Capítulo 10: Rainha Rose

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À noite, os corredores ficam cheios de guardas, então não seria sútil andar por aí normalmente às uma da manhã, sorte que isso não é impedimento. Entro no meu armário, vou até um cabideiro com vestidos curtos, passo pelas roupas e fico diante de uma parede azul, como todo o resto do armário. Empurro com força a mesma que se abre como se fosse uma porta. Acendo a luz do bracelete e começo a caminhar pelo corredor repleto de teias de aranhas. O maior desafio agora é encontrar a sala de música, continuo andando devagar para não fazer barulho. Escuto passos e paro de repente, estreito os olhos e observo a atividade por trás de um pequeno buraco, são apenas guardas trocando de turno. Minha caminhada continua, passo por alguns corredores até encontrar a sala por um dos buracos no papel de parede. Procuro uma passagem para entrar no lugar, mas é complicado porque nunca tentei entrar nessa sala pelos corredores na parede, e não são todos os cômodos que têm uma passagem, de acordo com o que eu li na biblioteca as passagens foram construídas como saída de emergência, caso tivesse algum incêndio, mas elas são estreitas demais, então foram esquecidas.

Me deparo com uma pequena porta. Engatinhou passando por ela e entro na sala de música esbarrando em algumas caixas com partituras. Vou até onde supostamente caí com a luz do bracelete apontada para o chão. Encontro uma fenda em uma das madeiras e me ajoelho ao lado dela. Está manchada de sangue, culpa minha, é claro. Coloco minha mãe dentro da fenda e puxo a tábua força. Debaixo da tábua se encontra um buraco preenchido por uma caixa.

Eu a pego no colo e a observo, a caixinha é um pouco maior do que eu pensava e muito bonita, tem flores e espirais pintadas a mão com uma trava simples.

Destranco a caixa que está cheia de papeis de cartas, envelopes amarelos e um caderno grosso e uma caixinha de joia azul escuro. Antes que eu possa fazer qualquer coisa escuto passos. Fecho a caixa com violência e me escondo atrás das caixas grandes perto da passagem.

- Você conversou com ela? - é a voz de June.

- Sim - a voz de meu pai responde.

- E...

- Ela quer voltar para a escola depois da coroação - ele responde.

- Isso não será possível.

- Foi o que eu disse. Mas ela continua insistindo.

- Não pode culpá-la - defende June - você faria a mesma coisa.

- É diferente - ele rebate.

- Ah claro - ela caçoa. Os passos param.

- Eu só a quero segura - ele diz preocupado.

- Sua filha já é quase uma adulta - argumenta June - e ela se saiu muito bem nesses últimos meses.

Não escuto nada, acho que papai ficou sem argumento.

- Ela vai ficar bem - June tranquiliza - Além disso tem Miles, ele já foi apresentado a sociedade e não a ninguém escrevendo matérias sobre ele.

- Porque a Georgia concentra toda a atenção no filho mais velho, as pessoas nem se lembram do caçula.

Tocou bem na ferida. Miles finge que não, mas eu sei que isso o machucar, ser esquecido e ignorado pela própria mãe, não sei como alguém vive assim, ainda bem que ele não pode ouvir isso.

- E se mandarmos um guarda com ela? - sugere June afastando-me de meus pensamentos.

- Não - papai responde prontamente - Você mesma disse que ela é quase adulta, então já está na hora de saber que não pode ter tudo o quer.

- Tudo bem - ela responde rendida - Eu ainda não a vi hoje.

- Acho que ela está dormindo - ele diz.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now