Sombra e Luz: O Destino de Elenwen

A Batalha Interior

3420 Palavras

Os primeiros raios do amanhecer já brilhavam nas janelas do palácio, a noite foi longa e sombria. O rei Thranduil estava parado na sala da enfermaria iluminada apenas pela luz das velas, as palavras de Nimloth ecoando em sua mente como um golpe seco, — "A nossa menina está muito mal Thranduil, eu odeio pronunciar essas palavras, mas essas próximas horas serão decisivas e estou fazendo tudo o que posso".

A condição de Elenwen era grave demais para ser ignorada. Sua alma era mais sensível do que a dos outros elfos, graças a sua ligação íntima com as energias da natureza, e a poção proibida que ela mesma escolhera tomar estava consumindo seu espírito, ela estava se apagando quase que completamente. Não se tratava apenas de um estado de esquecimento ou confusão mental, o que restava de seu espírito no corpo era apenas uma pequena parte, que a qualquer momento desapareceria. Se os efeitos da poção não forem barrados, ela irá morrer.

A meia-elfa, antes tão cheia de vida e força de vontade, agora estava deitada imóvel no leito da enfermaria, pálida, quase sem vida. Seus cabelos que sempre foram escuros como a noite agora mostravam uma longa mecha branca, isso era a representação de sua perda, o símbolo da morte de seu espírito e força vital.

Nimloth, com uma expressão séria, explicou: —"Ela está desvanecendo, meu rei. Sem ajuda, ela se perderá para sempre. Precisamos de alguém que possua uma força muito maior que a minha para impedir isso. Por isso estou tentando contatar meu mentor."

Thranduil fechou os olhos, uma dor intensa atravessando seu peito. Elenwen era a sua filha, desde o dia em que a pegou em seus braços nos destroços da aldeia de seus pais; tão pequena, tão frágil, alguém que ele jamais imaginou ver morrer assim, tão precocemente. Se sentia impotente, não conseguiu protegê-la, esta prestes a perder outra pessoa que ama por não perceber as coisas a tempo. Ele não soube identificar a força do sofrimento que ela estava passando pelo amor não correspondido. Nesse momento sentia-se o pior dos tolos, como pode conviver com ela todos os dias e não notar a profundidade dos sentimentos dela por Legolas? Ele imaginou que ela sentia uma certa paixão juvenil por ele, isso se mostrava claro recentemente. Mas amor?! Ele não conseguiu compreendê-la da forma correta e imaginou que Legolas também não.

Contudo, outra preocupação rondava a sua mente. Recebeu a poucas horas a mensagem urgente de Legolas: Smaug, o dragão, estava se aproximando das Terras do Lago, e sem a ajuda dos elfos, o massacre seria inevitável. Os homens das terras dos lagos eram antigos aliados do reino de Mirkwood, e passaram por terrores inimagináveis desde que Smaug tomou as montanhas. Os elfos da Floresta tinham força para auxiliá-los e seria uma crueldade sem sentido ignorar esse pedido, ainda mais porque era Legolas que estava lá na zona de batalha, sem reforços.

Por questões diplomáticas e para possibilitar a eficiência da missão, Thranduil precisaria ir liderando seu exercício, mas como poderia sair do reino e deixar Elenwen para trás assim? Com a vida por um fio? Pensava tristemente enquanto acariciava os cabelos da meia elfa que estava deitada na cama.

Um peso imenso se formou sobre os ombros de Thranduil. Ele havia perdido sua esposa, e agora a jovem Elenwen, que se tornara uma figura quase filial para ele, estava à beira da morte. Mas a vida de uma aldeia inteira também estava em jogo. O que ele escolheria?

Nimloth percebeu que o rei lutava contra seus deveres, sabia que a missão só seria bem sucedida se ele fosse até as montanhas de ferro, entendia muito bem de diplomacia e do orgulho dos anões para entender que a ausência de Thranduil geraria desconfiança e ofenderia os outros governantes envolvidos. Era questão de dever e honra. Assim, ao receber de uma águia a resposta de seu mentor garantindo que já estava a caminho, ela tinha fé de que conseguiriam salvar Elenwen, por isso, tentou convencer o rei a confiar nos planos dela.