Capítulo 14: Noite na biblioteca

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A água do chuveiro cai sob meus ombros como uma chuva gelada, enquanto eu esfrego meus antebraços, pernas e costelas tentando me livrar das manchas. O sabão desaparece em meio a água, mas as manchas permanecem. Encosto na parede e escorrego até estar sentada no chão molhado. Observo meu corpo todo machucado, abraço meus joelhos e cedo ao choro forte até minha garganta doer.

No meu quarto, eu vejo todas as manchas no meu corpo, que não saem, não doem, apenas estão ali me deixando com vergonha de mim mesma. Mão esquerda, antebraço direito, coxas e a costela direita, tudo manchado de roxo escuro e algumas partes verdes. Tenho que resolver isso de alguma forma.

Visto uma calça, blusa de mangas compridas e por fim tênis.

Pego minha bolsa e saio trancando a porta.

A enfermaria fica no sul do campus, não há muitas pessoas, mas eu evito olhar para elas. Me concentro mais nas minhas unhas lascadas enquanto espero.

- Aime Sisley - a enfermeira chama.

Eu me levanto.

- A Dra. Sarah vai vê-la agora - ela diz e faz um sinal para que eu a acompanhe.

O consultório tem uma aparência agradável; cores pasteis, livros bem organizados e quadros de flores bonitos. A Dra. Sarah parece jovem e tem uma aparência amigável, ela olha concentrada na minha fixa, talvez pelo fato dos meus sintomas não serem muito comuns.

- Ah quanto tempo tem essas alucinações? - ela questiona.

- Desde ontem de manhã - respondo sentada na maca balançando as pernas como criança.

- Isso já aconteceu antes?

- Não.

- Você fez algo diferente recentemente; uma comida? Uma viagem? Você dormiu bem por esses dias?

- Não, não e não.

- Bem, a falta de sono pode ser um dos motivos para as alucinações - diz ela deixando os papeis na mesma.

- Como dor de cabeça? - pergunto.

- Claro. Você tem dores de cabeça?

- Sim, são recorrentes - respondo.

- Estou começando a achar que o sono é o grande problema - diz ela.

A Dra. Sarah se senta em sua mesa e escreve algo em um papel.

- Aqui - ela estica o braço e me entregando - vai te ajudar a dormir.

Eu desço da maca e pego o papel.

- Me avise se os sintomas pintarem - ela informa.

- Sim. Obrigada Dra.

Pego minha bolsa e saio do consultório passando pelas pessoas até sair da enfermaria. Amasso a receita de remédio e enfio na bolsa. Continuo andando até achar uma farmácia, entro no local onde um senhor por volta dos quarenta anos me atende.

- Em que posso ajudar? - ele pergunta.

- O senhor tem gazes? - questiono.

- Tenho sim. De quantas caixas a mocinha precisa?

- Cinco.

- Cinco! - ele exclama- Aconteceu alguma coisa?

-Minha mãe se machucou e nós estamos sem gaze – minto - Sou enfermeira, eu mesma fiz os pontos dela.

O homem franze a testa.

- Você não é nova para ser enfermeira? - pergunta ele.

- Todos dizem isso - respondo mentindo - mas acredite eu tenho vinte e seis anos.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now