Consequências

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Era no meio da noite quando uma Agatha em prantos tocou incessantemente a campainha da casa de tijolos de sua melhor amiga, Lilia Calderu. Não foi até que uns bons minutos tivessem se passado, com ambas confortáveis no sofá da mais velha, que Agatha finalmente cessou o seu choro.

— Era Rio por trás do perfil falso. — Ela disse com a voz embargada, uma nova leva de lágrimas ameaçava cair. — Ela mentiu para se aproximar de mim.

Lilia permaneceu em silêncio enquanto Agatha desaguava suas tristezas. Suas bochechas estavam molhadas de lágrimas que ela pouco se empenhara em deter. Os dedos longos acariciavam delicadamente a espuma de um chá de ervas que Lilia fizera. O silêncio que se seguiu fora preenchido apenas pelo som da chuva que batia contra as janelas.

— Eu sou tão estúpida. — Agatha praguejou. — Estava bem ali, na minha frente. Todas as coincidências se alinhando, e eu não prestei atenção. Tudo porque me deixei levar por essa garota.

Lilia deu um longo suspiro, afetuosamente passando a mão nas costas da amiga. Agatha era alguém que raramente chorava. A última vez, que Lilia se lembrava, havia sido no funeral da mãe. Mesmo a mulher não merecendo uma lágrima. Nem quando pegou Wanda no flagra com outro homem, em nenhum momento do processo de divórcio, e nem quando a ex retirou suas coisas do apartamento que dividiram por anos Agatha se deu ao trabalho de chorar. Ela gritou e se enfureceu, destruiu um cômodo inteiro após a partida, porém nenhuma lagrima.

Mas ela estava chorando agora por Rio, um caso de uma semana que não deveria significar nada.

— Agatha... — Lilia começou com suavidade, escolhendo suas palavras cuidadosamente — Por que está tão abalada com isso?

Agatha hesitou por um momento, enquanto as palavras se amontoavam em sua mente, uma mistura caótica de frustração, confusão e pesar. Ela era uma mulher acostumada a ser forte, mas agora, sentada diante de Lilia, permitiu-se baixar a guarda.

— Eu me deixei ser vulnerável. — Agatha agora encarava o liquido na xicara, memórias da sua primeira noite com Rio invadiram sua mente. — O jeito que ela me fez sentir segura. Rio me fez ter sensações das quais eu nem me lembrava mais. Eu sei que foi rápido, mas achei que tivesse encontrado algo diferente nela.

A chuva lá fora parecia ter sincronizado com a situação, batendo insistentemente contra as janelas. O som suave e ritmado pareceu contrastar com a agitação emocional de Agatha.

— Você se apaixonou por ela, não é? — A voz de Lilia soou calma, mas era perceptível uma nota de compaixão. Os orbes azuis de Agatha a encararam assustada, mas Lilia não precisava de uma confirmação para algo tão óbvio. — Às vezes as pessoas aparecem em nossa vida apenas para nos fazer sentir vivas, Agatha. Vulnerabilidade faz parte do ser humano.

— Não importa. — Agatha limpou o rosto tentando se livrar das lágrimas. — Eu lhe dei a chance de se explicar, sabe? Perguntei a ela se tinha algo que precisava me contar, mas Rio é tão arrogante que nem se deu conta de me contar a verdade. Tudo é uma piada para ela, incluindo eu.

— Já considerou que ela não sabia de que outra forma de se aproximar? — Agatha a olhou incrédula com a sugestão. — Você precisa deixa-la se explicar, Agatha.

— Não!

— Sim! — Lilia insistiu. — Mas não agora. Você está muito magoada para isso, só vai transformar tudo em uma briga.

— Eu vou demitir ela. — Agatha soltou irritada.

— Não vai não.

— Ela quebrou pelo menos uma dúzia de normas da empresa! — Agatha se levantou e começou a andar de um lado para o outro. — É claro que vou demiti-la.

Querida Agatha • AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora