Capítulo 1: Vida nova

23 2 1
                                    


Meu quarto está arrumado, um pouco mais vazio do que o normal, é claro que os móveis continuam, mas as coisas como roupas, sapatos e livros estão encaixotados ou em minhas malas. Eu olho as paredes altas e azuis, a cama larga e feita e as janelas compridas da varanda que tem uma vista incrível do oceano.

-Pronta Aime? - eu escuto.

Amber minha Aia, mas ela prefere ser chamada de assistente.

-Sim - respondo. E então percebo que meus pertences foram levados pelos criados.

- Vamos, sua família quer se despedir - ela acena para que eu a acompanhe.

Andamos pelos corredores decorados com quadros de meus antepassados; as cortinas e tapetes em diferentes tons de verde com detalhes em dourado, assim como todo o restante do palácio. Cercado por objetos grandiosos, imponentes vasos e esculturas de grandioso valor. Espelhos enormes com molduras de ouro que ocupam a parede toda, tudo belo e perfeito, exceto por mim.

- Tudo bem? - Amber pergunta.

- Tudo ótimo - minto.

- Fale a verdade - ela para de andar.

- Estou nervosa, e se não der certo? - pergunto preocupada.

- Vai dar, e se precisar de algo é só escrever - ela responde carinhosamente.

Ela se aproxima e me abraça apertando.

- Agora venha, você tem que ir- ela completa termina o abraço.

Chegamos ao grande salão. Abro as portas pesadas e me deparo com Jeremy correndo em minha direção, apenas ele e June estão no salão, meu irmãozinho de dez anos me abraça forte pela cintura. Me abaixo um pouco e ele se joga em meus braços.

- Vou sentir sua falta - ele diz

- Eu também - digo olhando em seus olhos - mas eu vou vir para o seu aniversário e te escrever todo o fim de semana. Tudo bem? - Ele acende a cabeça com um sorriso fraco.

Me levanto e vou em direção a June e a abraço.

- Divirta-se - ela diz.

- Está bem.

Eu olho ao redor do salão. Nenhuma coroa à vista.

- Meu pai não vem - afirmo desanimada já esperava por isso.

- Ele está ocupado. Tentei persuadi-lo, mas meu irmão não me ouvia quando éramos crianças e não vai escutar agora- justifica June.

Respiro fundo tentando não pensar o quanto me sinto ignorada. Talvez ele não tenha gostado da ideia de estudar fora.

- Pode dizer a ele que eu me despedi?

- Claro - ela sorri sem mostrar os dentes - lembrou de pegar tudo?

- Sim.

- Produtos de higiene?

- Sim.

- Casacos?

Sim.

- Sapatos?

- Você é a chefe da guarda ou é a minha aia? - pergunto sorrindo.

- Assistente - Amber corrige.

- Claro, assistente - digo.

Carl, nosso mordomo, entra no salão e cochicha algo para Amber "entendido" ela responde a ele baixinho.

- Alteza - ela chama - precisamos ir.

Eu aceno com a cabeça. Olho uma última vez para minha família e vou com Amber até o carro com o brasão do meu país. Uma libélula lustrosa com bordas douradas, ela está em todos os lugares: nas bandeiras do carro, nas portas do palácio e nas minhas malas. O carro me leva a aeronave. Próxima parada Universidade internacional Astromélia em Nilok. Uma universidade muito boa que oferece vários cursos diferentes, o campus é lindo, rodeado de flores e árvores. Decidi cuidar eu mesma da minha educação e não depender de Amber para me ensinar. Quero que pelo menos uma coisa na minha vida eu escolhesse. Comecei a ter controle aos poucos, quando tinha doze anos não quis mais criados limpando meu quarto e me vestindo, criei minha própria rotina de estudos com ajuda de Amber, e passava boa parte do tempo na biblioteca do palácio, lendo biografias dos antigos governantes ou analisando mapas. Ano passado decidi que queria estudar em uma escola normal, mas papai não gostou da ideia, ele não queria que a primogênita de Dimirard estivesse em outro país sem proteção militar, pelo menos é o que eu acho. Respondi que continuar enclausurada vendo o mundo atrás de papeis sem nunca o conhecer de verdade me deixava angustiada. Papai respirou profundamente e apertou os cabelos, coisa que sempre faz quando está nervoso, acabou permitindo-me estudar fora, com a condição de que eu estudasse em sigilo, sem chamar atenção e que ninguém tirando a família, soubesse. Estava decidido, eu iria. Mas por alguma razão acordei inquieta de manhã, passei as refeições distante e consequentemente boa parte do tempo olhando a janela, como se eu escutasse a voz de meu pai dizendo-me para mudar de ideia, quando ele não veio se despedir me senti pior.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now