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Demorou um bom tempo para Rattikarn reunir coragem para encontrar Ann. Embora soubesse que era a coisa certa a fazer, seu orgulho e autoconsciência tornavam quase impossível para ela proferir um simples pedido de desculpas. Sua autoconfiança, nutrida por ser independente durante toda a vida, a convenceu de que suas ações eram sempre certas. Mas hoje, como qualquer outra pessoa, ela teve que encarar a realidade de se conformar às normas sociais, o que significava dizer apenas uma palavra:

— Desculpe.

Ann, sentada do outro lado da mesa no restaurante, olhou para o chão, o que me levou, sentada ao lado de Rattikarn, a olhar para ela confusa.

— O que você está procurando?

— Uma flor pikul — Ann respondeu com um sorriso. — Imaginei que, com o tempo que ela levou para dizer isso, algumas flores míticas podem ter caído no chão. Mas não, nada.

Ela se recostou na cadeira, sorrindo. — Demorou um bom tempo. Pensando bem, já faz umas duas semanas desde aquele tapa.

O tom de Ann estava cheio de sarcasmo brincalhão, como se ela quisesse exagerar suas palavras para causar efeito. Rattikarn, ainda com sua expressão estoica, me lançou um olhar descontente.

— Para ser honesta — Rattikarn finalmente disse — Não estou me desculpando porque acho que fui totalmente culpada. Mas somos adultas agora, vivendo em uma sociedade civilizada, e violência não é a resposta. Então, estou fazendo isso. Mas não se esqueça, você também não é inocente. Naquele dia, você estava tentando me provocar!

Daquele dia em diante, aprendi a perspectiva de Rattikarn sobre o motivo de ela ter aparecido no meu apartamento às 4 da manhã. Ann havia enviado uma mensagem dizendo que sairia comigo naquela noite. Parecia que Ann a estava provocando sutilmente durante a noite, enviando atualizações enquanto estávamos juntas. Eu não tinha certeza se as ações de Ann tinham o objetivo de consertar a rixa ou se ela estava simplesmente se divertindo, causando problemas.

— Provocar você? Isso é ridículo — Disse Ann, examinando as unhas com inocência fingida. — Eu só estava mantendo-a atualizada. Afinal, temos nosso dia designado da semana juntas.

Enquanto falava, Ann cutucou Rattikarn com o pé, provocante, por baixo da mesa. Honestamente, não achei que Ann estivesse apenas tentando provocar Rattikarn. Ela parecia ter a intenção de irritar nós duas.

— Vamos terminar as coisas entre nós aqui — Dsse Rattikarn, se preparando para sair.

Ann, no entanto, balançou a cabeça. — Que tipo de pedido de desculpas é esse? Você me chamou aqui, mas nem tivemos uma refeição adequada. Além disso, tenho que objetar, não há nada para 'terminar' entre nós porque nada realmente começou. Como você pode dizer algo assim sem se sentir envergonhada?

— O que você quer, então?

— No mínimo, você deveria me pagar o jantar — Disse Ann, acenando para o garçom.  — E não importa o que eu peça, você terá que pagar. Vamos começar com uma garrafa de vinho tinto de 1980.

— Este lugar vende arroz de frango. Não tem vinho tinto.

— Uau, você não é divertida. Tudo bem, então — Ann disse rindo. — Eu vou querer o arroz de frango crocante especial.

O vendedor assentiu e pegou seu pedido enquanto o garçom se afastava, jogando no celular. Ann se espreguiçou preguiçosamente e nos lançou um olhar curioso. — Por que você está me encarando?

— Quão chata deve ser sua vida para encontrar alegria em coisas assim? — Perguntei.

— Muito chata — Ann respondeu com um sorriso. — Mas vocês duas estão adicionando um pouco de emoção a isso. Ainda assim, se você vai me levar para jantar, não poderia escolher um lugar melhor? A primeira vez que me convidou, o restaurante era tão chique.

No5: Quando sinto seu cheiro (Série Perfumes Vol.1)Onde histórias criam vida. Descubra agora