Por incrível que pareça, a chegada ao outro lado da Dobra foi tranquila. Tranquila até demais. Assim que nosso esquife atracou, apaguei a luz que iluminava o caminho e permiti que as sombras voltassem a dominar a Dobra, prendendo os monstros novamente na escuridão.
Descemos com cautela. Minha guarda me acompanhou de perto enquanto os outros grishas esperavam instruções para desembarcar.
- Zoya, comande seus aeros. Você sabe o que fazer - ordenei.
Ela assentiu e ergueu as mãos, criando uma barreira de vento rápida e quase impenetrável.
- Aeros, posição 237! - gritou Zoya, com um trovão estalando ao fundo.Os sangradores assumiram suas posições logo em seguida, liderados por Genya. Mesmo com as formações defensivas, o grupo que nos esperava à distância parecia estranhamente calmo. Não havia hostilidade em suas posturas, mas algo neles me deixou desconfiado.
De repente, notei uma figura familiar entre eles.
- Genya - chamei em um tom baixo.
- Sim?
- Pode detectar alguma magia sobre aquele homem? Ele parece... diferente.Ela moveu os dedos habilmente, e as características da figura começaram a se desfazer, revelando sua verdadeira identidade.
Eu estreitei os olhos, reconhecendo-o imediatamente.
- Nikolai. O que está fazendo aqui?
Ele sorriu, como sempre, com uma confiança que beirava a insolência.
- Benjamin Starkov, o famoso Conjurador do Sol. Finalmente nos encontramos.- Isso não responde minha pergunta - retruquei, cruzando os braços.
Ele riu.
- Estou aqui para ajudar, é claro. Tenho informações valiosas sobre o próximo amplificador.Minha desconfiança era evidente, mas Nikolai era persuasivo, e seu histórico de navegar pelos mares podia ser útil.
- Muito bem. Mas se você mentir ou forçar minha paciência, vai se arrepender - avisei.
Ele sorriu ainda mais.
- Entendido, Moi Sovereniy.---
Com Nikolai liderando o caminho, seguimos até uma enseada onde um de seus navios nos aguardava. Ele explicou que o próximo amplificador, o Açoite do Mar, habitava as profundezas do oceano próximo e que só poderia ser derrotado em sua própria arena: as águas abertas.
Quando embarcamos, o ambiente mudou drasticamente. O som das ondas e o cheiro salgado do mar aumentaram a tensão.
- Benjamin, você entende o que isso significa, certo? - disse Nikolai, enquanto olhava para o horizonte.
- Claro. Estamos entrando no território dele, e ele terá vantagem - respondi.
Nikolai assentiu.
- Isso mesmo. O Açoite do Mar não é apenas um amplificador. É um predador.Minha guarda estava em silêncio, mas o nervosismo era palpável. Zoya, acostumada com o poder dos aeros, parecia inquieta.
- Você confia que sua lâmina de luz será suficiente? - perguntou ela.
- Não tenho outra escolha - respondi, firme.
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Chegamos ao ponto indicado por Nikolai ao cair da noite. As águas estavam calmas demais, um sinal claro de que algo estava prestes a acontecer.
- Todos em posição! - ordenei, enquanto me movia para o centro do convés.
A tensão era esmagadora, e então... aconteceu. As águas começaram a girar, formando um redemoinho que parecia surgir do nada. Uma criatura colossal emergiu, suas escamas brilhando com um tom prateado que refletia a luz da lua.
- O Açoite do Mar - sussurrou Genya, com os olhos arregalados.
A criatura soltou um rugido ensurdecedor, e a água ao redor do navio explodiu em ondas violentas.
- Grishas, mantenham o equilíbrio do navio! Infernais, cuidado com o fogo! - gritei, enquanto me preparava para enfrentá-lo.
O Açoite avançou, suas barbatanas afiadas como lâminas cortando as correntes marítimas. Não havia tempo para hesitar. Fechei os olhos e evoquei meu poder, sentindo a luz pulsar em minhas mãos.
Uma lâmina brilhante começou a se formar, sua energia irradiando calor e força.
- Benjamin, cuidado! - gritou Zoya, quando a criatura avançou em minha direção.
Com um salto, girei no ar e desci a lâmina com toda minha força. A luz cortou a água e atingiu o Açoite diretamente. Ele rugiu de dor, mas não estava derrotado.
- Não vai ser tão fácil... - murmurei, preparando-me para o próximo golpe.
O Açoite mergulhou, desaparecendo nas profundezas, mas não por muito tempo. Ele voltou à superfície com ainda mais fúria, criando ondas que quase viraram o navio.
- Sangradores, mantenham os feridos em pé! Hidros, estabilizem as águas! - ordenou Genya, enquanto coordenava o grupo.
Reunindo toda minha força, concentrei-me na lâmina. Desta vez, ela brilhou ainda mais intensamente, como um pedaço do próprio sol. Quando o Açoite atacou novamente, não recuei.
Avancei.
A lâmina atravessou o coração da criatura, e um clarão cegante iluminou o céu noturno. O Açoite soltou um último rugido antes de desaparecer, deixando apenas uma aura dourada pairando sobre a água.
- Conseguimos... - murmurei, ofegante.
David correu para coletar os restos do amplificador: escamas reluzentes e barbatanas que brilhavam como cristais.
- Está feito - disse ele, guardando os fragmentos com cuidado.
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Enquanto o navio voltava ao porto, uma sensação de alívio tomou conta da tripulação. Porém, no fundo, todos sabíamos que o pior ainda estava por vir. O terceiro amplificador nos aguardava, e a jornada estava longe de terminar.
- Dois amplificadores... só falta mais um - disse Genya, tentando soar otimista.
- E com isso, mais perigo - completei, olhando para o horizonte.
A noite estava calma novamente, mas eu sabia que essa paz não duraria muito tempo.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
FantasíaEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...