019. Não morra

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Enquanto caminham pelo corredor escuro e apertado, Rio e Agatha sentem a pressão do ambiente ao redor delas aumentar. O ar parece mais pesado, e a sensação de que cada passo as leva para mais perto de algo irreversível cresce. Agatha, com o olhar fixo à frente, passa a mão por dentro de seu manto, como se procurasse algo, até que finalmente seus dedos tocam um pequeno frasco de vidro.

Rio observa, sabendo exatamente o que isso significa. Agatha sempre teve seus próprios recursos e, de alguma forma, já estava um passo à frente.

- Você já tem o sangue? - Rio pergunta, sem surpresa, mas com um toque de curiosidade em sua voz.

Agatha sorri de forma enigmática e, com um gesto suave, ela tira o frasco de vidro do bolso, que brilha sob a luz escassa do corredor. O sangue de vampiro, em um tom rubro profundo, estava cuidadosamente guardado ali, pronto para ser usado.

- Sempre tive o que precisamos - Agatha responde com um tom tranquilo, mas determinado. - Só precisamos saber como usá-lo corretamente.

Rio observa o frasco, seu olhar fixo no conteúdo, e o peso do que estavam prestes a fazer paira no ar. O sangue de vampiro era um recurso poderoso, mas também perigoso, algo que poderia facilmente virar contra elas, dependendo de como fosse manipulado. Contudo, sabiam que a missão exigia exatamente aquilo. Não havia mais espaço para hesitações.

- E o que precisamos fazer para usá-lo? - Rio pergunta, a voz agora mais firme, com o foco voltado para o que ainda estava por vir.

Agatha guarda o frasco de volta ao manto e começa a caminhar para frente, com uma confiança renovada.

- Vamos precisar de um portal, algo que possa canalizar o poder do sangue e abrir o caminho para onde queremos chegar. Com isso, podemos romper as barreiras entre as dimensões e, quem sabe, até alcançar o que está nos aguardando do outro lado.

Rio a segue, sabendo que a missão estava prestes a tomar uma direção ainda mais sombria. Cada passo que davam parecia mais perigoso, mais próximo de um precipício sem volta. E, mesmo com o sangue de vampiro em mãos, ela não podia deixar de sentir que algo ainda os aguardava, algo que não podiam prever.

Mas Agatha, com sua calma e determinação, parecia pronta para o que viesse, e isso era tudo o que Rio precisava para continuar. Ela sabia que, juntas, poderiam superar qualquer obstáculo. O futuro estava incerto, mas o que importava agora era o próximo passo. E com o sangue de vampiro como chave, nada parecia impossível.

Enquanto Agatha e Rio se aproximavam do castelo antigo, o cenário à sua frente parecia ter saído diretamente de um pesadelo. O castelo, embora majestoso, exalava uma aura de abandono e desolação. Suas torres estavam envoltas por uma neblina espessa, e o som distante de corvos cortava o silêncio. A imensidão da porta de ferro do castelo parecia resistir a qualquer tipo de presença, como se ela mesma estivesse sentindo o peso da história que carregava.

Agatha olhou para o frasco que ainda segurava em suas mãos - o sangue de vampiro. O mesmo sangue que havia trazido até aqui, o mesmo sangue que agora tinha um papel crucial na passagem para o que quer que estivesse além daquela porta. Sem palavras, ela deu um passo à frente, e Rio permaneceu atrás, observando cada movimento da bruxa.

- É agora - Agatha murmurou, segurando o frasco com firmeza. Ela sabia o que fazer, mas a tensão no ar era palpável. Seus dedos tremiam ligeiramente enquanto ela abria o frasco e, com um gesto preciso, derramava o sangue de vampiro na entrada do castelo.

O sangue se espalhou pela soleira, como se a porta estivesse sedenta por ele, e então, com um estrondo profundo, a porta se abriu lentamente, revelando um corredor escuro que parecia se estender para dentro das profundezas do castelo. Mas, antes que pudessem avançar, o ar ao redor delas começou a vibrar.

Guardas de armaduras negras, com rostos cobertos por elmos, começaram a emergir das sombras, surgindo de todas as direções. Eles não diziam nada, mas a presença deles era ameaçadora o suficiente para que qualquer um sentisse um calafrio na espinha. Como vultos sombrios, os guardiões cercaram Agatha e Rio, bloqueando o caminho.

