A volta ao Pequeno Palácio foi recebida com uma mistura de alívio e expectativa. O Açoite do Mar, segundo amplificador de Morozova, estava finalmente seguro em nossas mãos, e a cerimônia de união estava prestes a acontecer. O ritual exigia a presença do Rei e da Rainha, uma oportunidade para mostrar a eles a força e a unidade dos grishas sob minha liderança. Não era apenas uma formalidade, mas um passo crucial em nossa jornada.
A notícia sobre o amplificador havia se espalhado rapidamente pelos corredores do palácio, e logo o salão do trono estava repleto. Grishas, nobres e oficiais se acomodavam nas cadeiras, trocando olhares curiosos, ansiosos para ver a cerimônia que mudaria o curso da história de Ravka.
Eu, acompanhado de minha guarda pessoal, entrei no grande salão. Os passos ecoaram pelo espaço majestoso, com suas altas colunas e tapestries que contavam histórias passadas. O Rei e a Rainha estavam posicionados em seus tronos, observando-nos atentamente.
- Moi Tzar. Moi Tzareia. - Fiz uma reverência profunda, com a mão no peito.
O Rei, com um sorriso de aprovação, fez um gesto para que nos aproximássemos. A Rainha, mais reservada, manteve o olhar fixo em mim, mas não escondia sua curiosidade.
- Benjamin Starkov, Conjurador do Sol. Nos disseram que o amplificador foi conquistado com sucesso - disse o Rei, sua voz ressoando pelo salão.
- Sim, vossa majestade. E hoje, com sua permissão, faremos algo que ninguém jamais tentou: unir cinco grishas ao segundo amplificador de Morozova. - Respondi, com uma confiança que tentei transmitir apesar do peso da responsabilidade que pesava sobre mim.
A Rainha olhou-me com uma expressão que misturava fascínio e ceticismo.
- Interessante - murmurou ela, baixinho.
O Rei fez um gesto para que começássemos, sinalizando para David. Ele deu um passo à frente, carregando uma caixa de veludo negro, cuidadosamente forrada. Dentro dela, repousavam as escamas brilhantes do Açoite do Mar, o segundo amplificador. Cada escama exalava uma energia pulsante, e a atmosfera ao redor parecia carregada com a força do amplificador.
David abriu a caixa com cuidado e, com a precisão que só ele possuía, começou a transformar as escamas em pulseiras. Ele passou uma a uma para mim e para minhas companheiras, começando com Genya, depois Zoya, Marie e Nadia. Cada uma delas, ao receber a pulseira com a escama, sentiu um leve formigamento na pele. Era a magia do amplificador se ligando aos seus corpos.
Eu fui o último a receber minha pulseira. Quando o toquei, senti um poder desconhecido e feroz percorrer meus braços e pernas. A energia parecia crescer dentro de mim, preenchendo cada célula do meu corpo com uma força como nunca antes.
Eu podia sentir a energia do Açoite do Mar se entrelaçar com a minha própria, e as luzes douradas e azuis começaram a emanar de nossos corpos. O salão ficou em silêncio absoluto, todos os olhos estavam voltados para nós. Não era apenas a união dos amplificadores aos grishas; era a demonstração do que estávamos prestes a alcançar.
David, olhando para o processo com satisfação, murmurou:
- Está feito.O brilho dourado se dissipou lentamente, mas a energia que pulsava dentro de nós não se foi. Estávamos mais fortes, mais conectados, e mais poderosos do que nunca.
O Rei e a Rainha estavam boquiabertos. Não era para menos. O que havíamos feito não tinha precedentes. A magia da Dobra se fundia com a força do amplificador e com nossa própria energia. Havíamos acabado de forjar uma nova era para Ravka.
Finalmente, o Rei se levantou, batendo palmas lentamente. O som ecoou pelo salão, e logo foi seguido pelos aplausos de todos os presentes.
- A união dos amplificadores. Um feito histórico - disse ele, com um sorriso satisfeito.
