015. A casa dos meus sonhos

142 12 10
                                    

Enquanto caminhavam juntas, de mãos dadas, o silêncio entre Agatha e Rio era pesado, carregado de emoções não ditas. As sombras da noite pareciam envolvê-las, mas a presença de Rio ao seu lado trazia uma sensação reconfortante, como se o mundo ao redor perdesse a importância. Agatha, com a mente ainda atordoada pelo confronto com sua mãe, mantinha-se em silêncio absoluto, permitindo que os passos das duas ecoassem suavemente no caminho.

Foi Rio quem quebrou o silêncio, sua voz suave, mas carregada de uma sinceridade que Agatha não podia ignorar.

- Eu sei o que está passando pela sua cabeça - Rio disse, apertando levemente a mão de Agatha. - Mas você não precisa carregar isso sozinha. Nunca mais.

Agatha olhou para a mão de Rio sobre a sua, o contato das duas transmitindo uma força silenciosa, uma promessa. Ela sabia que Rio a entendia, de alguma forma, sabia que ela não precisaria explicar as feridas do passado para que fosse compreendida. Mesmo assim, a dor ainda estava ali, oculta por trás de seu olhar distante.

- Eu sei - Agatha respondeu com um suspiro, a voz baixa, quase inaudível. - Mas às vezes é difícil acreditar que posso deixar tudo para trás. Que posso simplesmente seguir em frente.

Rio parou por um momento, virando-se para Agatha e segurando seu rosto com ambas as mãos, fazendo com que seus olhares se encontrassem. Agatha sentiu o calor daquelas mãos, o toque reconfortante que parecia aliviar um pouco da tempestade interna que estava prestes a desabar.

- Você não precisa seguir sozinha, Agatha. Eu estou aqui para te apoiar, para te ajudar a encontrar o caminho que você precisa percorrer. E vou estar ao seu lado, em cada passo.

Agatha fechou os olhos por um breve momento, permitindo que aquelas palavras se ancorassem em sua alma. Era tudo o que ela precisava ouvir. O peso de sua mãe, do passado, e da batalha interna que enfrentava, parecia um pouco mais leve ao lado de Rio. Quando abriu os olhos novamente, olhou para a mulher à sua frente, sentindo a verdade nas palavras dela.

- Eu sei que você está aqui para mim, Rio. - Agatha disse, com mais confiança em sua voz. - E talvez, pela primeira vez, eu consiga acreditar que podemos seguir em frente juntas.

Rio sorriu suavemente, um sorriso que parecia iluminar a escuridão ao redor delas. E juntas, de mãos dadas, elas continuaram a caminhar, sem pressa, como se o tempo não fosse um inimigo, mas um aliado.

Ao longe, Agatha e Rio avistam a casa. Era uma construção imponente, com a fachada marcada pelo tempo e pelo desgaste, mas com uma energia única que parecia se conectar com algo dentro delas. O caminho havia se desviado para ali, como se a casa estivesse esperando por elas.

Rio, sempre observadora, franziu a testa, refletindo sobre o significado daquele lugar. Olhou para Agatha, sua voz carregada de curiosidade:

- Que casa é essa? O caminho só traz aquilo que já foi visto, pensado, ou vivido. Você já esteve aqui antes?

Agatha permaneceu em silêncio por um momento, sem olhar para Rio, mas sentindo a presença dela ao seu lado. Seus pensamentos estavam longe, naquilo que aquela casa representava, mas ela não respondeu, como se ainda estivesse decidindo o que falar. Elas se aproximaram mais, os passos ecoando suavemente na noite.

Quando chegaram na porta da casa, Agatha finalmente quebrou o silêncio com um suspiro, um sorriso pequeno nos lábios.

- É do jeito que eu sempre quis - ela disse, a voz profunda, carregada de uma satisfação silenciosa.

Rio observou Agatha com atenção. Seus olhos brilhavam com uma intensidade rara, como se cada detalhe daquela casa a envolvesse de uma maneira profunda e misteriosa. Algo ali ressoava com Agatha, e Rio podia ver isso claramente. Mas a dúvida ainda pairava sobre ela. Com um olhar curioso, Rio se aproximou um pouco mais e perguntou:

- Que casa é essa, Agatha?

Agatha sorriu de maneira enigmática e, com passos lentos, foi se aproximando de Rio. Seus corpos estavam cada vez mais próximos até que ficaram frente a frente, com as bocas quase se tocando. O olhar de Agatha, cheio de intensidade e desejo, encontrou o de Rio.

- A casa dos meus sonhos - Agatha sussurrou, antes de morder suavemente os lábios de Rio, como se desafiasse os limites da paciência de ambas.

Sem dizer mais nada, Agatha se afastou e entrou na casa, o movimento fluido e decidido. Rio, ainda absorvendo a cena, a seguiu para dentro. A casa estava silenciosa, mas com uma energia peculiar, uma sensação de que ali tudo podia acontecer, e talvez, já tivesse acontecido antes.

Agatha caminhou por dentro da casa, passando por diferentes portas e quartos. Ela encontrou o quarto de Nick, simples e sem adornos, seguido pelos quartos de hóspedes, espaços que pareciam mais improvisados do que realmente acolhedores. Mas então, ela parou diante de uma porta maior, que levava a um quarto mais elaborado. O quarto onde ela e Rio, quem sabe, poderiam ficar.

Agatha olhou para Rio, a expressão no rosto dela misturando desejo e algo mais profundo, talvez uma reflexão silenciosa sobre o que estava prestes a acontecer.

- Uma pena ser só uma ilusão - Agatha murmurou, a tristeza permeando sua voz. Mas Rio não parecia concordar. Ela deu um passo à frente, aproximando-se de Agatha, com um olhar decidido e suave ao mesmo tempo.

- Não precisa ser - Rio disse, a confiança em sua voz clara. - Podemos ter tudo o que quisermos. A casa, a vida... tudo.

Antes que Agatha pudesse responder, um som inesperado cortou o ar. Uma voz doce, quase infantil, chamou por ela, reverberando pela casa como um eco.

- Mamãe... Mãe

Ambas se viraram, surpresas pela chamada, sem saber de onde viera. O que significava aquela voz? Quem estava ali? Agatha sentiu uma sensação estranha, como se algo ou alguém a estivesse puxando de volta para um passado distante, e a inquietação tomou conta dela.

Sob o véu da morte-AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora