Minha estadia no Pequeno Palácio estava longe de ser tranquila. Embora o lugar fosse de tirar o fôlego, com sua arquitetura refinada e jardins que pareciam saídos de um conto de fadas, minha rotina estava repleta de desafios. Fiz algumas amizades, mas nenhuma nas quais eu realmente pudesse confiar.As aulas com Baghra, minha treinadora, eram frustrantes. Ela era rígida, impaciente e, para piorar, batia em mim com uma bengala toda vez que eu falhava em evocar meus poderes. Eu simplesmente não conseguia. Era como se a luz dentro de mim estivesse presa, inacessível sem a ajuda de Kirigan.
- Você não é fraco, apenas está preso à sua própria mente! - ralhou Baghra, enquanto desferia outro golpe com sua bengala.
Minha frustração crescia a cada dia. E enquanto isso, os outros grishas se divertiam em encontros à beira de um lago, onde exibiam suas habilidades com orgulho. Sempre inventava desculpas para não ir. Não queria me humilhar mais do que já fazia nas aulas.
Apesar disso, algo curioso começou a acontecer. Meu envolvimento nas reuniões com Kirigan e seus grishas mais próximos aumentou. De alguma forma, minha opinião passou a ser valorizada, e eu era frequentemente convocado para participar de discussões estratégicas.
- Benjamin, o que acha? - perguntou um sangrador, apontando para o mapa sobre a mesa.
Olhei para o ponto indicado e analisei a situação.
- Aqui seria ideal. Os lutadores de Fjerda estão concentrados desse lado, mas temos uma oportunidade de flanquear por aqui - sugeri, apontando outra área.Kirigan soltou um sorriso irônico.
- Se continuar assim, vai roubar meu lugar - brincou.Forçando um sorriso, respondi:
- Farei o possível para que isso não aconteça.A verdade é que, às vezes, sentia que ele estava testando minha lealdade. Kirigan era um enigma. Jovem e atraente, mas com um olhar que carregava séculos de segredos. Embora ele demonstrasse interesse em me treinar e apoiar, eu não conseguia ignorar a sensação de que havia algo sombrio por trás de suas intenções.
Em uma noite particularmente cansativa, decidi sair para tomar um ar fresco. A lua brilhava no céu, refletindo no lago próximo. Foi quando ouvi passos atrás de mim.
- No que tanto pensa? - perguntou Genya, aproximando-se com um sorriso.
- Amplificadores - respondi diretamente.
- Para quê? Você já é forte o suficiente.
- Quero estar preparado para tudo.Ela parou por um momento, pensativa.
- Tudo bem. Eu te ajudarei a encontrá-los.Um sorriso agradecido surgiu em meu rosto.
- Obrigado, Genya.Ela segurou meu braço, interrompendo minha caminhada.
- Você não lembra que tem aula com Botkin agora? Combate corpo a corpo. Está na sua agenda.- Botkin... - suspirei. - Suas aulas são monótonas. Ele me treina para lutar contra o nada. Quando eu não apanho, sou eu quem bate. Mas, tirando isso, é... suportável.
Sentamos em um banco próximo, e percebi o quanto a presença de Genya era reconfortante. Ela preenchia um vazio deixado por alguém do meu passado.
- Sabe, você me lembra uma pessoa do orfanato em Keramzin. Uma amiga... Evie. Nós éramos inseparáveis, mas nos separamos quando eu descobri que era grisha e ela não.
- Você viverá séculos, ela não. Isso é difícil, mas você precisa aceitar.
Hesitei antes de falar.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Você aceitaria ser a chefe da minha guarda pessoal?Genya piscou, surpresa.
- Você tem certeza?
- Absoluta. Não há outra pessoa em quem eu confie tanto para proteger minha vida.Os olhos dela se encheram de emoção, mas, antes que pudesse responder, acrescentei:
- Há mais uma coisa. Quero encontrar os amplificadores de Morozova, e pretendo usar todos os três para conectar cinco pessoas.Ela ficou estática.
- Você faria isso? De verdade?
- Quero te dar séculos de vida ao meu lado, Genya.Ela me abraçou com força, incapaz de conter as lágrimas.
- Não tenho palavras. Obrigada, Benjamin.A ideia de formar uma guarda pessoal com grishas poderosas parecia ousada, mas necessária. O próximo nome na lista era Zoya. Apesar de nosso começo difícil - ela havia me arremessado no ar durante nossa primeira aula com Botkin -, sabia que poderia contar com ela.
- Olá, Zoya - cumprimentei, aparecendo de surpresa.
- Benjamin. - Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada.
- Tenho um convite. Quero você na minha guarda.
- Aceito.A resposta imediata me surpreendeu.
- Foi mais fácil do que imaginei...Zoya deu um sorriso enigmático.
- Por que achou que seria difícil?- Bem... - hesitei, mas ela me interrompeu.
- Já entendi. De qualquer forma, obrigada pelo convite, Moi Sovereniy. - Ela fez uma mesura e se retirou.As próximas recrutas foram mais simples: Marie, uma infernal, e Nadia, uma hidro. Amigas leais, aceitaram sem hesitar. Com minha equipe formada, era hora de começar a busca pelos amplificadores.
A decisão de conectar cinco pessoas a três amplificadores era arriscada. Nunca havia sido feito antes, mas acreditava que isso nos daria a força necessária para proteger Ravka. Se eles esperavam mudanças, eu lhes daria a mudança.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
Viễn tưởngEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...