Capítulo 2: Café rosa

8 1 0
                                    


Estamos na cafeteria do campus chamada Peônia. Ela é bem bonita, aberta, tem poltronas e mesas arredondadas. A várias pessoas conversando e se conhecendo. O melhor de tudo é que ninguém está prestando atenção em mim. Parece que sou invisível e isso é incrível.

Miles se senta na minha frente com duas canetas com café.

- Aqui está - ele diz.

- Obrigada - respondo

Eu pego a caneca e a levo até os lábios sentindo o gosto amargo do café quente misturado com aquele cheiro doce.

- Isso está muito bom - digo.

- Você poderia ser um pouco mais discreta?

- Como assim? - pergunto largando a caneta - Eu estou muito discreta.

Olho para mim mesma. Estou vestindo calças jeans, tênis blusa com zíper de mangas longas e meu cabelo está amarrado como um rabo de cavalo, um tipo de roupa confortável, mas que eu nunca poderia usar no palácio.

- Estou falando do seu comportamento - ele explica - pessoas comuns não agem assim. Está muito formal.

- Como se você soubesse de alguma coisa - digo irritada.

- Olha eu posso não ser especialista em interação humana, mas eu tenho mais contato com as pessoas do que você - responde ele no mesmo tom.

Detesto quando Miles tem razão.

- Então me mostra. Como isso funciona? - pergunto.

Ele pigarreia.

-Tudo bem, para começar não sente tão reta, fiquei com os ombros mais relaxados.

- Isso- ele diz - Agora tente ser menos refinada.

- Quer que eu seja mal-educada? - questiono.

- Não mal-educada, mas tente ser você mesma, parece que eu estou conversando com a Aime em uma recepção de boas-vindas. Aja normalmente igual a quando está comigo, Jeremy ou June, quando você é sarcástica, chata e curiosa.

- Eu não sou chata - digo.

- É sim, mas esse problema eu resolvo outro dia.

- Tudo bem - corcunda e falar o vier na cabeça. Não pode ser difícil, penso comigo mesma.

Me debruço na mesa e encosto o queixo, afasto meus tornozelos e junto os joelhos. Normalmente é a posição que uso quando estou lendo no meu quarto. Se forçasse um pouco, talvez conseguisse escutar o mar se chocando contra as rochas, as gaivotas voando ao longe e os passos apressados de Jeremy correndo em minha direção.

- Nada mau - ele diz - parece que acabei de entrar no seu quarto.

Eu sorrio

Miles se espreguiça e estrala os dedos.

- Agora próximo exercício - diz ele.

- Qual seria?

- Você paga a conta- responde sorrindo de lado.

- Como isso pode ser um exercício? - digo erguendo a sobrancelha.

- Assim você se acostumar a falar com as pessoas- explica ele.

- Vou fingir que acredito - digo sarcasticamente.

Eu me levanto e pego minha bolsa.

- Eu pago o café - anúncio.

Um ar de satisfação começa surgir no rosto de Miles.

- Mas o jantar fica por sua conta - digo dando uma piscadela.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now