Agatha sentava aflita no banco do passageiro enquanto olhava pela janela escaneando as ruas de Nova York, sua cabeça um turbilhão de pensamentos enquanto as luzes dos postes faziam turno iluminando seu rosto. Nunca foi religiosa, mas fazia uma prece silenciosa para que Nick simplesmente brotasse do chão.
Rio notava a tensão no corpo de Agatha à medida que as luzes da cidade passavam velozmente: eram uma dança frenética de cores que ecoavam na angústia compartilhada entre as duas. A mão forte de Rio não soltava a Agatha, como se seu toque fosse um elo desesperado, a única âncora em meio à tempestade de emoções que as envolvia. Ela dividia sua atenção entre a estrada e a advogada, sabendo muito bem que aquilo não significava um perdão, nem que as coisas estavam melhores entre elas, mas tudo o que pensava era em Nick e em como ajudar Agatha.
A primeira parada foi na rodoviária, onde Rio correu por uma hora de um lado para o outro com uma foto de Nicky no celular perguntando a todos os estranhos que passavam se alguém havia visto o garoto. Agatha passou o tempo todo no celular falando com o Sr. Hart e todas as outras delegacias de polícia da qual conseguia se lembrar, tentando descobrir se alguém com a mesma descrição do adolescente havia sido apreendido.
— Ele não passou por aqui. — Rio disse quando elas entraram no carro e começou a lentamente dirigir.
Agatha permaneceu em silêncio por um tempo, tentando absorver a notícia sem desmoronar. Ela se apoiou contra o assento do carro, exausta em nível quase irreconhecível, e fechou os olhos por um momento, tomando fôlego, como se buscasse forças nas trevas que encontrava.
— E agora? — perguntou, quase como um sussurro carregado de frustração.
— Checamos a rodoviária e ninguém na polícia pegou um garoto com a descrição dele. — Rio disse, a voz estoica enquanto mantinha os olhos fixos a sua frente. — Talvez ele não tenha fugido. Talvez... algo tenha acontecido.
Agatha soltou um suspiro pesado ao ouvir as palavras de Rio, sua garganta se apertou e um arrepio percorreu a espinha. Era difícil encarar a possibilidade de algo ter acontecido com Nicky, mas ela não podia mais fugir da realidade.
— O que mais podemos fazer? — perguntou, a voz trêmula.
— Vamos checar os hospitais. — Rio disse fazendo uma curva e mudando a direção. — Quando encontrarmos Nicky...
— Se o encontrarmos. — Agatha sussurrou.
— Quando o encontrarmos, — Rio repetiu, dando ênfase em sua frase — ele estiver bem e tudo isso não passar de um grande susto, o que você vai fazer?
Agatha franziu as sobrancelhas, virando a cabeça levemente para encarar a assistente.
— Como assim?
— Ele está apegado em você, Agatha. — Rio deu um pequeno suspiro. — Ele disse duas vezes que você era a mãe dele, uma para o segurança e outra para Jennifer Kale. Qual o seu objetivo com esse relacionamento? Você tem alguma intenção de adota-lo?
A pergunta de Rio atingiu Agatha com uma força inesperada. Ela hesitou brevemente antes de responder, os olhos buscando uma maneira de explicar a complexidade de seus sentimentos sem se entregar demais.
— Eu não sei, Rio. — Ela disse, sua expressão vulnerável. — Eu sempre quis ser mãe, mas o meu histórico familiar nunca foi dos melhores. Minha mãe... — Agatha relutou por um momento, mas resolveu confessar — Minha mãe me sufocou a vida inteira. Ela ditou qual faculdade eu iria cursar, qual profissão deveria seguir, até quais amigos eu devia ter. Ela odiava a minha aparência e fez eu me odiar por anos. Meu nariz, meu peso, tudo. Quando eu casei com Wanda foi um pesadelo, todos os natais ela fingia que éramos só amigas e tentava me arrumar algum homem. E ainda assim eu faria de tudo pela aprovação dela. — Agatha enxugou uma lagrima que escapou. — E se eu adotar o Nick e for uma mãe horrível igual ela era?
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Querida Agatha • Agathario
RomanceRio Vidal, assistente jurídica em uma prestigiada firma de Nova York, vive entre o trabalho duro e festas regadas a música e muito álcool. Em uma noite de diversão, ela e suas amigas criam um perfil fictício em uma rede social afim de provocar sua r...