Aquele parecia ser um dia incomum, pois coisas anormais estavam acontecendo.
Normalmente Hakkai era o único que ia todos os dias à cozinha para tomar café da manhã, às vezes Takemichi comparecia, mas nunca era algo regular. Todavia todos os visitantes tinham comparecido à cozinha naquela manhã.
Era estranho, pois Hakkai nunca tinha visto Chifuyu desde o dia em que chegaram. Já tinha chegado a pensar que algo havia acontecido com ele, mas felizmente ele parecia estar bem.
Além disso, Mitsuya, que sempre estava consigo durante a refeição, tinha saído assim que Hakkai chegou. Segundo ele, Naoto havia chegado naquela manhã e eles precisavam se reunir.
Tinham muitas coisas estranhas acontecendo e o Shiba esperava que nada catastrófico fosse acontecer no decorrer do dia.
— Será que o Mitsuya não vai vir hoje? – Takemichi perguntou em um tom baixo, quebrando o silêncio mórbido que havia se instalado na mesa.
Todos estavam comendo concentrados em seus próprios pensamentos, perdidos em seus mundos, por isso a mesa tinha caído em um silêncio desconfortável desde o momento em que haviam se sentados.
— Parece que o Naoto chegou durante a madrugada e eles tiveram que se reunir. – Hakkai respondeu a pergunta acanhado. Tinha se acostumado a conversar com Mitsuya, dando respostas curtas, mas ainda era estranho conversar com alguém que não fosse ele.
O Hanagaki concordou com a cabeça voltando ao silêncio de antes. Dava para ver que Chifuyu e Manjiro tinham se atentado à resposta do Shiba, mas continuaram em silêncio com a cabeça baixa.
Como não estava com vontade de conversar ou ao menos se sentia confortável para isso, Hakkai também ficou quieto. Estava mais interessado em terminar de comer para poder ir ao jardim, no seu canto seguro.
Alguns minutos depois, todos já tinham terminado o café da manhã, mas por algum motivo continuavam sentados. Pareciam estar esperando que alguém desse o primeiro passo, mas que não estavam dispostos a dar esse primeiro movimento.
Todavia esse momento de tensão foi interrompido pela chegada de Mitsuya a cozinha. Ele estava animado com alguma coisa e estava sozinho, mas ao perceber que todos os quatro ainda permaneciam na cozinha, ele se surpreendeu.
— Não esperava que todo mundo resolvesse visitar a minha cozinha hoje. – Mitsuya brincou com um sorriso no rosto, deixando a surpresa de lado e assumindo um semblante mais acolhedor. — É bom ver vocês reunidos aqui.
Mitsuya não recebeu uma resposta, ele já esperava por isso. Sem se importar com o silêncio, o arroxeado se sentou em uma cadeira ao lado de Manjiro, vendo o rapaz ficar tenso com a proximidade.
Tinha tido uma melhora na relação com Hakkai, mas parecia que isso não se enquadrava para os outros.
— O Naoto trouxe alguns presentes para vocês, ele chegou durante a madrugada. – comentou olhando diretamente para Hakkai, afinal precisava entregar o presente para dele antes que elas murchassem por estarem abafadas. — Fiquei encarregado de entregar o seu Hakkai, quer ir buscar comigo? – questionou de um jeito gentil, não querendo que os quatro achassem que eram presentes ruins.
Hakkai olhou em volta, demorando seu olhar nos presentes na mesa. Mitsuya ainda tinha um sorriso gentil. Manjiro parecia pensativo e preocupado. Chifuyu parecia indiferente com tudo o que Mitsuya dizia. E Takemichi parecia com os pensamentos distantes, não parecia ter prestado atenção ao que o outro dissera.
Ainda que estivesse ocioso sobre o que poderia vir, Hakkai concordou com a cabeça. Estava convivendo com Mitsuya diariamente e ele não havia lhe mostrado nada além de gentileza, carinho e cuidado. Mesmo com medo, daria um voto de confiança.
— Alguém além do Hakkai quer ir comigo? – Mitsuya perguntou voltando seu olhar aos outros, não custava tentar interagir com eles.
Takemichi e Manjiro continuaram perdidos em pensamentos, possivelmente não tinham escutado o questionamento de Mitsuya. Chifuyu, por outro lado, olhou para Mitsuya com interesse, mas não se manisfetou. O arroxeado pareceu essa mudança no comportamento dele.
— Se você quiser ir, Chifuyu não tem problema. Podemos chamar o Baji se te deixar mais tranquilo. – Mitsuya acrescentou em uma tentativa de convencer o outro, por saber que ele até tinha ido passear com Baji pela floresta.
Hakkai olhou para Chifuyu com curiosidade. Mitsuya tinha comentado com ele a alguns dias, que Baji era o único que conseguia se comunicar com o Matsuno, então estava curioso para saber se ele aceitaria o convite por conta de Baji ou não.
Queria saber se era o único que estava confiando naquelas pessoas ou se mais alguém tinha esse tipo de pensamento.
— Não precisa chamar ele, eu vou com vocês. – Chifuyu respondeu acanhado.
Com a resposta de Chifuyu, os três saíram da cozinha com Mitsuya mostrando o caminho para eles. Haviam deixado Takemichi e Manjiro na cozinha apenas com uma despedida, pois Mitsuya achou que era melhor não pressionar.
Os três andaram até que chegassem na entrada da casa, onde o carro de Naoto estava estacionado. Enquanto os dois visitantes estava mais atrás, Mitsuya abriu o porta malas revelando três jarros de plantas com três flores distintas e vermelhas.
Havia pedido que Naoto trouxesse para Hakkai, afinal o Shiba estava interagindo com a sua pessoa justamente por conta das plantas.
— Pode vir aqui Hakkai, elas são para você. – disse olhando para o azulado com expectativa. Esperava do fundo do seu coração que ele gostasse do presente.
Ainda hesitante, Hakkai se aproximou do carro, dando uma bela olhada para as flores. Com certo medo de não estar sendo cuidadoso o suficiente, Hakkai passou seus dedos pelas pétalas. Sem que percebesse um sorriso brotou em seu rosto e uma lágrima escorreu pela sua bochecha.
Queria contar a Yuzuha como elas eram bonitas. Sua irmã quase nunca recebia flores, apesar de gostar bastante delas. Taiju nunca os deixava ficar com flores, sempre acaba destruindo elas o mais brutalmente que conseguia.
Então estar recebendo três jarros de flores, por mais pequenos que fossem o deixava emocionado.
Não entrava em sua mente que Mitsuya estava fazendo um gesto tão gentil quando seu próprio irmão não era capaz disso.
— Obrigado Mitsuya, vou cuidar bem delas. – agradeceu em um sussurro.
Mitsuya soltou um suspiro de alivio ao ver que Hakkai tinha gostado do presente. Tinha sido muito especifico com Naoto sobre quais flores comprar, mas ainda estava preocupado se ele iria gostar delas, afinal estava as comprando com esse único intuito.
Quando Mitsuya olhou para o lado para ver o que Chifuyu tinha achado do presente, ele se surpreendeu ao ver que Chifuyu estava olhando para o presente e Hakkai com atenção e felicidade. Mesmo que ele não estivesse sorrindo, Mitsuya conseguia perceber isso.
— Gosta de flores Chifuyu? – Mitsuya perguntou por curiosidade.
— Não.
A resposta pegou Mitsuya desprevenido. Ele parecia estar falando a verdade, então por qual motivo ele estava olhando com tanta emoção para Hakkai? Mitsuya não sabia a resposta, mas quem sabe um dia o proprio Matsuno não o contava.
— Vamos plantar elas? – Mitsuya perguntou para atrair a atenção dos dois.
Tanto Chifuyu quanto Hakkai concordaram com a cabeça de forma animada e Mitsuya agradeceu que Naoto havia comprado jarros pequenos e leves, assim eles poderiam ajudar em todo o processo sem que acabassem se machucando.
Os dois estavam mais animados do que Mitsuya já tinha visto, provavelmente haviam muitas coisas que eles teriam que superar, mas aquele não era um momento para que pensassem nos males da vida.
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Posso Confiar...?
FanfictionTristeza, medo, terror, angústia, a mais sincera vontade de morrer. Quatro pessoas sentiam isso na pele todos os dias das suas miseráveis vidas no cárcere. Separados em lugares distintos, mas que seriam juntados pelo destino em um único lugar, em u...