Querida Agatha • Agathario

Epílogo

UM ANO DEPOIS

O clima na cobertura de Agatha Harkness estava mais acolhedor do que nunca. O lugar, antes um reflexo de sua personalidade imponente e distante, agora tinha um toque mais suave, com pequenas recordações de momentos compartilhados — quadros com fotos de viagens, livros em pilhas desorganizadas e, acima de tudo, o sorriso constante de Nicholas, que fazia tudo parecer mais família.

O cheiro de bolo recém-assado preenchia o ar enquanto Lilia e Agatha estavam ocupadas na cozinha, tentando não rir enquanto montavam o bolo de aniversário para Rio. As bexigas verdes e pretas, as cores favoritas de Rio, flutuavam pelo ambiente, graças ao trabalho meticuloso de Nicholas, que parecia mais animado do que nunca. Alice e Jen, que deveriam estar encarregadas da decoração, continuavam a escorregar silenciosamente para a varanda da cobertura, tentando roubar momento isolados.

— Tem alguém nessa casa além de mim que gosta de homem? — Lilia murmurou incrédula, mais para si mesma do que qualquer outra coisa, enquanto assistia suas duas funcionárias se atracarem aos beijos.

— Eu gosto. — Nicholas respondeu descontraído antes de levar outra bexiga a boca e enche-la.

Enquanto isso, Agatha andava pela sala, disfarçando seu nervosismo enquanto dava os toques finais nos preparativos. Ela havia planejado tudo meticulosamente, querendo tornar o aniversário de Rio um momento inesquecível, mas o que realmente estava a deixando ansiosa era o presente que preparara para a mulher que tanto amava.

— Quanto tempo ela vai levar no mercado? — Jen questionou ao voltar para a sala, ajudando na decoração.

— Se depender da Rio é capaz dela ficar presa no mercado. — Nicholas brincou.

O barulho na fechadura interrompeu a conversa do grupo.

— Rio está de volta! Escondam tudo! Ninguém mexa em nada! — Alice disse enquanto corria para apagar as luzes.

Nicholas, sorrindo, pegou o último balão e correu para a cozinha. Lilia e Agatha rapidamente se agacharam atrás do sofá, fazendo o possível para parecerem despreocupadas, enquanto Alice e Jen voltaram para a penumbra da varanda.

Rio entrou, desconfiada, a porta se fechando suavemente atrás dela. Ela olhou ao redor, os olhos passando pelas sombras da sala, os balões flutuando no ar e, por um momento, tudo parecia estranho e silencioso. Ela deu um passo para dentro e parou, sentindo que algo estava fora do lugar.

— O que está acontecendo? — Rio perguntou, seu tom já misturado de surpresa e um toque de diversão. Ela conhecia bem aquela sensação de que algo estava prestes a acontecer.

Antes que pudesse fazer mais perguntas, o silêncio foi quebrado por um grito uníssono:

— SURPRESA!

A sala se iluminou repentinamente, revelando os amigos reunidos ao redor, com risos e olhares cheios de carinho. Rio ficou parada por um momento, processando a cena, até que seu sorriso surgiu lentamente, se alargando enquanto ela olhava para Agatha, que estava à frente de tudo, com um sorriso tímido e cheio de orgulho.

— Vocês... — Rio balbuciou, os olhos se enchendo de lágrimas. — Eu... eu não acredito!

Agatha avançou para ela, com os braços abertos. Quando as duas se abraçaram, foi como se o mundo lá fora tivesse desaparecido. Rio fechou os olhos, sentindo a pulsação de Agatha contra o peito, o calor e o conforto que ela tanto buscava.

— Você merece tudo isso e mais, Rio. — Agatha murmurou, segurando o rosto da mulher para um beijo carinhoso.

A festa seguiu com risos e muita alegria. Todos estavam animados, celebrando o dia especial de Rio com entusiasmo e carinho. Nicholas estava animado como nunca, correndo de um lado para o outro, comendo salgados e roubando fatias de bolo, enquanto Lilia tentava manter a casa em ordem. Jen não saía do lado de Alice, e os dois trocavam olhares cúmplices o tempo todo.

Horas depois, quando os últimos convidados estavam indo embora, Agatha reuniu Nicholas e Rio na sala, seus olhos brilhando de antecipação.

