Capítulo 18: Fogueira na praia

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Não falei muito desde que cheguei, apenas contei que Kevin descobriu e que achei melhor voltar antes que todos ficassem sabendo. Ele não sabe muita coisa, June por outro lado está ciente de tudo, não tenho porque esconder coisas dela, nós contamos tudo uma para a outra, ela é quase minha irmã mais velha.

Tentei ocupar minha mente desde que voltei, leitura, estudos e alguns exercícios matinais com June, mas até agora nada disso foi suficiente, ainda penso constantemente se a revista vai publicar a matéria escrita por Kevin, a essa altura será que ele ainda seria tão baixo? Não tenho dúvidas disso.

Depois de umas aulas de geografia com Amber, eu me encontro sozinha em meu quarto com Atlas espalhados pela minha mesa. Me afasto deles caminhando em direção a cama, apanhando o diário da mamãe e me sento na cama, relaxando as costas na montanha de travesseiros.

Faltam poucas páginas para ele acabar. Li quase tudo, meus pais já se casaram, se apaixonaram, mamãe continua escrevendo para o Guardião, e provavelmente daqui há algumas páginas vai estar grávida de mim. Mas não quero ler nada disso, estou cansada de segredos, revelações parece uma tradição da minha família, uma tradição muito triste que eu continuei sem saber.

A porta do quarto se abre abruptamente revelando June.

- Boa tarde – digo escondendo o diário embaixo dos travesseiros.

- O que está fazendo? – pergunta ela se sentando na cama.

- Estudando. Ou pelo menos estava há alguns minutos atras.

Ela assente.

- A revista "Orquídeas" chegou – comenta June – mas não mencionou você, aquele garoto deve ter desistido.

- Menos mal.

De certa forma, é como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas, entretanto, graças a Kevin eu voltei para a minha prisão, nestes cômodos grandes e silenciosos, já tinha me acostumado com isso há muito tempo, mas está difícil me ajustar novamente.

A noite está fria. Estou deitada em minha cama já prestes a dormir, mas toda vez que o sono se aproxima, eu me lembro daquelas páginas escritas a mão, aquele papel amarelado insuportável que registrou todos os momentos da adolescência e fase adulta dela. Não quero mais pensar nisso, preciso dar um fim nisso de uma vez por todas.

Salto da cama, pego o primeiro sapato fechado que encontro e o calço em meus pés apressadamente. Embaixo da cama eu puxo a pequena caixa de mamãe, seguro ela com firmeza nas mãos e a coloco em cima da cama, retiro os envelopes deixando todas as outras coisas em seu lugar. Antes de ais coloco o diário do rei Jhonny na caixa.

Visto um casaco e saio do quarto.

Na praia, eu junto uma montanha de graveto. Arrasto o palito de fosforo em sua caixa, revelando uma pequena chama alaranjada. Jogo o fosforo no meio da pilha de gravetos. Aos poucos vou rasgando as páginas do diário do rei Jhonny e jogando-as na fogueira. Quando enfim termino, não sobrou nada além de uma capa de couro que também é consumida pelas brasas.

Seguro o diário da mamãe, antes de puxar a pequena página, sinto uma onda de receio surgir no peito, os últimos pedaços dela, a oportunidade de conhecer minha mão está literalmente em minhas mãos. Cerro os dentes com força sentindo uma leve dor na boca. Arranco varias e as jogo no fogo, que agora já está maior. Continuo jogando uma por uma, até me deparar com meu nome em uma da ultimas, tiro a página do caderno, deixo a capa azul escuro queimar com o barulho crepitante da madeira, enquanto levo leio com atenção.

"Descobri ontem que vou ter uma menina, a barriga mal aparece, mas já é possível descobrir o gênero do bebe, não contei para Jasper ainda, acho que quero só alguns momentos com ela. Quero escolher o nome, andei pensando bastante sobre isso, nomes como; Alice ou Josefine, mas de todos não tem que nome que eu ache mais graciosos que Aime. Significa: amada, e é isso que ela é, a princesinha linda que vai ter uma família que a ama demais.

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O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now