2944 Palavras
No amanhecer pálido que começava a desvelar Mirkwood, Elenwen acordou com um sobressalto. O pesadelo ainda pulsava em sua mente, uma lembrança insistente da escuridão que parecia querer engoli-la. Sua pele estava fria, coberta de suor, e seu coração ainda batia violentamente contra o peito, como se quisesse escapar. Fazia poucos dias desde que retornara do efeito da Poção, no início ela não se recordava de muita coisa do que viveu no período em que estava inconsciente, porém as lembranças da sombra de olhos de fogo começaram a perturbá-la aos poucos, todos os dias. A sensação de que uma parte dela fora deixada nas garras de Sauron continuava a atormentá-la.
Ela se levantou devagar, ainda sentindo a cabeça pesada, e olhou ao redor. Não se lembrava como adormeceu ali, no quarto de recuperação da enfermaria real. Os aposentos ofereciam uma vista serena das colinas e da floresta ao redor do reino dos elfos do norte, tudo estava calmo, a paz e a beleza naquela paisagem pareciam estar alheias ao seu estado de espírito atual, desde que acordou dos efeitos da poção da felicidade vinha se sentindo mais confusa e mais instável, por que ela teria feito algo tão estupido? Indagava-se enquanto se olhava no espelho do quarto ao lado da janela, havia emagrecido bastante, mas graças a magia de Nimloth não parecia alguém que estava a dias sem dormir direito. Mas uma mudança era perceptível, a longa mecha branca que enfeitava seus cabelos negros estava ali para recordá-la de que tudo foi real.
Foi nesse instante que percebeu um par de olhos atentos observando-a. Encostado no batente da porta, Legolas a observava em silêncio, seus olhos azuis fixos nela, intensos e preocupados. Ele nada disse. Apenas manteve-se ali, como se soubesse que ela poderia precisar de sua presença mais do que de palavras. Ao perceber que ela o encarava, ele saiu de seus devaneios e lhe deu um breve sorriso educado.
Por um longo momento, os olhares se encontraram, e Elenwen sentiu o coração se acalmar, mesmo que apenas por um segundo. Ela não entendia por quê, mas a presença de Legolas trazia-lhe uma espécie de conforto, algo que ela não conseguia explicar. Talvez fosse porque ele a conhecia de uma forma que ninguém mais conhecia, talvez fosse porque ele também entendia de certa forma a escuridão que ela enfrentava, tendo ele mesmo encarado essa força em diversas batalhas. Ela retribuiu o sorriso.
Legolas tem sido uma figura fundamental para a sua readaptação à rotina no reino, já que a memória dela insistia em deixá-la na mão em diversas ocasiões. Porém, Elenwen ainda se sentia mal por não recordar nada a respeito dele, percebia que ele se esforçava para ficar ao lado dela com um certo cuidado, o que só a deixava mais culpada por essa situação.
Legolas deu um passo à frente, hesitando apenas um segundo antes de quebrar finalmente o silêncio.
— Elenwen, você está bem? — Sua voz era suave e cuidadosa, carregando um peso que refletia a preocupação que ele sentia.
Elenwen desviou o olhar, os dedos brincando nervosamente com os fios de sua túnica. Ela queria responder, queria lhe dizer que estava bem, que tudo não passava de um pesadelo... mas a verdade era que ela não estava bem. Nada estava bem. Desde que retornara, havia algo dentro dela que a perturbava, uma sensação de vazio misturada com um medo incontrolável. Ela fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas eles voltavam, implacáveis, como sombras que se recusavam a desaparecer.
— Eu... não sei — respondeu finalmente, a voz vacilante. — Sinto como se parte de mim estivesse desaparecendo, como se tudo o que aconteceu enquanto eu estava quase morta me mudou de alguma forma.
Ela levantou o olhar, encontrando os olhos de Legolas. Ele a observava com uma intensidade que quase a fazia recuar, como se pudesse ver através dela, como se conhecesse seus medos mais profundos.
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Sombra e Luz: O Destino de Elenwen
FanficAviso: Os direitos do universo e de alguns personagens são de propriedade das obras de J.R.R. Tolkien. Esta história é uma vertente não cânon do universo, criada por uma fã. ATUALIZAÇÃO SEMANAL! Qual a verdadeira linha entre o bem e o mal? E até ond...