Agatha deu uma risada baixa, sem deixar de ser provocativa. - Que encantador. - Ela esfregou a espuma em seus braços, como se as palavras de Rio fossem um leve incômodo. - Você espera que eu acredite nisso? Depois de tudo que vivemos, ainda me quer aqui, ao seu alcance, só para jogar seu joguinho de poder?
Rio a observou, olhos fixos na silhueta de Agatha. - Eu sei que é difícil acreditar em mim. Mas minha falta de você é a única verdade que conheço agora.
O silêncio se instalou por um momento, e o vapor continuava a subir, preenchendo o espaço com uma densidade quase sufocante. Agatha hesitou, mas seus olhos não deixaram transparecer nada além de desdém. - Não me venha com sentimentalismos, Rio. - Mas havia algo nos olhos de Agatha, um brilho passageiro que traía sua própria armadura.
Rio se aproximou mais, ainda encostada na pia, mas agora mais próxima do boxe. - Não vim aqui para implorar - ela sussurrou, a voz suave, mas carregada de emoção contida. - Mas não vou negar que, mesmo você me desprezando, ainda quero o impossível.
Agatha continuou o banho, mas sua mente estava agora tão cheia de perguntas quanto de desprezo, a tensão entre elas tão viva quanto as faíscas que as cercaram momentos antes.
Agatha terminou o banho, deixando a água escorrer até a última gota, antes de desligar o chuveiro. O vapor se misturava ao ambiente, como se carregasse as palavras não ditas e os sentimentos à flor da pele entre as duas. Com um gesto despreocupado, Agatha puxou uma toalha de linho roxo, envolvendo-a ao redor de seu corpo. O aroma de lavanda no banheiro só intensificava a sensação de intimidade sufocante.
Rio continuava encostada na pia, os braços ainda cruzados, mas seus olhos agora seguiam cada movimento de Agatha, uma mistura de desejo e frustração. - Sempre tão altiva - murmurou Rio, um leve sorriso irônico brincando em seus lábios. - Como se nada pudesse te afetar.
Agatha, ainda segurando a toalha próxima ao peito, se virou, sua expressão altiva e inabalável. - Altivez é a única coisa que restou a mim, querida. - O "querida" soou quase como um veneno doce. Ela deu um passo para mais perto de Rio, o vapor flutuando entre elas. - Você aparece do nada, com essa sua aura de mistério, esperando que eu... o quê? Me derreta com a sua melancolia?
Rio não se moveu, mas seus olhos escureceram, como uma tempestade prestes a desabar. - E por que você não se derrete, Agatha? - provocou, a voz grave. - Porque, mesmo depois de tudo, eu consigo ver nos seus olhos. Vejo que você sente. Que ainda arde por dentro.
Agatha deixou escapar um riso curto, áspero, enquanto passava a toalha pelos cabelos, pingando água no mármore do chão. - Sentir é um luxo que eu não posso mais me permitir. Não depois de tudo que precisei suportar para sobreviver. - Ela deu um passo adiante, agora quase invadindo o espaço de Rio. - Você acha que um toque seu, uma palavra sua, podem apagar os anos de dor da perda e a solidão?
Rio descruzou os braços, a provocação de antes cedendo a uma seriedade que poucos viam nela. - Não quero apagar nada. - Sua voz era rouca, e havia uma urgência ali, um desespero quase contido. - Quero entender, quero provar que mesmo quando estamos destruídas, ainda há algo para recuperar.
Agatha levantou o queixo, os olhos faiscando com uma combinação de raiva e um sentimento que não queria admitir. - Não venha com promessas vazias, Rio. - Sua voz falhou por um instante, mas ela logo se recuperou. - Você já me destruiu uma vez. Não vou dar a chance de fazer isso de novo.
Rio deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre elas. Sua mão se ergueu, mas ela hesitou, os dedos parando a milímetros da pele molhada de Agatha. - Agatha... Eu me arrependo
Agatha sentiu o calor da mão de Rio, mesmo que ela não a tocasse. Seu coração batia mais rápido, mas ela manteve a expressão fria. - Arrependimentos e desejos são frágeis como vidro, Rio. - Ela inclinou a cabeça, os olhos azuis fixos nos de Rio. - Uma simples rachadura e eles se estilhaçam. E eu... já fui quebrada o suficiente.
