Four

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Os dias se passaram e, apesar de todo o esforço de Rafe para se aproximar de Alyssa, ela ainda não cedia. Ele sabia que tinha se afastado, jogado tudo fora na primeira vez que a rejeitou, mas agora ele estava tentando fazer tudo certo. Não era mais sobre ele, não era mais sobre o que ele queria. Era sobre ela e o bebê. E, mesmo que Alyssa não demonstrasse, ele sentia que ela estava começando a perceber isso.

Rafe não ia embora. Ele não queria se afastar, nem por um segundo. Mesmo com a resistência dela, ele voltava todos os dias. Comprava comida, remédios, e até mesmo coisas simples para ela. Não falava muito, mas fazia questão de agir. Quando estava ali, ela não precisava se preocupar com nada. Ele não iria deixar que ela tivesse dificuldades para se cuidar, mesmo que ela não o quisesse por perto.

Uma tarde, ele foi até o mercado e comprou tudo o que achava que ela poderia precisar: um estoque de sopas, chá de gengibre para os enjoos, uma variedade de frutas, biscoitos e tudo o que ele conhecia de sua dieta. Também levou algumas coisas para ajudar com os sintomas de gravidez: cremes para a pele, óleos para os enjoos, e até alguns itens básicos de cozinha, já que ele sabia que ela não estava muito disposta a cozinhar.

Ele fez tudo com um único propósito: mostrar a ela que não ia embora, que ele não estava ali apenas para preencher um vazio, mas para ser parte da vida dela e da criança. Não adiantava mais apenas palavras vazias.

Ao chegar na casa dela, Rafe entrou como se já soubesse o caminho. Colocou as sacolas na mesa e logo se dirigiu à cozinha. Ele sabia que ela ainda estava irritada, mas não deixava que isso o afetasse. A cada dia que passava, ele sentia que estava mais perto de conseguir que ela o visse de outra forma. Ele não queria mais parecer o cara problemático de antes, mas alguém em quem ela poderia confiar.

Alyssa estava deitada no sofá quando ele entrou, com o rosto cansado e os olhos fechados, tentando relaxar. Ela sentiu a presença dele antes mesmo de olhar para ele. Sabia que ele estava ali, e, como sempre, não estava disposta a dar-lhe a satisfação de olhar.

— Trouxe umas coisas pra você — disse Rafe, tentando parecer casual. Mas sua voz estava tingida com um tom de preocupação que ele não conseguia esconder.

Ela não respondeu de imediato. Continuou deitada, com um olhar fixo no vazio, sem demonstrar interesse nas coisas que ele trouxera. Ela estava com raiva, não queria ser grata, e muito menos parecia disposta a aceitar qualquer tipo de ajuda. Mas, mesmo assim, ele persistia.

Rafe não se importou com a indiferença dela. Abriu a geladeira e começou a arrumar as compras. Sua mente estava em outra parte. Ele pensava nela, pensava no bebê, e pensava no futuro. Mesmo sem ela querer, ele sabia que estava ali para ficar. Ele não a deixaria em paz até que ela visse que ele podia ser algo que ela precisava, mesmo que ela ainda não quisesse aceitar.

Na manhã seguinte, Alyssa estava preparando o café da manhã, quando sentiu um enjoo repentino. Ela colocou a mão na boca, mas não conseguiu segurar. Sentiu que o estômago virava e, antes que pudesse se controlar, o vômito saiu de sua boca. Ela mal teve tempo de reagir, mas então sentiu uma mão em seu ombro. Era Rafe, que havia entrado silenciosamente, provavelmente ouvindo o barulho.

Sem um pingo de hesitação, ele foi até ela e segurou seu cabelo, afastando-o de seu rosto. Alyssa estava ainda tonta, tentando se recompor, mas ele já estava ali, ajudando sem fazer nenhuma pergunta, sem reclamar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Fica tranquila — disse Rafe, com a voz suave e firme, mas sem demonstrar nenhuma impaciência. — Vai passar.

Alyssa, entre tosses e o rosto vermelho, olhou para ele com um misto de surpresa e desgosto. Ela não esperava que ele estivesse tão perto, tão... atento, mesmo com tudo o que havia acontecido entre eles. Ela sabia que ele não estava fazendo isso por ela, mas por algo maior: por aquela criança, e talvez, por algo mais que ele ainda não sabia como expressar.

Quando ela finalmente se recompôs, ele pegou um pano limpo e ajudou a limpar o rosto dela, sem que ela dissesse uma palavra. Ela queria protestar, mandar ele sair, mas não conseguiu. A sensação de vulnerabilidade que ele estava tirando dela era algo que ela não sabia como lidar. Ele não estava ali por ela, mas por algo muito maior, algo que ela não sabia se deveria aceitar ou não.

Alyssa se afastou dele, indo até a pia para lavar as mãos. Ela sentia a raiva e a frustração se misturando dentro de si, mas também algo mais — algo que ela não queria admitir.

— Eu não pedi sua ajuda, Rafe — ela disse, com a voz mais baixa, mas ainda com um tom de resistência. — Não precisa fazer isso.

Ele não respondeu de imediato. Ficou parado atrás dela, os olhos fixos nela, como se estivesse tentando entender o que ela queria dizer. Ele sabia que não podia fazer isso por ela, não podia ser o herói agora. Mas ele não podia deixar de tentar.

— Eu sei que você não pediu, Alyssa. Mas eu não vou te deixar sozinha. Não vou te deixar com o bebê sozinha.

Alyssa se virou para ele, seu rosto ainda tenso, seus olhos ferozes. Mas havia algo na forma como ele disse aquilo, algo que a fez parar. Algo que a fez perceber que ele estava falando a verdade. Ela não queria admitir, mas ele estava ali, e ele não ia sair.

— Eu não preciso de você, Rafe. Eu consigo me virar — disse ela, ainda teimosa.

Mas Rafe não estava convencido. Ele deu um passo mais perto dela, seu olhar fixo no rosto dela, buscando uma reação.

— Você não precisa de mim, mas o bebê precisa — respondeu ele, com firmeza, antes de dar mais um passo em direção a ela. — E eu não vou ir embora. Não importa o quanto você me empurre para longe, eu vou ficar. Para você, para o bebê, para o que for necessário.

Alyssa engoliu em seco, olhando para ele, as palavras presas na garganta. Ela não sabia o que fazer com aquele homem que, aparentemente, não ia desistir. Mas o que mais ela poderia fazer?

— Vamos ver — ela sussurrou, a voz trêmula. — Vamos ver se você é mesmo capaz de ficar.

Rafe a observou em silêncio, antes de dar um último suspiro. Ele sabia que tinha muito a provar, mas não ia parar até mostrar que ele estava disposto a ser o que ela e o bebê precisavam.

our little world - rafe cameron Onde histórias criam vida. Descubra agora