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Grishaverse - capítulo 13 pt 2 - A criação.

O Nascimento da Dobra das Sombras

A biblioteca do Pequeno Palácio estava mergulhada em silêncio. As tochas nas paredes lançavam sombras que dançavam, como se fossem pedaços da própria Dobra tentando invadir aquele espaço sagrado. As páginas antigas de um manuscrito desbotado estavam diante de mim.

Este texto, recuperado por Nikolai, continha detalhes sobre a criação da Dobra - o maior desastre da história de Ravka. O mundo sabia que ela havia sido criada pelo Herege Negro, mas poucas pessoas entendiam como e por quê.

Minhas mãos tremiam enquanto lia as palavras:

"Aleksander Morozova, o Conjurador das Sombras, acreditava que o poder era a única maneira de proteger os grishas. Mas a sombra que ele invocou trouxe apenas destruição."

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Séculos antes...

Aleksander Morozova, um jovem grisha, era conhecido não apenas por sua rara habilidade de manipular sombras, mas também por seu carisma. Ele era um estrategista brilhante, alguém que via a verdadeira desigualdade no mundo: os grishas eram caçados, queimados e tratados como monstros. Ele era um homem de ideais, e seu maior desejo era criar um lugar seguro para seu povo.

Mas a violência contra os grishas estava crescendo. Os otkazats'ya, aqueles sem habilidades mágicas, os perseguiam sem trégua. Aleksander viu amigos serem mortos em praças públicas, grishas traídos e entregues a inimigos. Ele tentou negociar com reis e líderes, mas nenhum deles o ouviu.

Assim, Aleksander decidiu que era hora de usar seu poder para mudar o destino de seu povo.

A ideia inicial era simples: criar uma barreira de sombra. Uma fortaleza intransponível, onde grishas poderiam se refugiar. Ele começou a trabalhar em segredo, reunindo outros Conjuradores e estudando antigos textos sobre a Pequena Ciência. Mas o que ele estava tentando fazer era algo nunca tentado antes: uma manipulação em larga escala das forças naturais.

Aleksander sabia que seria perigoso. A sombra era instável por natureza, difícil de controlar. Mas ele também sabia que não podia parar.

Na noite do ritual, Aleksander reuniu-se com seus seguidores em um campo ao norte de Ravka. Era um lugar isolado, onde ninguém poderia interferir. O ar estava carregado de tensão. Os grishas estavam nervosos, mas confiavam em Aleksander. Ele era o líder deles, o salvador.

Ele começou o ritual com um círculo de sombras, moldando a escuridão em um muro ao seu redor. As palavras antigas que ele entoava pareciam vibrar no ar. A barreira crescia, e Aleksander sentiu o poder fluir por suas veias como nunca antes.

Mas então, algo deu errado.

A sombra não parava de crescer. Ela se expandia além do controle de Aleksander, devorando tudo em seu caminho. O campo, as árvores, até mesmo os grishas que estavam mais próximos foram consumidos. Aleksander tentou conter a magia, mas era tarde demais. A sombra tinha vida própria agora, e dentro dela, algo terrível nasceu: os volcras.

Essas criaturas, formadas pela própria magia que Aleksander invocara, eram monstros vorazes, famintos por carne e luz. Eles atacaram indiscriminadamente, destruindo qualquer coisa viva dentro da Dobra recém-criada. Aleksander, em choque, percebeu que havia condenado não apenas seus inimigos, mas também os grishas que ele queria proteger.

Quando a manhã chegou, Aleksander estava sozinho no centro da Dobra. Ele viu o rastro de destruição que havia causado. O campo havia desaparecido, substituído por uma faixa interminável de escuridão. As criaturas dentro dela ainda rugiam, como se comemorassem sua criação.

Os reis o chamaram de Herege Negro, e os grishas o abandonaram. Aleksander, no entanto, não desistiu. Ele fugiu, mas jurou que usaria sua criação para forçar Ravka a reconhecer o poder dos grishas.

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Voltei ao presente, fechando o manuscrito com cuidado. As palavras pesavam em minha mente. A história de Aleksander era um lembrete sombrio de como o poder, mesmo com boas intenções, podia levar à destruição.

- Ele acreditava que estava salvando seu povo. - A voz de Evie quebrou o silêncio, fazendo-me virar. Ela havia entrado na biblioteca sem que eu percebesse.

- E acabou destruindo tudo - respondi, minha voz baixa.

Evie aproximou-se, olhando para o manuscrito.
- Você não é ele, Benjamin. Você não vai repetir os erros dele.

- E se eu não tiver escolha? E se, no final, o poder for demais para controlar?

Ela colocou a mão sobre a minha.
- A diferença entre você e Aleksander é que você não está sozinho. Ele estava. E isso fez toda a diferença.

Eu queria acreditar nela. Queria acreditar que minha guarda, Nikolai e até mesmo Evie seriam suficientes para me impedir de cometer os mesmos erros. Mas a verdade era que, no fundo, eu sabia que apenas eu poderia destruir a Dobra. E o preço disso ainda era desconhecido.

Enquanto Evie deixava a biblioteca, voltei minha atenção para os textos antigos. Precisava entender mais. Precisava saber exatamente como Aleksander perdeu o controle - e como garantir que eu não seguiria o mesmo caminho.

A história do Herege Negro não era apenas uma lição. Era um aviso.