A Tentativa de Destruir a Dobra
A biblioteca do Pequeno Palácio era agora o centro de todas as minhas esperanças. Durante dias, minha guarda e eu havíamos vasculhado manuscritos antigos, tentando encontrar uma maneira de destruir a Dobra com os dois amplificadores que já tínhamos. Cada página lida, cada nota revisada parecia apontar para o mesmo lugar: o centro da Dobra das Sombras.
Esse era o ponto onde Aleksander, o Herege Negro, havia perdido o controle e onde tudo começara. Era também o único lugar onde a Dobra poderia ser desfeita. Mas as anotações eram claras: sem o terceiro amplificador, tentar apagar a Dobra seria arriscado e, muito provavelmente, impossível.
Eu estava em silêncio, as palavras no pergaminho diante de mim pulsando em minha mente:
"A Dobra nasceu no coração da escuridão. E apenas lá ela pode ser destruída."
Genya, que estava ao meu lado, observava-me com preocupação.
- Benjamin, você sabe o que isso significa, não sabe?- Significa que eu preciso entrar - respondi, minha voz baixa, mas firme.
Zoya entrou na sala naquele momento, cruzando os braços enquanto me encarava.
- E com apenas dois amplificadores? Isso é suicídio, Benjamin.- Não tenho outra escolha. A Dobra precisa acabar. Não posso esperar pelo terceiro amplificador enquanto ela continua dividindo Ravka.
- Você não está pronto - argumentou ela, o tom mais suave do que eu esperava.
- E se eu nunca estiver? - retruquei, levantando-me. - Quantas vidas mais a Dobra vai tomar enquanto esperamos?
As palavras pairaram no ar, e ninguém respondeu. Sabíamos que eu estava certo.
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Naquela noite, preparamos tudo para minha entrada na Dobra. Minha guarda estava relutante em deixar que eu fosse sozinho, mas eu sabia que era necessário. Se algo desse errado, eu não poderia arriscar suas vidas.
- Isso é loucura, Benjamin - disse Genya, enquanto me entregava um mapa da Dobra com as possíveis localizações do centro. - Mas se alguém pode fazer isso, é você.
Eu sorri, tentando esconder minha própria incerteza.
- Cuide de tudo aqui. Se eu não voltar... - comecei a dizer, mas ela me interrompeu.- Você vai voltar. Não tem outra opção.
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Quando entrei na Dobra, o mundo ao meu redor mudou instantaneamente. O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelos sons distantes dos volcras, as criaturas aladas que patrulhavam a escuridão. Minha luz, alimentada pelos dois amplificadores, brilhava com força, afastando as sombras ao meu redor.
O centro da Dobra era um lugar que eu só conhecia pelos mapas e descrições antigas. Era lá que o Herege Negro havia criado essa monstruosidade, onde a magia da sombra escapou de seu controle e se tornou viva. À medida que me aproximava, a tensão no ar aumentava.
Finalmente, cheguei a uma clareira onde a escuridão parecia mais densa, quase sólida. O centro. Este era o lugar onde tudo começara - e onde, com sorte, tudo terminaria.
Eu respirei fundo, fechando os olhos e concentrando toda a minha energia. A luz em meu corpo pulsava, crescendo em intensidade enquanto eu tentava canalizar meu poder.
Eu consigo fazer isso, pensei. Eu preciso fazer isso.
Com um movimento, liberei a luz, tentando envolvê-la ao redor da Dobra, mas algo estava errado. A sombra reagiu com força, lutando contra mim. As criaturas começaram a surgir das trevas, rugindo e atacando em ondas.
- Não! - gritei, tentando canalizar mais poder.
A luz tremulava, instável, como se não fosse suficiente. Eu estava tentando algo impossível sem o terceiro amplificador. A Dobra começou a empurrar minha magia de volta, me engolindo lentamente.
A falha era inevitável. Meu poder simplesmente não bastava.
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Horas depois, o silêncio voltou à Dobra. Minhas tentativas de destruí-la haviam sido em vão, e agora eu estava preso no centro. A luz ao meu redor estava quase apagada, meu corpo exausto e minha mente sobrecarregada com o fracasso.
- Não era para ser assim - murmurei para mim mesmo, minha voz perdida na escuridão.
Foi então que senti a presença dele. Kirigan. Ele emergiu das sombras como se fosse parte delas, com um sorriso frio e confiante no rosto.
- Benjamin, você realmente achou que poderia destruir algo que eu criei? - disse ele, sua voz carregada de ironia.
Eu me levantei com dificuldade, a luz em minhas mãos piscando fracamente.
- Eu não preciso da sua ajuda, Kirigan.Ele riu, aproximando-se com calma.
- Claro que precisa. Você não entende ainda, mas somos iguais. E quando você perceber isso, verá que o único caminho é comigo.- Nunca - retruquei, minha voz firme.
Kirigan me observou por um momento, seu sorriso desaparecendo.
- Então continue aqui, sozinho, na escuridão. Vamos ver quanto tempo você dura.Ele se afastou, desaparecendo nas sombras mais uma vez.
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No Pequeno Palácio, a notícia de minha falha chegou rapidamente. Genya, Zoya, Nikolai e os outros receberam informações de que eu havia entrado na Dobra, mas nunca saí. E quando começaram a surgir rumores de que Kirigan havia sido visto ao meu lado, a desconfiança tomou conta.
- Ele não faria isso - disse Zoya, com raiva. - Benjamin jamais se uniria a Kirigan.
- Então por que ele ainda está lá? - perguntou um oficial do Primeiro Exército.
- Porque ele está tentando salvar Ravka! - respondeu Genya, mas sua voz traiu a insegurança que começava a crescer.
A corte inteira começou a acreditar que eu havia me aliado a Kirigan, e a pressão sobre minha guarda aumentou. Mas eles não podiam fazer nada, não sem me encontrar primeiro - e sem arriscar suas próprias vidas na Dobra.
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Sozinho no centro da escuridão, eu sabia que o mundo acreditava que eu os havia traído. Mas isso não importava. Eu não sairia até que encontrasse uma maneira de destruir a Dobra.
E, para isso, eu precisava do terceiro amplificador.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
FantasyEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...