Capítulo 12: Uma história antes de dormir

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Tio Philipe está sentado ao lado da tia Odete, à frente deles eu e Natasha nos sentamos uma ao lado da outra. O salão é bem iluminado, tem um lustre enorme, uma lareira bem decorada com espelho em cima. Prefiro me concentrar na decoração do que em Natasha contando tudo que eu havia mencionado sobre a escola, e outros assuntos alheios, o que de certa forma é um alívio, assim eu não tenho que repetir essa entediante conversa. Quando o assunto sobre a escola se encerra foi é a vez de relembrar histórias antigas, tive que ouvir; como o rei ea rainha se conheceram, o quão grande foi a cerimônia de casamento, detalhes desinteressantes sobre o nascimento de Natasha e algo sobre o chafariz ter sido colocado do jeito errado e por algum motivo isso é engraçado. Quanto mais alto minha família fala, menos eu presto atenção no assunto, apenas encaro meu prato cheio de verduras.

- Sem fome? - escuto meu tio perguntar.

Olho para ele.

- Não é isso – respondo - Só estava pensando.

- Pensar é vim - ele diz levando o garfo a boca - ajuda a esclarecer dúvidas.

- Acha que eu tenho dúvidas? - pergunto já sabendo exatamente quais são.

- Me diga você.

Perco- me momentaneamente em meus próprios pensamentos. Talvez seja minha única chance de descobrir algo a mais sobre a minha mãe, embora eu saiba que perguntar a respeito da caixinha não trará muito resultado. Então eu devo ser mais direta, ele não precisa saber tudo.

- Posso lhe perguntar uma coisa? - questiono.

- Claro.

- Com era a minha mãe? - pergunto rapidamente.

Ele apoia as costas na cadeira e respira profundamente, depois se debruça na mesa e pergunta:

- O que quer saber? - ele pergunta no tom de voz baixa.

- Como ela era, o que gostava de fazer - respondo.

- Bem...- ele começa - ela era inteligente e gentil, sempre rindo e sorrindo. Às vezes você me lembra dela.

- Não sou nada como ela - lamento.

- Com certeza é - ele confirma.

Olho para baixo e depois para ele de novo.

- Mais alguma coisa? - pergunto.

- Ela passava boa parte do tempo sozinha escrevendo cartas.

- Cartas para quem?

- Para o guardião.

- O conto de fadas? - penso em voz alta.

Quando era criança, mamãe lia para mim histórias sobre ele, e várias outras de um livro feito à mão, ele tinha lindas gravuras em aquarela e caligrafia delicada, eu poderia passar horas olhando para ele. Mas nada daquilo era real, eram só contos que me impediram de ter pesadelos.

- Não é um conto de fadas - responde tio Philipe.

- É sim - reforço - De um livro da biblioteca, a mamãe lia para mim toda noite.

- Não é uma história, é real - diz tio Philipe com convicção - Ele é um ser poderoso que espalha...

- Sua luz reluzente por todos os lugares onde é mencionado – completo - dando vida a coisas mortas e cores onde há cinza.

- Você sabe de cor - ele diz embasbacado.

- Escutei a história todas as noites durante sete anos - respondo.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now