Grishaverse - capítulo 2.

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A chegada em Os Alta foi completamente tumultuada. No portão principal do palácio, uma multidão se aglomerava, gritando e chorando enquanto me puxavam como se eu fosse um santo.

- Sank't! Sank't! - gritava uma mulher desesperada. - Por favor, me ajude! Me abençoe!

Atravessar aquela multidão foi exaustivo, mas, assim que passamos pelos portões da cidade, a atmosfera mudou completamente. Lá dentro, vi grandes jardins, crianças correndo e brincando de um lado para o outro, e grishas treinando com fervor. Porém, não paramos ali. Fomos conduzidos pela muralha que separava a cidade do palácio propriamente dito.

Ao chegarmos, fui apresentado ao general do Segundo Exército, o temido Kirigan. Ele me observou em silêncio, sem dizer uma palavra, apenas gesticulando para que me levassem a um quarto.

- Descanse. Amanhã você será apresentado ao Rei - disse o general, saindo sem mais explicações.

O quarto era luxuoso, com um colchão macio que parecia me convidar ao descanso. Assim que a porta se fechou, desabei sobre a cama, finalmente permitindo que as lágrimas rolassem por meu rosto. A viagem havia sido longa e emocionalmente desgastante. Eu não era apenas um órfão perdido; agora, aparentemente, eu era algo muito maior, algo que eu não entendia totalmente.

O som de batidas suaves na porta me despertou do sono leve em que havia caído.

- Entre! - falei, ainda sonolento.

Uma jovem entrou no quarto. Seus cabelos ruivos brilhavam sob a luz, e seu olhar era firme e curioso.

- Santos, de onde você vem que não existe chuveiro? - disse ela, franzindo o nariz.
- Desculpe? - perguntei, confuso.
- Levante-se! Vamos, você precisa de um banho. Ah, meu nome é Genya.

Sem que eu tivesse tempo de reagir, empregadas entraram no quarto, praticamente me empurrando em direção ao banheiro. Tentei resistir, mas foi inútil.

- Isso é... constrangedor - murmurei enquanto elas me despiam e me colocavam na banheira. Meu rosto queimava de vergonha.
- Não se prenda aos detalhes. Você é só mais um homem normal, já viram tudo antes - disse Genya, com uma risada divertida.

Quando o banho terminou, Genya entregou-me uma roupa magnífica.

- Aqui está. Um belo kefta. Vista-se rápido, preciso preparar sua pele - ordenou ela.

Eu fiquei sem palavras. O kefta era azul, com detalhes dourados bordados à mão.

- Uau, isso é lindo - murmurei, ainda em choque.
- O azul é para os Etherealks, e o dourado representa o seu poder. Foi feito sob medida para você.

Conforme me vestia, fiquei pensando em como haviam tirado minhas medidas sem que eu percebesse. No entanto, não havia tempo para reflexões. Genya continuava dando ordens, e eu obedecia.

Logo, estávamos descendo as escadas em direção à sala onde eu seria apresentado ao Rei e à Rainha. Cada passo aumentava minha ansiedade. "Eles gostarão de mim? O que irão dizer?", pensei.

- Saia deste mundo - uma voz grave me interrompeu.

Era o general Kirigan. Ele se aproximou, me analisando com atenção.

- Está preparado? - perguntou.
- Claro que não! Vou ser apresentado ao Rei e à Rainha. Como poderia estar?

O general deu um sorriso enigmático e me entregou um tecido para cobrir meu rosto.

- O primeiro a ver seu rosto deve ser o Rei - disse ele.

Ao entrar na sala do trono, senti os olhares pesados recaírem sobre mim. Cochichos surgiram entre os presentes. O general me conduziu até o centro do salão, onde o Rei e a Rainha aguardavam em seus tronos.

- Moi tzar - disse Kirigan, fazendo uma reverência. - Este é o conjurador do sol.

A Rainha arqueou uma sobrancelha, examinando-me de cima a baixo.

- Eu pensei que ele fosse Shu - comentou.
- Ele é Shu o suficiente - respondeu o Rei, com um sorriso de canto. - Diga-me, sabe falar nossa língua?

- Não falo Shu, vossa majestade - respondi, inclinando-me em respeito.
- Qual é o seu nome?
- Benjamin, vossa majestade.

- Você acredita ser o que dizem? - indagou o Rei, com olhar curioso.

Respirei fundo antes de responder:
- O que eu acho não importa. Se nasci assim, então é isso que sou, vossa majestade.

O Rei sorriu levemente, impressionado com minha resposta.

De repente, Kirigan se aproximou, trazendo a escuridão para cada canto da sala. Um trovão ecoou no salão, assustando os presentes.

- Traga a luz, Benjamin - ordenou ele.
- Eu não sei como - confessei, desesperado.

- A luz está em toda parte. Chame por ela - disse ele, pegando meu braço.

Quando o toque do general se encontrou com a minha pele, senti algo pulsar dentro de mim. A luz emanou do meu corpo como uma cascata dourada, dissipando a escuridão. Cochichos exaltados se espalharam pelo salão. Alguns fizeram reverências, outros observavam, incrédulos.

- Como você fez isso? - perguntei, ofegante.
- Eu não fiz nada, Benjamin. Essa luz vem de você - respondeu o general, soltando meu braço.

A luz se extinguiu gradualmente, enquanto o Rei e a Rainha me observavam com fascínio. Assim que o "espetáculo" terminou, fui cercado por outros grishas, que me abraçaram e parabenizaram com entusiasmo.

Mas, dentro de mim, eu sabia: isso era apenas o começo.

Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱOnde histórias criam vida. Descubra agora