Dois

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- O que está acontecendo? - Perguntei, confuso.
- Deixa eu fazer o jantar, depois eu falo com você direitinho, tá? - Ela disse, tentando não me preocupar. - Calma, você não fez nada errado, é só uma novidade.

Confirmo com a cabeça e vou tomar um banho. Depois de limpo, coloco um pijama de moletom e vou para a sala de jantar, onde eu sei que minha mãe está porque estou ouvindo ela assobiar. Ela está mexendo no celular mas, quando percebe minha presença, desliga a tela e sorri para mim. Parece mais controlada.

- O jantar está servido! - Ela declara, apontando para a comida na mesa. - Venha, vamos comer.

Depois de servidos, eu decido voltar ao assunto.

- Então, mãe, qual é a novidade?
- Ah, a novidade. - Ela engasga com a comida. - Claro. Você lembra do Denis, né?
- Claro que sim, até porque ele é seu namorado. - E, tocando no assunto, queria esclarecer que eu não gosto muito dele. Não tenho nada contra, mas nada a favor também.
- Ele se mudou para o Rio de Janeiro há três meses, mais ou menos. Lembra disso?
- Sim, lembro.
- Então. - Ela respirou fundo e olhou para o prato, evitando olhar meus olhos. - E eu gosto muito dele, você sabe...
- Sim, mãe. Até agora nenhuma novidade.
- Ele sugeriu que a gente também se mudasse para o Rio de Janeiro. - Quando eu abro a boca para falar, ela retoma. - Agora que vem a novidade. Eu aceitei.
- O QUÊ?! - Eu me levanto, batendo na mesa e assustando-a. - Eu não quero ir embora, eu não posso ir embora.

Ela pede para que eu me sente e fique calmo, então volta a falar:

- Vai ficar tudo bem, Josh. Não vai ser algo de um dia para o outro. Você vai poder se acostumar com a ideia, despedir dos amigos, o que quiser.
- Vou para o meu quarto.
- Tudo bem.

Assim que me sento na cama, mando uma mensagem pra Carlos, avisando que não ia mais à festa.

"Hey, não tô com cabeça de ir nessa festa, mas se quiser pode ir, tá? Até amanhã."

E ele logo responde:

"Está tudo bem? Eu não iria nessa festa sem você, cara. Quer que eu vá aí na sua casa?"

Eu leio a mensagem e chego a conclusão que tenho um ótimo melhor amigo. Respondo que sim, e decido que vou contar tudo para ele essa noite.
Em pouco tempo ele chega e vem para o meu quarto, depois de cumprimentar minha mãe.

- Oi, cheguei. E trouxe chocolate. Quem disse que só meninas gostam de passar a noite com amigos e chocolates?
- Hey, senta aqui na cama, pode deixar a mochila em qualquer lugar.

Depois de algum tempo jogando conversa fora, eu sinto que o clima está mais descontraído e tomo coragem para contar a "novidade".

- Carlos? - Chamo sua atenção. - Precisamos conversar sobre algo que minha mãe me disse.
- É o motivo que não estamos na festa? - Faço que sim com a cabeça. - Pode falar, cara.
- E-eu... Bom, eu vou... - Respiro fundo e busco coragem. - Eu vou me mudar para o Rio de Janeiro.

Ele não diz nada; só me olha, surpreso. Depois abaixa a cabeça, pigarreia e, depois de alguns momentos, responde:

- Se você não vir me visitar sempre, eu te quebro.

Era visível que ele queria parecer bem com a notícia para que eu não ficasse mal.

- Não sei, você é tão chato, sabe? Vai que eu te substituo. - Brinco, e ele pega a mochila.
- Estou ofendido e agora você não vai comer mais chocolate. Vai lá comer no Rio de Janeiro.
- Não tem só chocolate nessa mochila, né?
- Não, tem roupas, escova de dentes, perfume... Eu já sabia que ia dormir aqui, e você nem me convidou ainda.

Na manhã seguinte, depois de uma ótima noite de conversas, jogos e chocolates que há muito tempo não acontecia, o som do despertador parece insuportável (mais do que o normal).
Carlos é o primeiro a levantar, e como já está acostumado, pega suas coisas e vai pro banheiro, onde toma banho, faz sua higiene, se troca e sai de lá praticamente pronto. Quando ele volta para o quarto, eu já estou acordado e esperando o banheiro ser liberado.

- Achei que você tinha desmaiado lá dentro. - Brinco, e ele joga a toalha molhada na minha cara.
- Bom dia também e vai logo tomar banho, porque não rola ter um amigo sujo enquanto eu tô limpo e cheiroso.

Mostro dedo para ele e vou para o banheiro, fazendo-o rir. Depois do banho, higiene e troca de roupa, assim como Carlos, volto ao quarto, aonde ele já está pronto e impaciente.

- Achei que você tinha desmaiado lá dentro. - Ele diz, imitando minha voz. - Já estava para te abandonar aqui.
- Mentiroso. - E jogo a toalha na cara dele.

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