Agatha se preparou, seus dedos já começando a traçar formas no ar, preparando feitiços defensivos, mas algo a deteve. Olhou para Rio e viu a mesma expressão resoluta em seus olhos. As palavras de Rio vinham à mente de Agatha, e ela sabia o que vinha a seguir.

Antes que as tensões crescessem ainda mais, Rio se aproximou de Agatha, seus olhos se encontrando com os de Agatha. Por um instante, tudo ao redor delas parecia parar. Não havia palavras necessárias, apenas um entendimento silencioso entre elas. Rio, com uma leveza quase impossível de se capturar, se inclinou e, sem hesitar, beijou Agatha.

O beijo foi longo, profundo, carregado de emoções que nenhum feitiço ou mágica poderia descrever. Um beijo que refletia tudo o que havia entre elas - a dor, o amor, as escolhas feitas, e as que ainda precisavam ser feitas. Agatha sentiu o calor do corpo de Rio contra o seu, sentindo suas mãos se apertarem em seu pescoço com uma força que poderia ser tanto proteção quanto despedida.

Quando o beijo finalmente cessou, Agatha ficou sem ar, seu coração disparado. Elas se afastaram lentamente, os olhos de Agatha ainda fechados, tentando absorver o impacto daquele momento. Quando ela finalmente olhou para Rio, a expressão de sua amada já estava diferente, mais séria, mais carregada de algo que Agatha não sabia definir.

- Agora é com você - Rio disse, sua voz baixa, quase um sussurro. - Não morra, Agatha. Eu não posso te trazer de volta. Eu te encontro do outro lado.

As palavras caíram sobre Agatha como uma lâmina afiada, e, por um breve momento, ela teve a sensação de que estava deixando algo mais para trás do que apenas Rio. Mas ela sabia que essa era a jornada que precisava fazer. Ela não poderia fugir.

Antes que Agatha pudesse responder, Rio se afastou e tomou sua posição, pronta para enfrentar os guardiões que começavam a se mover, cercando-as ainda mais. Com um gesto, Rio invocou sua própria magia, enfrentando os guardiões com uma força que refletia seu amor inabalável e sua devoção àquela mulher que ela amava.

Agatha observou a cena à sua frente com um olhar resoluto. Ela sabia que, para seguir em frente, precisaria fazer o que fosse necessário, independentemente do que acontecesse. Ela não podia perder tempo. O castelo estava esperando por ela, e seu caminho não seria fácil.

Com um último olhar para Rio, Agatha entrou no castelo, seus passos firmes ecoando nas pedras antigas. Ela estava sozinha agora, mas sabia que não estava completamente perdida. Ela tinha a missão, e, mais importante, tinha a memória do beijo de Rio para guiá-la.

- Eu sei que tem alguém aí - Agatha diz, sem paciência, olhando ao redor, sentindo a presença da guardiã sem que ela tivesse aparecido fisicamente.

A guardiã finalmente se revelou, surgindo das sombras com uma presença imponente. Ela olhou diretamente para Agatha com um sorriso enigmático.

- Ah, você percebeu... Como esperado. Eu estava esperando por você, Agatha - ela respondeu, com uma calma assustadora.

Agatha ficou em alerta imediato, seus sentidos aguçados percebendo que essa mulher não era uma simples mortal. Ela tinha magia, poder, algo que Agatha não poderia subestimar. Seus dedos, involuntariamente, se moveram na direção de seus cristais, prontos para ativar algum feitiço, caso fosse necessário.

- O que você quer de mim? - Agatha perguntou, sua voz firme, mas sem deixar transparecer o nervosismo que começava a crescer em seu interior.

A guardiã deu um passo à frente, e sua voz ecoou na sala.

- Não sou eu quem quer algo de você, Agatha. Estou aqui apenas para oferecer o que você tanto deseja. Se você conseguir passar pelos três testes, seu maior desejo será concedido.

Agatha não se moveu, ainda desconfiada. Mas antes que pudesse perguntar mais, a guardiã completou:

- O primeiro teste será... um jogo de xadrez.

Agatha olhou para ela, seus olhos estreitos. Um jogo de xadrez? Ela não acreditava que seria tão simples.

- Xadrez? - Agatha repetiu, a desconfiança evidente em sua voz.

A guardiã apenas sorriu, como se já soubesse o que estava pensando.

- Sim. Um jogo de xadrez

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Sob o véu da morte-AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora