- Me desculpem por acordá-los a essa hora, mas não encontrei outro momento para informar que iniciamos oficialmente a busca pelos amplificadores de Morozova - declarei, olhando para minha guarda reunida.O cansaço era evidente nos rostos de todos, mas a tensão no ar não permitia qualquer protesto.
- E por que não avisar ao amanhecer? - retrucou Zoya, com seu tom sempre impaciente.
- Porque há um plano - respondi calmamente.Ela arqueou uma sobrancelha, esperando que eu continuasse.
- São cinco pessoas para três amplificadores.
- Você quer conectar cinco pessoas a três amplificadores? - exclamaram todas ao mesmo tempo.Assenti com a cabeça.
- Sim, basicamente isso.
- Isso é loucura - Genya foi a primeira a se pronunciar, com preocupação evidente.
- É impossível! - Nadia acrescentou.Respirei fundo antes de responder:
- Nada é impossível, apenas nunca foi feito. Mas esse plano só será possível se todas concordarem.Surpreendentemente, Zoya foi a primeira a se manifestar:
- Eu concordo.Genya hesitou por um momento, mas assentiu.
- Assim como já concordei quando me falou pela primeira vez, confirmo agora.- Eu também - disse Nadia.
- Eu também - completou Marie, firme.
Um alívio percorreu meu corpo. Era um plano ousado, mas ter a confiança delas fazia toda a diferença.
- Isso será mais importante do que imaginam. Talvez agora não entendam, mas, no futuro, perceberão o impacto disso. A partir de hoje, vocês estarão em todas as reuniões do Segundo Exército - concluí, confiante.
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Os dias que se seguiram foram marcados por expectativa e frustração. Mensagens sobre a possível localização dos amplificadores chegavam com frequência, mas nunca traziam resultados concretos. Já se passavam semanas, e continuávamos sem respostas definitivas.
Minhas aulas com Baghra e Botkin avançavam lentamente. Já não apanhava tanto, mas também não conseguia impor golpes efetivos. Botkin insistia que o treino era necessário, mesmo que parecesse inútil. Já com Baghra, as coisas eram mais práticas; ela começou a me ensinar a manusear uma lâmina.
- Não subestime a utilidade de uma lâmina, mesmo para alguém como você - dizia ela.
Enquanto isso, meu tempo livre era consumido pela biblioteca do Pequeno Palácio. Passava horas lendo sobre os amplificadores de Morozova, tentando entender sua natureza e seus limites. Todos os textos afirmavam que cada amplificador deveria ser usado por uma única pessoa, mas não conseguia aceitar essa regra.
- Você está confiante nisso? - perguntou Zoya, interrompendo minha leitura.
- Mais do que confiante. Nós cinco estamos prestes a realizar algo impensável.
- Sim, mas... - ela hesitou.
- Apenas confie, Zoya. Nós seremos invejados por muitos. Lideraremos o Segundo Exército juntos.Ela suspirou, vencida.
- Você é ambicioso. Tome cuidado com isso.---
Em uma das reuniões estratégicas, Kirigan anunciou uma notícia alarmante: grishas estavam desaparecendo em várias regiões.
- O que faremos? - perguntou um sangrador, preocupado.
Kirigan olhou para mim, esperando minha opinião.
- Sank't, qual é sua sugestão?Suspirei, cansado dessa dependência repentina.
- Perguntem ao general. Ele lidera o Segundo Exército.Kirigan sorriu, mas insistiu:
- O que você faria, Benjamin?- Primeiramente, evitarmos respostas impulsivas. Caçar e matar por vingança pode colocar Ravka em guerra. Precisamos de uma abordagem estratégica.
Kirigan permaneceu em silêncio por um momento antes de concordar.
Logo após essa reunião, uma mensagem chegou: o cervo de Morozova havia sido localizado. Era o primeiro amplificador. Minha guarda e eu partimos imediatamente, acompanhados por um rastreador.
A caminhada pela floresta foi longa e exaustiva.
- Falta muito? - perguntei, impaciente.
- Estamos perto - respondeu o rastreador.Finalmente, chegamos a uma clareira onde o cervo estava preso.
- Aqui está, o cervo de Morozova - anunciou o rastreador.
O animal era majestoso, sua galhada brilhava com um tom prateado que parecia mágico.
- Tome - o rastreador me entregou uma arma. - Você precisa matá-lo para obter o controle.
Olhei para a arma em silêncio antes de devolvê-la.
- Não vou precisar.Aproximei-me do cervo, colocando a mão em seu focinho.
- Sinto muito... - sussurrei.Com um movimento suave, evoquei meu poder. Uma lâmina de luz formou-se em minhas mãos. Sem hesitar, deceptei o cervo. O som de um trovão ecoou pela floresta enquanto a lâmina desaparecia.
- Você conseguiu - disse o rastreador, impressionado.
- Pegue a galhada. A conexão será feita na frente do Rei, diante de todos - ordenei.
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Na sala do trono, com o Rei e dezenas de grishas reunidos, o momento decisivo chegou.
- Moi Tzar - fiz uma reverência. - Trago uma inovação. Hoje, conectaremos cinco pessoas a um único amplificador.
O Rei assentiu, dando permissão. Minhas companheiras entraram na sala, usando seus keftas orgulhosamente. David, o duraste responsável pelo ritual, começou a trabalhar.
Primeiro, ele colocou colares feitos da galhada do cervo em cada uma de nós. Em seguida, pulseiras. Quando o processo terminou, senti meu poder dobrar. Olhei para minhas companheiras e percebi que elas sentiam o mesmo.
Por um momento, o salão ficou em silêncio, até que todas dissemos juntas:
- Estamos vivos!O Rei se levantou, aplaudindo.
- Vocês acabaram de fazer o impensável.Fiz uma reverência antes de sair com minhas companheiras. Lá fora, Genya me abraçou.
- Conseguimos, Benjamin. Fizemos história.- Fizemos história - concordei, olhando para o céu.
Ainda tínhamos mais dois amplificadores para encontrar, mas, naquele momento, sabíamos que éramos capazes de qualquer coisa.
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Eᥴᥣιρ᥉ᥱ • Grι᥉hᥲ᥎ᥱr᥉ᥱ
FantasyEm um mundo dividido entre luz e escuridão, Benjamin, um jovem órfão de aparência frágil, descobre que possui um poder raro: a habilidade de conjurar luz. Em meio a desconfianças e temores, ele é levado ao Pequeno Palácio, onde passa a ser treinado...