Capítulo 19 - A Tempestade Final
A calmaria antes da tempestade é sempre a mais traiçoeira. Eu sabia que o que estávamos vivendo não era apenas um campo de batalha emocional, mas sim um teste de sobrevivência. Clara não era apenas uma esposa despeitada tentando salvar seu casamento; ela era uma mulher disposta a destruir tudo para garantir que o que ela tinha — ou o que achava que tinha — não fosse roubado debaixo do seu nariz. E no meio disso tudo, estávamos nós: Daniel e eu. Um romance proibido, uma relação recheada de promessas quebradas e, agora, um caminho sem volta.
Os dias que se seguiram à nossa exposição foram um verdadeiro campo minado. A pressão aumentava a cada hora, e a guerra não era apenas entre Clara e Daniel, mas entre os próprios funcionários da empresa, entre os amigos de ambos, e até mesmo dentro de mim. Eu me sentia à beira de um colapso, incapaz de decidir se deveria continuar ao lado de Daniel ou se eu estava apenas sendo arrastada para um abismo do qual não conseguiria escapar.
Foi em uma manhã cinza e abafada que tudo finalmente estourou. Eu estava no meu escritório, revisando alguns relatórios, quando ouvi uma batida forte na porta. Antes de eu responder, ela se abriu abruptamente, e Clara entrou, com um olhar de fúria e olhos injetados de raiva. Eu a vi pela primeira vez não como a esposa traída, mas como a inimiga implacável que, até aquele momento, eu não soubera que ela era.
"Você está se achando demais, não é, Isabel?" Clara disse, sua voz cortante como uma lâmina. "Agora todo mundo sabe do seu lugar na minha vida. Você e Daniel... acham que podem fazer o que bem entenderem e não enfrentar as consequências?"
Ela estava fora de si, mas eu também estava. Eu sabia que esse momento era inevitável. Sabia que uma confrontação entre nós duas seria o ponto sem volta, o último ato de uma peça em que os dois lados finalmente se revelariam. Mas, ao invés de me esconder, de recuar, algo dentro de mim, uma chama que eu não sabia que tinha, acendeu.
"Eu não estou fazendo nada de errado, Clara," eu disse, minha voz surpreendentemente calma. "Eu não sou a culpada por ele ter se apaixonado por mim."
Ela deu um passo para frente, fechando a distância entre nós, e eu senti a pressão de seu olhar sobre mim. "Você não é a culpada, não? Então me diga, Isabel, por que você se permite ser o centro disso? Você acha que ele vai largar tudo por você? Você acha que ele vai colocar a sua felicidade à frente da minha? Porque eu vou fazer de tudo para que isso não aconteça."
Eu respirei fundo, sentindo meu coração bater mais rápido. Eu sabia que essa conversa não seria sobre convencer Clara ou a mim mesma de alguma verdade. Era sobre sobrevivência, sobre quem sairia vitorioso dessa batalha psicológica. Eu, ou ela.
"Eu não sei o que ele vai fazer. Não sei o que vai acontecer com nós dois, Clara. Mas eu sei que não estou mais disposta a viver com medo do que você pode fazer. Você não pode mais controlar nada. Não importa o que você tente, não vai mudar o que existe entre mim e Daniel."
Ela riu, mas não era uma risada de alívio ou diversão. Era uma risada de desprezo, uma risada que mostrava o quanto ela estava disposta a ir longe para destruir qualquer coisa que fosse um obstáculo para ela. Ela se aproximou mais, seus olhos agora cheios de ódio.
"Você realmente acha que está segura, Isabel? Que essa história vai terminar bem para você? Eu tenho muito mais poder do que você pode imaginar. E Daniel... ele vai se arrepender. Eu vou garantir que ele se arrependa de tudo."
Antes que eu pudesse responder, a porta do escritório se abriu novamente, e Daniel entrou, seus olhos passando rapidamente de Clara para mim. Ele parecia diferente agora, mais cansado, mais fragilizado pela batalha. A sua expressão dizia que ele estava lidando com o peso da decisão que havia tomado, mas não parecia que ele tinha um plano claro de como lidar com as consequências.
"Clara, o que você está fazendo aqui?" Daniel perguntou, sua voz tensa. Ele olhou para mim e então para a mulher à sua frente, sentindo a tensão no ar. Eu sabia que ele estava tentando manter o controle, mas a situação estava se tornando cada vez mais insustentável.
Clara não o deixou falar. "Daniel, eu já avisei. Isso vai acabar com você. Você me traiu, e agora você vai pagar o preço por isso. Você acha que vai me substituir por ela?" Ela apontou para mim, sua voz já quase imperceptível de tanta raiva. "Você vai perder tudo, Daniel. E você vai ver que ela não vale o preço que você está pagando."
Daniel olhou para ela, e por um momento, parecia que ele estava absorvendo as palavras dela, como se, por um breve segundo, ele fosse realmente considerar o que estava em jogo. Mas, então, algo mudou em seu olhar. Ele se virou para mim, e naquelas trocas de olhares, uma compreensão mútua se formou. Ele sabia o que precisava fazer. E ele estava decidido a não recuar.
"Clara, basta," Daniel disse, com uma firmeza que fez o ambiente gelar. "Eu não vou mais ouvir isso. Eu não vou me justificar. E você, Isabel, está comigo, até onde isso nos levar. Não importa o que aconteça. Eu sou responsável por essa situação, e agora é hora de lidar com as consequências. E eu vou cuidar disso, de você, do que vier. Não importa o que aconteça. Eu vou lutar por isso."
Clara olhou para nós dois, como se estivesse absorvendo o peso daquilo, como se soubesse que perdera, pelo menos naquela batalha. Ela virou-se rapidamente, seus passos ressoando no corredor como uma promessa de que ainda viria a tempestade. Mas agora, o que havia entre nós era mais forte do que qualquer ameaça que ela pudesse fazer.
Eu olhei para Daniel, meu coração batendo forte. Ele estava ali, ao meu lado, e, naquele momento, senti que a batalha estava longe de terminar. Mas, ao menos, por um breve momento, nós dois éramos imbatíveis.
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Doce Tentação
RomanceIsabel, uma jovem de 21 anos que tenta se encontrar em meio às dificuldades da vida, vê sua rotina virar de cabeça para baixo ao aceitar um emprego em uma empresa renomada. A oportunidade surge através de uma amiga, quando Isabel está no fundo do po...