A luz matinal entrou pelas cortinas como uma declaração impiedosa, arrastando-me de volta à realidade. Meu primeiro pensamento foi sobre a noite anterior, cada detalhe revirando minha mente. Eu me perguntava o que – ou quem – poderia ter levado Scarlett, sempre tão composta, a perder o controle daquele jeito.
Levantei-me com um suspiro, sentindo o peso da curiosidade e da vergonha pressionando meus ombros. Arrastei-me para o banheiro, tentando espantar os resquícios da noite passada enquanto enfrentava o espelho e realizava meu ritual matinal. Mas era inútil. O calor persistente em meu rosto e o aperto no peito me lembravam que aquilo estava longe de ser esquecido.
Quando terminei, fui para a cozinha, seguindo o rastro do aroma inconfundível do café fresco. Meu estômago reclamava alto, mas minha mente precisava mais do café do que de qualquer outra coisa. Algo para clarear meus pensamentos bagunçados. E lá estava ela. Scarlett. Ainda usando a camisola azul-marinho da noite anterior, os cabelos soltos em ondas desalinhadas, tão casuais quanto perigosamente encantadores. Ela estava encostada no balcão, com uma xícara de café em uma mão e o celular na outra, a postura relaxada, como se não carregasse o peso de nenhuma memória comprometida.
Eu congelei no instante em que nossos olhos quase se encontraram. Quase. Meu rosto queimou, e minha respiração ficou presa enquanto as imagens da noite anterior voltavam à minha mente como um filme inescapável. Cada som, cada movimento ecoando com uma nitidez assustadora. Olhei para o chão, para a janela, para qualquer lugar que não fosse Scarlett. Minhas mãos tremiam levemente, e meu coração parecia correr uma maratona. Eu não sabia o que dizer, muito menos o que pensar.
Mas ela, tão serena e indiferente, apenas deu um gole no café e ergueu os olhos, lançando-me um olhar casual. Com a mente girando em mil pensamentos, forcei um sorriso que espero ter soado amigável. Peguei a cafeteira como se fosse minha boia salva-vidas naquele mar de constrangimento.
— Bom dia — murmurei, tentando manter minha voz leve. — Dormiu bem?
Por dentro, eu me encolhia. Aquilo era tão desajeitado que quase queria me dar um tapa. Cada palavra parecia carregada de tensão, cada gesto desajeitado uma pista sobre o que eu sabia. Será que Scarlett podia sentir? Será que ela sabia que eu sabia?
Ela levantou os olhos do celular com a graça calculada de quem está acostumada a dominar qualquer espaço que ocupa. Sua sobrancelha arqueou de forma quase imperceptível, mas suficiente para me fazer prender a respiração.
— Bem o suficiente — respondeu, a voz tão fria quanto indiferente. Seus olhos verdes viajaram sobre mim, um olhar lento e deliberado que me fez sentir como se estivesse nua. Avaliando. Pesquisando. — E você? — completou, inclinando levemente a cabeça, como se a pergunta fosse uma isca.
Minha garganta ficou seca, e a xícara de café que enchi quase transbordou.
— Eu... — Respirei fundo, tentando soar casual. — Dormi, sim. Bem. — Era mentira, claro, mas mentiras eram mais fáceis que a verdade agora. Seus lábios se curvaram num sorriso pequeno e enigmático. Ela voltou ao celular. Eu deveria ter me calado, deixado a conversa morrer ali e fingido que estava tudo normal. Mas o silêncio parecia insuportável, e a situação já era tão constrangedora que, antes que eu pudesse me impedir, continuei falando. — Você sabe, a mesma coisa de sempre — acrescentei, encolhendo os ombros de forma exagerada, tentando parecer despretensiosa. — Só tentando me adaptar ao novo lugar.
Arrisquei um olhar para Scarlett, torcendo para que meu rosto não estivesse tão vermelho quanto parecia estar. Ela não desviou os olhos do celular de imediato, como se me deixasse esperar por sua atenção de propósito. Quando finalmente levantou a cabeça, seus olhos verdes encontraram os meus com a mesma intensidade afiada de sempre, como se pudesse ver diretamente dentro de mim.
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Sem Querer, Casadas
FanfictionPara que um casamento funcione, é essencial ter amor e convicção. No entanto, Scarlett Johansson e S/n Taylor não possuíam nenhuma dessas qualidades. Em vez disso, eram marcadas por uma aversão mútua. Seus encontros eram dominados por ressentimento...