Capítulo 15: Uma nova habilidade

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 Não sei quanto tempo alguém leva para superar um divórcio, mas o professor Brown não devia descontar sua raiva e tristeza nos alunos. Pelo que eu ouvi falar, pessoas normais vão a encontros ou tentam reatar os laços com o antigo parceiro. O professor Brown por outro lado passa trabalhos enormes.

Na aula de arqueologia, minha cabeça dói, desta vez é graças aos livros e noites em claro, e não as "feridas internas",  falando nelas, tem se tornado mais fácil lidar com isso nos últimos dias, agora eu consigo evita-las como se não as visse, em alguns momentos realmente não vejo. É como estala os dedos, elas aparecem, somem ou se eu me concentrar posso até descobrir como se originou a mancha na pessoa, embora eu tente evitar, isso costuma causar muita dor de cabeça.

- Os povos antigos usavam imagens codificadas para se comunicar – diz professor Brown alterando o tom de voz – era uma forma de passar o conhecimento para as próximas gerações...

Mesmo que você não esteja prestando atenção, o professor Brown tem técnicas para fazê-lo de comportamento, que inclui resumidamente em falar o mais alto possível, acredite não há como pegar no sono.

Ao final da aula, o professor encosta na porta da sala e entrega a última prova que fizemos já corrigidas. Eu sou uma das últimas a sair e pegar minha prova cheia de marcações em vermelho.

- Professor – chamo voltando para a sala.

- Sim - responde ele.

- Como é possível eu ter tirado cinco na prova? – questiono – A maioria das respostas estão certas.

- Se me lembro bem as respostas estavam a caneta preta – ele explica organizando sua mesa sem olhar para mim – Eu mandei responder com caneta azul e não preta.

Olho para ele revoltada.

- O senhor disse que podíamos fazer com as duas – argumento.

- Eu me lembraria disso não acha? – pergunta ele retoricamente.

- Mas por que o senhor descontou tantos pontos?

- Você demorou muito para terminar a prova.

- Agora isso é abuso de poder – penso em voz alta irritada.

- Se tiver qualquer reclamação – diz ele – resolva isso na secretaria.

Enfio a prova na bolsa e caminho em direção a porta escutando os sons dos objetos da mesa do professor. Paro antes de atravessar a porta, me viro para o professor e penso que ele está transformando sua tristeza em raiva e arrogância. Talvez eu possa mudar isso, não custa tentar.

- O senhor está bem? – pergunto – Emocionalmente eu digo.

- Por que a pergunta?

- É que o senhor parece abalado – digo – Aconteceu algo?

- Estou ótimo – diz ele guardando as coisas em sua pasta.

Me viro e volto em direção a porta, então escuto um soluço, olho para o professor e vejo seu queixo tremendo.

- Tudo bem? – pergunto calmamente.

- Não – responde ele. Lagrimas aparecem em seu rosto – Eu pensei que a gente ia ser uma família, eu e a minha esposa.

- O que houve? – me sento na mesa.

- Ela me trocou por um pintor de Lheta – conta ele chateado.

Realmente os homens de Lheta são muito charmosos, mas eu não diria isso a ele.

- ...disse que eu era insensível e que só pensava em trabalho.

Por que será? Penso sarcasticamente.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now