34. Despedida

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Aviso: Conteúdo gatilho. Contém descrição de violência física. Machismo.

Leia por sua conta e risco.

Canto de Lyra era um navio peculiar, destacando-se entre os muitos barcos piratas que agora estavam ancorados ao seu redor. No entanto, isso não impedia que fosse o mais belo de todos os navios.

O navio era surpreendentemente diferente por dentro, já que na parte externa as madeiras eram mais claras e brilhantes, enquanto as velas eram de um branco puro. Onde deveria ser a abertura para os canhões em caso de batalha, havia um intrincado desenho de flores que me lembrava lírios. A âncora era feita de ferro forjado, e abaixo da proa havia uma escultura de uma mulher que parecia dançar. Com um dos braços erguido acima da cabeça, formando um arco, e o outro posicionado à frente da cintura, ela parecia ter um vestido que balançava suavemente. Seus pés estavam calçados com sapatilhas, como se fosse uma bailarina em movimento. Era impossível não perceber sua beleza única e deslumbrante. Poderia até ser visto como um navio da realeza, se não fosse pela bandeira preta com uma caveira e dois ossos cruzados abaixo, que deixava claro que era um navio pirata.

- Belo barco, não é mesmo? - Vicente comenta ao meu lado, admirando Canto de Lyra.

- É de tirar o fôlego! - respondo, enquanto noto o Mar se chocando com força contra a rampa do navio, como se estivesse concordando com a minha afirmação.

A menção de Noreen sobre mim ainda ecoa na minha mente, desde que ela sugeriu que eu era a "Rainha dos Sete Mares". Antes, eu pensava que era apenas uma fantasia, mas agora percebo que o Mar é muito mais do que suas águas e seu azul majestoso; Ele é a verdadeira autoridade neste lugar. Entretanto, por qual razão entre tantas pessoas, Ele me escolheria? Ainda não tenho certeza da resposta, mas acredito que um dia irei descobrir, assim como entender por que meu coração está tão ligado ao Capitão dos Sete Mares.

- Lembro da primeira vez que estive a bordo deste navio. - Vicente me lembra que ainda está ao meu lado.

Eu o encaro:

- Você já esteve a bordo do Canto de Lyra?

- Sim, eu tinha apenas oito anos na época. Minha tia fazia parte da tripulação do pai do Capitão Jason. - Ele me observa.

- Elaine?! Ela conhecia o pai do Jason? - Não consigo esconder minha surpresa, mesmo já suspeitando sobre Elaine. Sempre a considerei uma pirata, mas nunca imaginei que tivesse ligação com a família de Jason.

- Minha tia era a segunda comandante do navio do pai dele. Ela era respeitada e temida, pois todos sabiam que quem cruzasse seu caminho encontraria a morte, o que justificava seu apelido.

Isso explica porque Elaine sabe tanto sobre o Capitão Fletcher, ela pelo visto o conhece desde criança, o que só aumenta mais ainda meu interesse em saber do passado de ambos.

- Qual era o apelido dela? - Pergunto, curiosa.

- Era... - Antes que Vicente possa me contar, algo atinge sua cabeça com força, fazendo-o gritar irritado pelo golpe.

Nos viramos para encarar Elaine, que segurava um pedaço de pau e estava claramente irritada com Vicente por ter falado demais. Eu desvio o olhar, segurando uma risada, tentando não irritá-la ainda mais.

- Não acha que deveria estar cuidando do restaurante nesse momento? - Ela cruza os braços, impaciente, encarando Vicente, que revira os olhos. Isso faz com que ela lhe dê outro golpe. - E não revire os olhos para mim, garoto.

- Ok, ok, já entendi! - Vicente me olha e solta um suspiro. - Bom, infelizmente, terei que ir, princesa. - Ele pega minha mão e deposita um beijo suave. - Espero poder vê-la ainda esta noite. - Pisca para mim, fazendo com que eu balance a cabeça, sorrindo para ele.

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