– Embaixo do assento da poltrona tem uma chave, presa com uma fita.
– Achei. – Cecília está me ajudando a sair, depois que fiquei pronto segundo as orientações dela.
– Pega e desce em silêncio até a cozinha.
– Certo, tô indo.Vou na ponta dos pés, rezando para que ninguém me apanhe e bem agarrado na chave.
– E agora?
– Saia pela porta dos fundos. A cópia da chave tá na sua mão. A chave original fica guardada com o pai dela depois que ela foi pega fugindo de casa. Ele acha que não existe outra, mas isso não vem ao caso.
– Ela não faz barulho?
– Não, por isso que Ashley tentou fugir por aí, e não pela porta da frente.
– Então como ela foi pega?
– Deixou uma garrafinha de vidro cair no chão. Enfim, saia logo daí.Destranco a porta com todo o cuidado e vou para fora, voltando a trancar.
– Certo, estou de fora.
– Que dia é hoje mesmo? – Cecília pergunta.
– Bom, considerando a hora, já é quarta.
– Então o turno do porteiro noturno começou na terça, e na terça... – Ela se interrompe para bufar. – Temos um último problema.
– Qual?
– Existem dois porteiros noturnos. Pablo é nosso amigo, ele trabalha nas Segundas, Quartas e Sábados, mas hoje quem está lá é Cláudio, das Terças, Quintas, Sextas e Domingos. E ele não é fácil.
– Como assim?
– Não vai te deixar sair e voltar livremente, e se deixar, vai dizer para Denis pela manhã, antes de ir embora.
– O que eu faço, então?
– Espera, deixa eu pensar... – Ela tira o telefone de perto e grita pela Fabrícia. – Espera aí.E eu espero. Longos minutos. De vez em quando eu soltava um "alô?" para me certificar que ainda se lembravam de mim, o menino que tá no quintal, de madrugada, com frio e medo de ser pego, esperando.
– Josh? – É a voz de Cecília.
– Ainda estou aqui.
– Eu me enganei, quem está na portaria hoje é o Pablo. Os turnos dele são na Terça, Quinta e Sábado, na verdade.
– Sério?
– Sim, pode ir despreocupado e contar toda a verdade para ele. Já chamamos um táxi para você.
– Já estou indo.Em poucos minutos chego na portaria, onde um senhor magro com um bigode enorme folheava um jornal qualquer. Se levantou quando me viu.
– Boa noite, o senhor precisa de algo?
– Você é o Pablo?
– Sou sim, da parte de quem? – Ele diz, sorrindo.
– Eu sou Josh, minha mãe namora o Denis Oliveira e me mudei para cá.
– Espera aí, você é o novo irmão da Ashley? – Ele pronuncia "Ashley" de um modo engraçado. – Oh, é um prazer! Do que precisa?
– Ashley foi para uma festa e bebeu mais do que devia, estou indo buscar ela. Tudo bem?
– O pai dela sabe?
– Que eu estou indo atrás dela ou da festa?
– Os dois.
– Ele está dormindo agora, mas espera encontrar Ashley no quarto pela manhã. Pelo o que me explicaram, ele deixa ela sair para voltar quando quiser, contanto que ela amanheça em casa.
– Então você está propondo que eu não conte nada para ele? – Ele coça o bigode.
– Por... favor?
– Tudo bem, João. Vai lá e busca ela, mas volta logo. Eu não me responsabilizo por você. – Acho engraçado ele me chamar de João.Pablo libera a minha passagem só quando o táxi chega, para não correr perigo. Entro no carro e o homem já sabe o meu destino, definido através do aplicativo. Me leva até a casa de Cecília, um casarão lindo. Peço para o homem não ir embora, para nos levar de volta, e bato na porta da casa.
– Você é o Josh? – Uma menina ruiva atende a porta.
– Sim.
– Ai, graças aos céus! Vem, pode entrar. – Ela sorri e me deixa passar. – Prazer, sou a Fabrícia. Senta aí no sofá.
– Onde que a Ashley tá?
– Vomitando no banheiro. – Ela se senta do meu lado. – É nojento e eu não posso ficar nem perto, mas é bom para ela, tipo... Jogar toda essa bebida para fora.
– Acho que sim.O silêncio toma conta da sala. Não se escuta mais nada quebrando ou pessoas gritando, mas a casa está uma bagunça. Coitada da Cecília.
Minutos depois, o cômodo ainda em silêncio, chega uma menina com traços de índia (muito bonita, por sinal), provavelmente Cecília, ajudando Ashley.– Josh? – Ashley é a primeira em me ver. – Josh! O que que você tá fazendo aqui?
Ela vem cambaleando até mim, mas parece muito melhor do que as meninas descreveram e eu escutei pela chamada.
– Eu vim te buscar. A festa acabou, Ashley.
– Não acabou. – Ela faz manha. – Meninas, falem pra ele que ainda não acabou!
– Você precisa descansar, amiga. – Diz quem eu penso ser Cecília.
– E rápido. – Fabrícia completa.
– Tá. – Ashley me abraça. – Então me leve, cavaleiro dourado. Me leve até meu castelo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Panda S/A
Teen FictionJosh, um brasileiro com o nome um tanto americano, não esperava que sua vida fosse mudar tanto de uma hora para outra. Ter que sair da sua vida cômoda em São Paulo para viver em outra cidade e com uma nova família não vai ser nada fácil. Descubra um...