Capítulo 13: Feridas

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Nada na cama, nada no guarda roupa.

Procuro incessantemente o envelope em todos os lugares possíveis, mas não encontro, não importa quantas vezes eu vasculhe meu quarto.

Me sento no chão apoiando os cotovelos nos joelhos e fechando os olhos.

"Onde foi parar?" me pergunto.

Passei quase o dia inteiro procurando. Não fui às aulas, mal comi, aposto que deixei meu bracelete em algum lugar em meio a bagunça, mas de que adianta me preocupar com ele, não achei o envelope. Ele desapareceu.

Cama feita, escrivaninha arrumada, livros bem empilhados e sapatos em seu lugar.

Me jogo na cama e olho para o teto. O mesmo teto branco e sem graça de quando vim aqui pela primeira vez. Passo um bom tempo nessa mesma posição, quase adormecendo graças ao silêncio e ao sol que se põe pela janela.

Escuto uma batida forte.

Me espreguiço, me levanto da cama, atravesso o quarto e abro a porta.

- Oi - cumprimenta Jessie - Eu trouxe anotações das aulas de hoje, achei que você fosse precisar depois.

Ela me entrega um caderno de capa mole.

- Obrigada - agradeço.

- Sua cara está horrível.

- É bom ver você também - digo sarcasticamente.

Jessie revira os olhos.

- Vão para aula amanhã e me devolve o caderno - ela diz e sai pelo corredor.

- Combinado - digo para mim mesma.

Fecho a porta, jogo o caderno na escrivaninha e começo a passar as anotações para o meu caderno. Quando finalmente termino, meus dedos estão doendo e minha cabeça também.

Um banho talvez resolva.

Apanho meu nécessaire, pego um roupão e vou direto para os chuveiros. Depois de me esfregar, lavar os cabelos e me depilar, parece que todos os meus problemas escorregaram para o ralo junto com a sujeira, não pertencem mais a mim. Desligo o chuveiro e visto o roupão. Pego minhas coisas e sigo de volta para meu quarto.

Visto meu pijama e começo a pentear meus cabelos ainda úmidos, molhando o chão todo. Largo a escova e pego uma toalha para secá-lo melhor. Minha cabeça permanece na mesma posição em direção a escrivaninha que está recém arrumada, porém ao invés de haver apenas os meus livros ou cadernos que eu tinha deixado, há também um envelope roxo que eu não percebi.

Deixo a toalha de lado e agarro o papel misterioso.

Abro o envelope e começo a ler.

Saudações Aime

Recebi sua carta e estou contente que tenha demonstrado interesse em minha existência, embora eu já saiba da sua a muito tempo

Agradeço pela sinceridade e espero que possamos nos encontrar em breve.

Com carinho

Guardião

Meu coração acelera e minhas mãos tremem. O papel de carta começa a esfarelar até se desmanchar diante de mim com poeira.

- Ele existe- sussurro - ele existe mesmo.

Não me lembro bem quando peguei no sono, só me lembro de acordar antes do despertador e continuar deitada pensando no que aconteceu.

O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now