O silêncio entre as duas era quase palpável, como se o tempo tivesse parado para assistir àquele confronto emocional. Rio finalmente deixou a mão cair ao lado do corpo, a frustração clara em seu rosto. - Eu não vim para lutar com você, Agatha. - Sua voz era suave, mas determinada. - Vim porque, mesmo com todas as minhas falhas, você é a única coisa que ainda me dá esperança.
Agatha sentiu a resistência dentro de si vacilar por um momento. A sinceridade de Rio a desarmava, e isso a irritava profundamente. Mas antes que pudesse responder, o ar ao redor das duas começou a vibrar com energia, e ambas souberam que a magia não estava disposta a esperar. Algo antigo e poderoso se mexia ao redor delas, talvez a própria tensão conjurada por seus sentimentos.
- Se você quer me provar algo, Rio, vai precisar mais do que palavras bonitas. - Agatha se afastou, deixando a toalha deslizar um pouco mais sobre os ombros, revelando a cicatriz que ela carregava no peito, lembrança de um dos muitos confrontos. - Mostre-me que você mudou. Ou me mostre que devo destruí-la de vez.
Rio prendeu a respiração ao ver a cicatriz, seu olhar cheio de arrependimento. - Eu me arrependo, Agatha! - Rio exclamou, a voz carregada de um peso que parecia ter sido guardado por tempo demais. - A escolha de levar Nick não foi minha. - Ela fez uma pausa, os olhos brilhando com uma mistura de sinceridade e frustração. - Estou submetida a regras, ditadas por autoridades superiores. Você realmente acredita que eu não enfrentei questionamentos, tormentos internos, por aquela decisão? Que não tive que encarar as consequências de deixar Nick viver?
Agatha se manteve imóvel por um momento, absorvendo cada palavra de Rio. O vapor ainda se misturava ao ar ao seu redor, tornando o ambiente mais denso, quase sufocante. Ela fixou os olhos em Rio, tentando decifrar se havia verdade naquela confissão ou se era apenas mais uma tentativa de manipulação.
- É possível imaginar o quão difícil foi para mim? - Rio prosseguiu, sua voz agora um sussurro rouco. - Acha que isso não me custou? Que não me despedaçou de formas que você sequer poderia conceber?
O rosto de Agatha permaneceu impassível, mas seu coração acelerou sob o manto de sua frieza. Ela respirou fundo, tentando afastar qualquer vestígio de compaixão. - As escolhas que você fez - respondeu, com um tom afiado como uma lâmina - foram decisões que trouxeram dor e ruína. Não me venha agora com arrependimentos, esperando que eles anulem tudo o que aconteceu.
Rio deu mais um passo à frente, seu olhar fixo, implacável. - Não estou pedindo que me absolva, Agatha. Não espero que perdoe. - Ela estendeu a mão, mas hesitou antes de tocá-la, sua voz tremendo de emoção. - Só quero que entenda... Que, por mais que me veja como a vilã, minha luta também foi real. E, por você, eu teria desafiado o próprio destino.
Agatha sentiu o impacto das palavras de Rio, mas se recusou a ceder. O passado entre elas era feito de feridas abertas, de sentimentos entrelaçados com mágoa. E, no entanto, uma parte de si, por mais que odiasse admitir, ainda era afetada pela presença de Rio.
Ela ergueu o queixo, mantendo o controle com toda a força que possuía. - Então prove, Rio. Mostre que há algo além da destruição que deixou para trás. Porque eu não cairei mais tão facilmente nas suas ilusões.
O silêncio pairou entre elas, denso e carregado, enquanto as duas mulheres permaneciam ali, uma diante da outra, como duas forças que ainda se chocavam, incapazes de se afastar.
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Sob o véu da morte-Agathario
RomansaContinuação da série agathario Aghata desafiou a própria morte e voltou ao mundo dos vivos, desobedecendo as leis que regem o sobrenatural. Rio Vidal, uma bruxa verde original e sua paixão, não consegue levar Aghata de volta ao mundo dos mortos, poi...