4. Direito de Escolher

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- O que quer dizer com "não tenho muita certeza disso"? - Audrey pergunta novamente.

Suspiro e caminho até a varanda do meu quarto, admirando as grandes árvores repletas de flores e frutas e as pequenas casas do Reino Tidal Bridge. Então meus olhos caiem sobre o imenso mar que me arranca suspiros.

- Eu não quero ser rainha, Audrey - Me viro para ela - Eu não quero estar presa a uma coroa.

Audrey suspira e se aproxima, sem dizer nada.

- Cada dia que se passa é torturante para mim, esses deveres, esse casamento e a ira de meu pai. Eu sei que sou a menos indicada por ele para assumir o trono e eu sei que no fundo ele tem razão.

- Então virará as costas para seu povo? - Pergunta me fazendo ficar desnorteada.

- Não era bem nessa conclusão que eu queria chegar.

Audrey me encara fazendo-me olhar para seus olhos negros brilhantes.

- Apronte seu cavalo e venha comigo.

Ao dizer isso ela sai da varanda, deixando-me ainda mais confusa com sua ordem.

Cavalgamos por algum tempo até chegarmos a um pequeno vilarejo que fica no Reino Tidal Bridge. Sigo Audrey logo atrás com meu cavalo branco que ganhei quando completei 13 anos, dei a ele o nome de Blanc, o mesmo imenso amor que eu sentia pelo mar e por minha melhor amiga, que eu considerava como irmã, eu tinha por Blanc.

Era minha melhor companhia para quando desejava fugir da realidade que eu vivo.

Olho ao redor observando os plebeus e percebendo que grande maioria me encarava.

Aquilo me fez sentir um pouco desconfortável, nunca gostei de muita atenção.

Se eu me tornasse rainha um dia, teria toda essa atenção em mim e essa era a última coisa que eu queria. Crianças corriam por todas as partes, algumas pessoas dormiam no chão parecendo não ter um teto para morar. Haviam vários homens e mulheres que pareciam exaustos e sujos, assim como algumas crianças que se agarravam na saia de suas mães. Sem pensar pego as poucas moedas que estavam em meu bolso e entrego a mãe de algumas crianças que sussurra um leve um "obrigado", me fazendo sorrir gentilmente para ela.

Sinto o olhar de Audrey sobre mim, e quando a olho ela em dica com a cabeça para que eu a seguisse, ela cavalga para fora do pequeno vilarejo enquanto continuo a seguindo. Audrey e eu nos conhecemos quando tínhamos 10 anos, ela é filha de Julie e Paul Santoro, ambos são criados do castelo e Audrey, com passar do tempo, havia se tornado minha criada pessoal, mas não a tratava como tal. Ao longo dos anos acabamos criando um laço de amizade, então comecei a trata-la como se fossemos irmãs, com o passar do tempo nossa amizade só aumentou.

Paro meu cavalo ao lado da égua marrom e branca de Audrey.

- Por que me trouxe aqui? Quer me fazer mudar de ideia? - Pergunto.

Audrey olha para mim jogando seu lindo cabelo trançados para trás.

- Não! - Responde, me deixando cada vez mais confusa. -Eu trouxe você para ver isso. - Toca em meu rosto me fazendo olhar para outra direção.

As ondas batiam contra as rochas, da mesma forma como no dia em que Heitor me fez aquela promessa. Constatar aquilo fez meu coração palpitar. Como eu desejava descer de Blanc e correr até aquele imenso e maravilhoso mar para sentir o sabor da liberdade.

- O que eu quero é que minha amiga e irmã de coração seja feliz. - Sinto as lagrimas encherem meus olhos. - Não desejo que você fique presa a algo que não quer, Ellie.

Olho para amiga sentindo as lagrimas descerem por minha face.

- Eu amo você independente de suas escolhas. - Ela sorri, me fazendo sorrir também ao ouvir suas palavras. - Assim como todos, você também tem o direito de escolher.

Antes de partir volto minha atenção para o mar, desejando poder me entregar a ele por inteiro.

OBS.: Capítulo Revisado

Dois Corações, Uma Válvula Onde histórias criam vida. Descubra agora