Ela segurava dois envelopes, um branco e liso, mais formal. E outro na cor parda, selado a tinta com uma gravura que parecia antiga.

— Primeiro você, Nicky. Meu porto seguro, meu filho. — Agatha disse com lágrimas nos olhos, entregando o papel branco para o garoto.

Nicholas olhou para ela, curioso, e então para o envelope. Ele abriu com cuidado, mas quando viu o que estava dentro, seus olhos brilharam.

"Nicholas Harkness", estava escrito, e embaixo, o selo que marcava sua nova identidade. Ele olhou para Agatha, com os olhos lacrimejando.

— Agatha... — Ele sussurrou, sua voz embargada, enquanto a olhava com um sorriso tímido. — Isso é... é real?

— É. Você é meu filho agora, Nicholas. Oficialmente. — Agatha respondeu, a voz suave, mas firme.

— Mãe... — Nicholas sussurrou pela primeira vez antes de abraça-la.

Com o abraço apertado, Agatha sentiu que tudo estava finalmente no lugar. O vazio que ela sentia antes agora estava preenchido com o amor do garoto. Mais do que nunca, eles eram família.

Agatha olhou para Rio, que a observava com um sorriso comovido.

— E agora é sua vez. — Agatha sorriu para Rio, entregando o segundo envelope, o de cor parda, para ela.

Rio olhou para o envelope, com o coração acelerado. Ela reconhecia o símbolo, sabia o que significava.

— É o resultado da minha prova, né? — Perguntou nervosa enquanto brincava com o envelope. — E se eu não passei?

— Estaremos aqui para você seja lá qual for o resultado. — Agatha tocou-lhe o braço de forma afetuosa.

Rio hesitou por um momento, um pouco incrédula, antes de abrir o envelope e ler o conteúdo em voz alta.

— É com prazer que informamos sua aceitação para o programa de Direito na Universidade de Columbia. — Rio leu as palavras, sentindo o peso delas em sua mente. Seus olhos começaram a brilhar, e ela olhou para Agatha, ainda sem acreditar. — Eu passei? — Sua voz falhava de emoção.

Agatha sorriu, tocando o rosto de Rio de forma suave.

— Eu sabia que você conseguiria. Sempre soube. — Agatha segurou as mãos e Rio e Nicholas. — Você tem uma família dessa vez para te apoiar. E quando se formar, vai ter um espaço para você na empresa.

Rio ainda estava atônita, o coração batendo acelerado. Ela havia trabalhado tanto por esse momento, e agora estava acontecendo, de forma concreta.

— Eu nunca imaginei que isso fosse possível. — Rio sussurrou, a voz embargada.

O trio passou o restante da noite entre risadas acolhedoras e uma conversa suave, jogando jogos de tabuleiro. Quando Nicholas finalmente desabou de sono exausto no sofá da sala, Rio e Agatha o arrastaram até o quarto para que o garoto descansasse de forma apropriada.

Entre beijos apaixonados, as duas se aprontaram para dormir. Enquanto Rio arrumava a cama, Agatha vasculhou sua gaveta do closet a procura de uma caixa de veludo que estava escondendo a semanas. Com passos determinantes ela voltou para o quarto, tocando o braço de Rio e chamando sua atenção ao abrir a pequena caixa.

Não havia uma aliança dourada, um diamante ou um gesto de romance tradicional. Em vez disso, havia apensa uma chave fria prateada.

— Eu quero que você venha morar comigo. — A voz de Agatha soou baixa, mas cheia de uma firmeza que era impossível ignorar.

Rio não disse nada de imediato. O silêncio entre elas foi quebrado por um sorriso suave nos lábios de Rio. Ela segurou a chave com firmeza, e os olhos de Agatha se encontraram com os de Rio, um brilho profundo e confiante nos dois.

— É claro que eu aceito, Agatha. Aonde você estiver, eu sei que lá é o meu lugar.

Agatha sorriu de forma tímida, mas os olhos dela brilharam de emoção. Ela se aproximou de Rio, tocando seu rosto com a palma da mão, como se quisesse garantir que aquele momento fosse eternizado em sua memória. Então, sem dizer mais nada, ela a beijou. Um beijo suave e profundo, uma troca de sentimentos, de intenções, de futuro.

Quando elas se deitaram e a última luz da noite desapareceu, Rio sussurrou como uma promessa silenciosa:

— Você é o meu lar agora.