Desde que assumi o cargo de general do Segundo Exército, minha rotina estava tomada por reuniões estratégicas, treinos exaustivos e preparações para uma guerra iminente. Apesar do caos, uma pergunta me incomodava constantemente: Onde estava Kirigan?
- Genya, você disse que ele foi embora, mas isso não faz sentido. Ele é o Conjurador das Sombras, o mais poderoso de todos nós. Como assim "não há mais nada para ele aqui"? - questionei, ainda intrigado.
- Benjamin, você precisa parar de se preocupar com isso. Concentre-se no que importa agora. - Sua voz era calma, mas firme.
Apesar do conselho, não conseguia afastar a sensação de que Kirigan estava tramando algo. Ele era astuto demais para simplesmente desaparecer.
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Os dias no Pequeno Palácio, embora ocupados, começaram a ganhar um ritmo estranho. Uma calmaria momentânea pairava no ar. Desde a mudança de liderança, até mesmo os cidadãos de Ravka começaram a adotar o termo grisha em vez de estringe. Foi algo que começou de forma sutil, mas que, com o tempo, tornou-se a norma.
"Minha palavra tem mais impacto do que imaginei", pensei, enquanto refletia sobre a mudança.
Além disso, ouvi rumores de que o orfanato de Keramzin havia recebido um novo duque, Lionel de Keramzin. Era estranho pensar naquele lugar novamente. Eu cresci lá, mas agora, minha vida estava tão distante que tudo parecia um sonho distante.
No entanto, algo mais urgente demandava minha atenção. Depois de cinco meses usando o amplificador do cervo, estávamos finalmente prontos para procurar o segundo amplificador, localizado do outro lado da Dobra.
- Acha que conseguiremos? - perguntou David, aproximando-se de Genya enquanto estávamos nos preparando para a jornada.
- É claro que sim... certo? - respondeu Genya, sua voz traindo uma leve dúvida. - Eu confio em nossa equipe, mas... e se algo der errado?
- Você duvida de Benjamin? - questionou David, tentando acalmá-la.
- Não é isso... eu só... - Genya suspirou e mudou de assunto.
A conversa deles me fez refletir sobre a magnitude da nossa missão. Atravessar a Dobra nunca era uma tarefa simples, e mesmo com o poder que tínhamos, sabíamos que seria perigoso.
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Marchamos em direção à Dobra, um grupo misto de veteranos e grishas novatos. A tensão era palpável no ar.
- Grishas, atenção! - ordenei, parando o grupo antes de chegarmos ao esquife que nos levaria pela escuridão. - Assim que entrarmos na Dobra, ninguém deve falar, olhar ou sussurrar com quem quer que seja. Fiquem atentos.
Eles assentiram, e continuamos. Antes de subir no esquife, Genya e as outras chefes de ordem deram seus próprios avisos aos novatos:
- Sangradores, este será o pior momento de suas vidas. Estejam prontos! - declarou Genya.
- Aeros, atenção total. Este será o pior dia de suas vidas! - acrescentou Zoya.- Hidros e infernais, o mesmo vale para vocês. Não abaixem a guarda nem por um segundo! - completaram Nadia e Marie.
Assim que todos estavam a bordo, fiz um gesto para Zoya. Ela moveu as mãos com habilidade, e o vento encheu as velas do esquife, que começou a se mover pela escuridão.
Dentro da Dobra, evoquei meu poder, criando pequenos raios de luz que se transformaram em um domo protetor, iluminando nosso caminho. Mesmo assim, sabíamos que os volcras podiam sentir a energia emanada do amplificador de Morozova que carregávamos.
- Chefes de ordem, estejam atentos. Essas criaturas conseguem perceber a força do amplificador. A qualquer sinal de ataque, protejam seus grupos! - gritei, para garantir que todos ouvissem.
A tensão era esmagadora, mas o silêncio reinava. Olhei para minha equipe. Genya, Zoya, Nadia e Marie pareciam confiantes por fora, mas eu sabia que, como eu, estavam temerosas.
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Para nossa surpresa, a travessia foi tranquila. Nenhum ataque. Nenhuma emboscada. Quando chegamos ao outro lado da Dobra, a sensação era estranha.
- Por que está tão... calmo? - perguntou Nadia, olhando ao redor com desconfiança.
Eu também estava desconfiado. Assim que desembarcamos, ordenei que os aeros formassem uma barreira de vento ao nosso redor, enquanto os sangradores assumiam suas posições de combate.
Foi então que avistamos algo incomum: um pequeno grupo nos aguardava à distância. À frente deles, estava um homem cuja figura parecia estranhamente familiar.
- Genya - murmurei. - Consegue identificar algum tipo de magia nele?
- Deixe-me tentar - respondeu ela, movendo as mãos discretamente. Aos poucos, a aparência do homem começou a mudar, revelando sua verdadeira identidade.
Eu o reconheci imediatamente.
- Nikolai?Ele sorriu, aproximando-se com confiança.
- Benjamin Starkov, o famoso Conjurador do Sol. Finalmente nos encontramos.- O que você está fazendo deste lado da Dobra? - perguntei, franzindo a testa.
- Ah, apenas observando o caos e aproveitando a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
- Nikolai Lantsov... sempre onde há bagunça - comentou Genya, cruzando os braços.
- E você sempre tão direta, Genya - respondeu ele com um sorriso.
Apesar do tom leve, algo na presença de Nikolai me deixava desconfortável. Ele não era um grisha, mas seu jeito estratégico e seu histórico como príncipe de Ravka o tornavam alguém a ser observado com cuidado.
- Então, o que você quer, Nikolai? - perguntei, direto.
- Apenas oferecer minha ajuda. Afinal, temos interesses comuns, não?
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Por mais que desconfiasse de suas intenções, não tinha tempo para debater. Nosso objetivo era claro: encontrar o segundo amplificador e voltar para Ravka o mais rápido possível.
Mas, no fundo, eu sabia que a jornada só estava começando.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
FantasyEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...