Seis

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Ela abre a porta e o quarto é simplesmente lindo. As paredes azuis, com os móveis cinzas e amarelos, com quadros, mesinhas, TV, computador... Eu nunca me imaginei em um quarto assim.

– E então? – Ashley está logo atrás de mim. – Você gostou do quarto?
– Eu... Meu Deus, eu adorei o quarto!
– Ah, que alívio! – Ela respira fundo e parece mais calma.
– Por que?
– Fui eu quem decorei, meu pai me deu essa tarefa.

Ela passa por mim e senta na cama. Puxa seu celular do bolso, checa algo (provavelmente as horas) e olha pra mim de novo.

– Vai ficar em pé? O quarto é seu!

Vou até a cama e me sento do lado dela. Parece que ela já me conhece há muito tempo, porque volta a falar quase instantaneamente.

– Sabe qual é a melhor parte desse quarto?
– O dono dele? – Brinco, e ela ri.
– Não, convencido! A melhor parte é que meu quarto é aqui do lado e é um lugar bem estratégico. Seu quarto ia ser no fim do corredor, longe de tudo.
– Quando eu for gótico vou me mudar para lá, então.

O assunto continua fluindo até o momento que ela para de falar e...

– Ei! Nós não nos conhecemos direito! Eu não sei seu nome completo, sua idade, as coisas que você gosta... Quer começar? – Faço que não com a cabeça. – Certo, vamos lá. Meu nome é Ashley Gonzales Oliveira, filha do Denis Oliveira e da Valentina Gonzales. Nasci na Argentina mas mudei para o Brasil ainda bebê e não me lembro de nada. Tenho 15 anos, mas faço 16 mês que vem. Ahn... Acho que é isso.
– Minha vez? Meu nome é Josh Rodrigues Visage, sou filho do Harold Visage e da Luísa Rodrigues. Nasci no Brasil e tenho 16 anos. Já tá bom?
– Tá bom sim... Você nasceu no Brasil?
– Sim, por que?
– Seu nome é americano!
– Culpa do meu pai, que era totalmente norte-americano e acabou que ele escolheu meu nome.
– Entendi. – Ela sorri. – Meu nome também não é muito comum, nem aqui e nem na Argentina, olhe como a vida é louca...

Depois disso, os assuntos continuam a correr. Falamos de qualquer coisa que lembramos, e nem vimos quanto tempo ficamos. Me parece que já fiz uma amiga.

– Já é hora de criança dormir. – Denis aparece na porta, interrompendo nossa conversa. – Brincadeira, brincadeira... Nós vamos sair pra comer, vão se trocar!

Denis sai e Ashley se levanta da cama, abaixa até o meu ouvido e diz "a porta do lado do guarda-roupas é um banheiro, aproveite", e sai saltitando, toda feliz.

Desço as escadas preguiçosamente, busco algumas malas minhas e vou tomar um banho. O resto eu arrumo depois. Depois de um bom banho e de pouco tempo me arrumando, estou pronto mas ninguém veio me apressar, o que significa que eu estou adiantado... Certo? Vou até o quarto da Ashley, onde ela está se maquiando, e espero ela notar minha presença na porta.

Kiss me on the mouth and set me free, but plea... Ai, oi Josh! – Ela se interrompe e fica vermelha quando me vê ouvindo-a cantar. – Entra, fica à vontade!
– Você canta bem. – Falo, enquanto sento na cama.
– Não é verdade. – Ela fica mais vermelha. – Ahm, você viu se tem alguém pronto?
– Não esbarrei com ninguém.
– Graças aos céus, eu achei que estava atrasada. – Ela para de se maquiar e me olha. – Aliás, tá bonito, hein. Querendo impressionar alguém?
– Na verdade eu quero deixar as pessoas impressionadas com meu charme. – Brinco, e ela me chama de "bobo". Ela também tá linda, esqueci de mencionar em voz alta.

Ela termina de se arrumar e descemos para a sala, vazia. Nos sentamos e conversamos até que o casal finalmente ficou pronto para que saíssemos.

– Quando Josh volta pra escola? – Ashley pergunta, em determinado momento.
– Bem, estamos terminando de resolver isso, filha.
– Ele vai estudar na minha escola, né?
– Sim, logo Josh será mais um aluno destaque do Colégio... Bom, do colégio que você estuda.

Ashley concorda com a cabeça e, quando Denis se volta para seu prato, ela cochicha "ele nem sabe o nome do meu colégio" para mim e dá uma risadinha. "Pelo menos você vai estudar na minha sala", completa ela, e volta a comer.

Voltamos para casa tarde, e eu só quero dormir. Fiquei super ansioso com a mudança noite passada e, depois de um dia cheio, estou exausto. Assim que chegamos em casa, já fui logo me despedindo e dei um jeito de ir para a cama logo, eu realmente preciso dormir. Vesti meu pijama, escovei os dentes e me deitei.
Antes de dormir, fiquei pensando nessa loucura: de um dia para o outro, eu perdi tudo que eu tinha; agora, tenho que me habituar a uma nova rotina e conhecer novas pessoas, me acostumar a morar com mais gente além da minha mãe e me acostumar também a tratar essa gente como família. É um recomeço, como nascer de novo. Ninguém sabe quem você é, e essa é a sua chance de ser tudo aquilo que o seu "eu antigo" não foi.
Mas, antes de tudo, eu preciso dormir.

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