- Agradeço, vossa majestade. Mas ainda temos muito a fazer. O terceiro amplificador não está conosco, e nossa jornada está longe de terminar - respondi, com um tom firme.
A Rainha olhou para mim, seus olhos analisando-me com mais cuidado.
- Este terceiro amplificador... você realmente acredita que pode controlá-lo? - perguntou ela, com uma leve dúvida em sua voz.- Eu acredito que não temos escolha. Se queremos salvar Ravka, todos os amplificadores devem ser reunidos. E o poder deles será nossa única chance de vencer o que está por vir.
A Rainha assentiu lentamente, como se ponderasse minhas palavras.
- Muito bem, Benjamin. Façam o que for necessário, então.Eu sabia que a batalha para unir os amplificadores estava apenas começando. Precisávamos de todos os recursos de Ravka para que nossa missão tivesse êxito. E, enquanto as cortinas da cerimônia se fechavam, uma sensação de que algo ainda maior estava prestes a acontecer se instalou em meu peito.
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Enquanto o salão se esvaziava e os nobres se dispersavam, deixando-nos a sós com nossa tarefa, Genya, Zoya e as outras chefes de ordem me olharam com expressões sérias.
- Isso é apenas o começo, Benjamin - disse Zoya, com um olhar focado.
- Sei disso - respondi, sentindo a mesma intensidade em meu peito. - Mas agora temos o poder que tanto precisávamos. E com ele, podemos mudar o destino de Ravka.Genya olhou para mim, os olhos cheios de perguntas.
- E você, Benjamin? Como está se sentindo?Antes que pudesse responder, as portas do salão se abriram bruscamente. Todos nos viramos, e, para nossa surpresa, Kirigan apareceu. Ele estava pálido, suas roupas rasgadas e uma expressão de dor no rosto. Ele parecia... ferido.
- Kirigan! - exclamou Genya, correndo em sua direção, mas ele fez um gesto para que ela se afastasse.
- Não... eu estou bem. Preciso falar com vocês - disse ele, sua voz fraca, mas ainda autoritária.
Ele caminhou até o centro do salão, se apoiando nas paredes, e nos encarou com aqueles olhos penetrantes que nunca perdia.
- Eu voltei... porque há algo muito maior vindo. Algo que vocês não conseguem entender. Uma ameaça... que vocês não estavam preparados para enfrentar. - Sua voz tremia, e seu corpo estava claramente debilitado, mas suas palavras eram claras e diretas.
Genya, com a expressão preocupada, foi até ele e tentou examiná-lo, mas Kirigan a impediu com um gesto.
- Não agora, Genya. Não temos tempo. O que eu vi... a ameaça está além da Dobra. Eles sabem sobre os amplificadores. Estão vindo por vocês, por nós.Minha mente se encheu de preocupações, mas algo em sua postura não parecia certo. Ele estava fraco, sim, mas seus olhos não refletiam medo. Pelo contrário, eles estavam frios, calculistas, como se estivesse controlando a situação.
- Quem está vindo, Kirigan? - perguntei, tentando manter a calma.
Ele hesitou por um momento, como se ponderasse suas palavras, mas finalmente respondeu:
- Não posso dizer agora. Mas vocês precisam se preparar.A tensão no ar era palpável. Todos sentiam que algo estava errado. Mas, de alguma forma, ninguém ousava questionar Kirigan. Ele era o líder, o general. Não podíamos duvidar dele. Mesmo que, no fundo, algo em sua atitude me deixasse desconfortável.
Ele olhou para todos nós e, antes de se retirar com os guardas, fez uma última observação:
- Fiquem atentos. A guerra já começou.Assim que ele saiu, um silêncio profundo tomou conta do salão.
- Algo está errado - murmurou Genya, com os olhos fixos na porta por onde Kirigan havia saído.
Eu sabia que ela tinha razão. Mas, neste momento, não havia mais tempo para questionamentos. O futuro de Ravka dependia de nós. E agora, mais do que nunca, precisávamos estar prontos para tudo.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
FantasyEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...