Doce Tentação

O preço da liberdade

Capítulo 20 - O Preço da Liberdade

Os dias após o confronto com Clara foram uma mistura de alívio e expectativa. Como que em uma espécie de calma pós-tempestade, finalmente começávamos a ver o que nossa decisão causaria. Mas, ao mesmo tempo, sabia que a verdadeira tempestade ainda estava por vir. O que parecia ser um passo em direção à liberdade para Daniel e para mim estava apenas começando a se revelar como o preço que teríamos que pagar. A empresa estava à beira do caos, e os sussurros nos corredores se tornaram murmúrios implacáveis. Ninguém estava realmente confortável com a nossa relação sendo exposta. Mas o que ninguém sabia, o que eu só estava começando a entender, era que nem a maior tempestade poderia destruir algo que já estava tão profundamente enraizado entre nós.

Eu ainda estava me recuperando da troca de palavras com Clara. Ver aquela raiva tão pura, tão implacável, me fez perceber o quanto nossa situação estava longe de ser resolvida. Eu não sabia o que ela faria a seguir, mas uma coisa estava clara: Clara não era uma mulher que se entregaria tão facilmente. Ela perdera a batalha direta, mas essa guerra ainda não estava ganha. Enquanto Daniel e eu tentávamos seguir em frente, ela começaria a usar todos os recursos à sua disposição para virar o jogo novamente.

Na manhã seguinte, quando entrei na empresa, uma sensação de desconforto tomou conta de mim. As pessoas olhavam de relance, cochichavam em grupos pequenos, mas ninguém se atrevia a falar abertamente. O silêncio que antes pairava no ar havia se tornado mais denso, como se todos esperassem algo grande acontecer.

Daniel estava em seu escritório, como sempre, mas o ambiente ao redor dele estava diferente. Eu sabia que ele não estava apenas lidando com a reação da mídia, mas com algo mais — algo mais pessoal. Ele estava arriscando sua própria posição na empresa. Ele sabia disso. Todos nós sabíamos que o risco que ele corria não era apenas emocional. Era profissional, financeiro, e, em última instância, tudo o que ele tinha construído poderia ser destruído pela decisão que tomara.

Entrei no escritório dele sem avisar, sentindo uma estranha necessidade de estar perto dele. Quando ele me viu, a expressão em seu rosto suavizou, mas logo a preocupação voltou a dominá-lo.

“Você não devia estar aqui, Isabel,” Daniel disse, levantando-se de sua cadeira. “Eu não sei se isso vai ser o suficiente. As reações de todos... as implicações... eu não posso proteger você para sempre.”

Ele estava lutando com seus próprios medos, seus próprios demônios. E eu sabia disso. O que tínhamos estava mais forte do que qualquer coisa que poderia nos separar, mas a batalha com o mundo externo era imensa. Ele não queria me envolver ainda mais. E, de certa forma, eu não queria ser apenas a "amante" que ele protegia. Eu queria ser sua parceira. E isso significava estar ao seu lado em qualquer luta, não apenas ser um refúgio nas horas difíceis.

“Eu não tenho medo, Daniel,” eu disse, indo até ele, o olhar firme. “E você não está sozinho nisso. Não está. Isso é nosso. E, se temos que pagar o preço, então vamos pagar juntos. Eu não estou indo a lugar algum.”

Ele me observou, como se estivesse pesando minhas palavras, e então, sem dizer uma palavra, se aproximou e me envolveu em seus braços. O gesto, silencioso, mas carregado de tudo o que não conseguimos expressar, me fez sentir mais conectada a ele do que nunca. Ele estava tentando me proteger, tentando me poupar da dor que ele sabia que viria, mas eu já não era a garota assustada que entrara naquele escritório pela primeira vez. Eu sabia o que eu queria, e queria isso com ele, mesmo que o mundo inteiro nos julgasse.

“Eu te amo, Isabel,” ele sussurrou, a voz baixa, como se quisesse que as palavras saíssem de sua boca sem que ele precisasse pensar nelas. “Eu não me arrependo de nada. Mas sei que isso pode nos destruir. Pode destruir tudo.”

Eu sorri, e mesmo sabendo que ele falava a verdade, eu ainda estava ali, sem medo, disposta a enfrentar qualquer tempestade ao seu lado.

“Então vamos reconstruir tudo, juntos. E, se for para cair, vamos cair de cabeça erguida. Eu vou estar com você, não importa o que aconteça.”

O silêncio se instalou entre nós dois, mas, ao contrário do que eu imaginava, não era desconfortável. Era um silêncio de entendimento, de cumplicidade, de uma força compartilhada.

No entanto, o preço de nossa liberdade não seria pago apenas pelos dois. Ao longo das semanas que se seguiram, a realidade das consequências veio à tona. A mídia estava implacável, e as notícias sobre o casamento fracassado de Daniel e sua relação com a "funcionária" se espalharam, como uma praga, por todos os setores. A empresa enfrentou quedas significativas, e os aliados de Daniel começaram a questionar sua liderança. Ele sabia que havia feito uma escolha, mas também sabia que ela poderia custar tudo. As reuniões com os executivos tornaram-se mais tensas, e a pressão aumentava a cada decisão que ele tomava.

Mas, como eu sabia, Daniel nunca foi alguém que recuava. Ele estava ali, diante de todos, lutando por seu império e, mais importante, por nós dois. E, em certo momento, ele finalmente teve que fazer uma escolha — uma última escolha. Ele se levantou, com o semblante sério, e fez uma declaração para todos os executivos da empresa.

“Eu sei que o que estou prestes a dizer não vai ser popular,” Daniel começou, sua voz firme. “Mas a minha decisão está tomada. Eu não vou me desculpar pelo que senti, nem pelo que construí. A empresa, para mim, não é apenas um trabalho. Eu lutei por ela, mas se isso significar que vou perder tudo para ser feliz ao lado de quem eu amo, então será isso. Eu estou pronto para as consequências.”

E, quando ele terminou, ficou claro para todos ali o preço que ele estava disposto a pagar. Ele sabia que perderia sua posição, mas, em vez de desistir, ele olhou para o futuro e para o que realmente importava.

E, ao final, quando o mundo estava desmoronando ao redor de nós, eu sabia que, ao lado de Daniel, nós conseguiríamos encontrar um novo caminho. Não importava o quanto o mundo tentasse nos destruir, nós éramos mais fortes do que isso. O amor, a paixão, a coragem — tudo o que tínhamos construído juntos era a nossa verdadeira liberdade. E, juntos, enfrentamos o que quer que fosse necessário para fazer isso sobreviver.