atentamente, a expressão séria. — O que está entregando você não é o que está ao redor, Agatha. É o que está dentro. — Ela inclinou a cabeça, seus olhos percorrendo o rosto de Agatha com uma intensidade desarmante. — Você acha que ninguém percebe, mas está mais exposta do que imagina.

Agatha bufou, um riso seco e pouco convencido escapando de seus lábios. — Sempre tem que ser tão perceptiva, não é? Nunca perde a oportunidade de cutucar onde dói.

Rio sorriu com uma satisfação que parecia quase infantil. — Eu tenho um talento, o que posso dizer? — Antes que Agatha pudesse responder, Rio se abaixou, os olhos capturando um movimento no jardim. Ali estava o Senhor Scratchy, o coelho de Agatha, que olhava para as duas com seus olhos brilhantes e curiosos.

— Ah, olá, meu velho amigo, — Rio disse, ajoelhando-se para acariciar o pelo macio de Senhor Scratchy. O coelho inclinou a cabeça e aceitou o carinho com uma tranquilidade desconcertante, como se soubesse mais do que deixava transparecer. Rio riu suavemente e, em seguida, soltou o coelho, que correu pelo jardim em direção a um arbusto próximo. — Parece que até ele sente falta da velha rotina, não é?

Agatha cruzou os braços, o rosto cuidadosamente neutro, embora um leve sorriso ameaçasse surgir. — Não se apegue demais. Ele tem o hábito de guardar segredos, assim como eu. — Ela se aproximou de Rio, arqueando uma sobrancelha de forma provocativa. — Então, vai entrar de forma civilizada ou prefere destruir mais uma porta da minha casa? Porque, francamente, já perdi a conta de quantas vezes você fez isso.

Rio se levantou, o sorriso dela se alargando, com aquela expressão travessa e desafiadora que Agatha já conhecia bem demais. — Eu prometo que, desta vez, vou me comportar... pelo menos por enquanto. Mas não garanto que a minha ideia de civilidade combine com a sua.

— Típico, — Agatha murmurou, os olhos brilhando com um misto de irritação e diversão. — Bem, vamos lá, então. Só espero que não se arrependa.

Juntas, elas se dirigiram à entrada da casa.

Dentro da casa, o ambiente era acolhedor, mas a tensão entre as duas bruxas tornava o ar eletrizante. Agatha caminhou diretamente para a cozinha, seu vestido escuro esvoaçando enquanto ela abria a geladeira. Lá dentro, uma garrafa de vinho tinto aguardava, como se soubesse que era a hora certa de surgir.

— Vinho? — Agatha perguntou, virando-se com a garrafa na mão, o tom de voz casual, mas com um toque de expectativa. Ela abriu a garrafa com destreza e encheu duas taças, oferecendo uma a Rio, que aceitou com um sorriso encantador, quase perigoso.

— Não poderia recusar, — Rio respondeu, tomando um gole. — Principalmente quando é você quem serve.

Agatha arqueou uma sobrancelha, os olhos cintilando com um misto de ironia e algo mais difícil de decifrar. — Estou indo tomar um banho, — ela disse, inclinando-se ligeiramente, como se fosse um convite ou uma provocação. — Certifique-se de não destruir nada enquanto eu estiver fora.

Rio observou Agatha se afastar, seus olhos seguindo cada movimento enquanto a bruxa subia as escadas, a silhueta elegante desaparecendo pelo corredor. Incapaz de resistir, Rio a seguiu, como uma sombra predadora em busca de sua presa. Quando chegou ao quarto, ela encontrou Agatha escolhendo uma nova roupa, o corpo dela refletido parcialmente no grande espelho do armário.

— Quer mesmo espiar? — Agatha perguntou, sem sequer se virar, a voz dela baixa, mas afiada.

Rio apoiou-se casualmente na porta, os lábios curvados em um sorriso sedutor. — Você não parece do tipo que se incomoda com olhares... especialmente os que admiram.

— Ah, você sempre soube como elogiar com um toque de provocação, não é? — Agatha murmurou, deslizando os dedos pelo tecido da roupa que segurava, como se estivesse considerando se valia a pena se trocar na frente de Rio.

Rio se aproximou um pouco mais, deixando o perfume sutil de magia e perigo flutuar no ar. — Se você quer que eu pare, basta dizer, — ela disse, mas a sugestão estava longe de ser uma oferta sincera. Seus olhos estudavam cada detalhe do rosto de Agatha, como se fossem capazes de desvendar segredos.

Agatha olhou de relance pelo espelho, um sorriso enigmático aparecendo em seus lábios. — Acho que você não sabe o que é pedir permissão. Mas sabe... eu já esperava isso de você.

Rio se aproximou ainda mais, a distância entre elas tão pequena que a tensão se tornava quase palpável. — Talvez eu tenha sentido falta do seu jeito enigmático... do seu jeito de não dizer exatamente o que quer.

Agatha virou-se, agora frente a frente com Rio. — E talvez eu tenha sentido falta da sua insistência... — ela provocou, deixando o espaço entre as duas parecer perigosamente curto, mas sem ceder completamente.

Rio sorriu, o brilho nos olhos intensificando-se, enquanto sua voz se tornava um sussurro quase íntimo. — Cuidado com o que deseja, Agatha... ou posso acabar provando que posso ser ainda mais persistente do que você imagina.

Sob o véu da morte-AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora