Sem Querer, Casadas

30

Quando acordei, o quarto estava banhado por uma luz suave que filtrava pelas cortinas semiabertas. O ar ainda carregava uma leve fragrância familiar, uma mistura de nossos perfumes e do calor compartilhado na noite anterior. Meus olhos se ajustaram lentamente, e a primeira coisa que vi foi Scarlett, de pé à frente do espelho, enquanto ajustava suas roupas.

Ela estava de costas para mim, e as tatuagens espalhadas por sua pele pareciam ganhar vida sob a luz tímida da manhã. Havia algo quase hipnótico na forma como seus músculos se moviam enquanto ela puxava uma peça de roupa para cima, revelando e escondendo pequenos detalhes que eu não tinha notado antes. Seus cabelos dourados caíam em ondas suaves, brilhando como se capturassem cada raio de sol que ousava entrar no quarto.

A lembrança da noite passada voltou como uma avalanche, cada toque, cada suspiro, cada palavra. Meu corpo ainda sentia os resquícios da intensidade daquele momento, e minha mente se perguntou, com um toque de insegurança, se ela também se lembrava da mesma forma.

Minha leve movimentação na cama pareceu quebrar o feitiço. Scarlett virou a cabeça por sobre o ombro, e seus olhos me encontraram com precisão. Aquele olhar intenso, misturado a um sorriso preguiçoso e provocador, fez meu coração acelerar imediatamente.

— Bem, olha quem finalmente acordou — disse, sua voz rouca e carregada de um charme natural, enquanto continuava a se vestir com uma calma quase ensaiada.

Ela deslizou a blusa pela cabeça, mas não antes de eu ter uma visão completa de sua pele marcada por pintas e tatuagens. Cada detalhe parecia contar uma história, e eu me perguntava quantas delas eu teria a chance de ouvir. Seus movimentos eram quase deliberados, como se ela soubesse exatamente o impacto que tinha sobre mim, e eu não pude evitar um rubor ao perceber que estava prendendo a respiração.

Scarlett se virou parcialmente para mim, os olhos brilhando com uma combinação de curiosidade e diversão. Seu sorriso se alargou levemente, uma mistura de ironia e algo que parecia quase carinhoso.

— Dormiu bem? — perguntou, ajustando a barra da camiseta e cruzando os braços, enquanto me observava com aquele olhar que parecia enxergar cada pensamento meu. Scarlett arqueou uma sobrancelha, esperando, enquanto o sorriso em seus lábios se tornava ainda mais provocador. Eu assenti, ainda meio perdida nos pensamentos que a visão dela tinha provocado. Minha mente estava lenta, mas Scarlett parecia já estar completamente desperta e em controle da situação, como sempre. — Você precisa se levantar. — Sua voz era firme, mas com um toque de suavidade que fazia meu peito aquecer. Ela se virou completamente para mim agora, cruzando os braços enquanto me observava. — Temos que aproveitar o dia, já que vamos embora à noite.

Eu levei um momento para processar o que ela havia dito. Sua postura descontraída contrastava com o brilho determinado em seus olhos, como se ela já tivesse tudo planejado, e eu só precisasse seguir o fluxo.

— O dia? — perguntei, a voz ainda rouca de sono enquanto me esticava lentamente na cama.

— Sim, o dia — respondeu, inclinando a cabeça com um sorriso pequeno. — Ou você acha que eu vou deixar você ficar enrolando aqui enquanto podemos fazer algo memorável?

O tom provocador na última frase fez meu rosto corar levemente, mas, ao mesmo tempo, despertou uma pequena curiosidade em mim. Scarlett sempre tinha uma forma de tornar as coisas imprevisíveis, e a ideia de passar o dia ao lado dela soava tão convidativa quanto o calor da cama que eu ainda relutava em abandonar.

— Estou com preguiça — murmurei, puxando o cobertor até o queixo enquanto me aconchegava mais na cama.

Ela soltou uma risada baixa, quase musical, que ecoou pelo quarto. Scarlett descruzou os braços e caminhou até a cama com passos lentos, parando ao meu lado. Ela se inclinou ligeiramente, o rosto perto do meu, os olhos brilhando com diversão.