É um lindo dia de sol, o domingo perfeito para fazer muita coisa... menos se mudar.
- Filho, a moça que comprou os sofás e a poltrona chegou, atende ela pra mim? Preciso separar algumas coisas no quarto. - Minha mãe pede.
Faço que sim com a cabeça e vou até a porta, atendo a compradora e ajudo ela a levar os móveis. Estamos vendendo toda a mobília, o que acabou sendo uma ótima renda extra.
Sem os sofás e a poltrona, a sala fica, enfim, vazia. Olho para ela e me lembro com certa nostalgia de quando nos mudamos para cá. Eu e mamãe.
Não tenho lembranças do meu pai, e minha mãe nunca se dispôs a falar dele. Com o tempo, eu perdi o interesse em continuar perguntando, mas não em saber.Mais tarde, estamos prontos para partir. Algumas pessoas vieram se despedir, entre elas Carlos e sua família. Meu coração aperta em saber que vou embora, São Paulo me acolheu a vida toda. Pela primeira vez desde a notícia da mudança, eu choro.
Fomos para o aeroporto em silêncio, assim como embarcamos em silêncio. Ambos estavam tensos pela mudança, pelo recomeço. Uma nova realidade nos esperava.•
Em questão de horas, estamos na Cidade Maravilhosa. Felizmente dormi toda a viagem e não fiquei me torturando com o que nos esperava aqui, mas parece que agora, acordado, tudo isso veio à tona de uma vez só.
- Estou cansada, não vou ligar para o Denis vir nos buscar. Vamos pegar um táxi até o endereço que ele me mandou. - Diz minha mãe, esperando as malas.
- Vá em frente.Depois de pegar todas as malas, saímos do aeroporto, pegamos um táxi e, após minha mãe ditar o endereço ao motorista, finalmente chegamos em frente ao condomínio no qual Denis morava. Minha mãe pediu para que o porteiro avisasse ele que estávamos ali, mas o mesmo afirmou que já tinha sido avisado da nossa chegada, e sugeriu que fizéssemos uma surpresa. Com isso, tivemos que andar um século (com várias malas) atrás da casa de Denis, até que encontramos. Era uma casa muito bonita, sem dúvidas.
- Boa noite. - Assim que tocamos a campainha, uma menina atendeu. Aliás, uma bela menina.
- Boa noite, aqui é a casa do Denis? - Minha mãe toma a frente.
- É sim, e quem são vocês?
- Oh, você deve ser Ashley! - Minha mãe sorri. - Eu sou Luísa, e este é Josh. Nós...
- Luísa! Estávamos esperando sua ligação! - Ela observa a quantidade de malas. - Deixa eu ajudar vocês com isso, meu pai está no banho.Ashley nos ajuda a carregar todas as malas para dentro e, se eu entendi bem, ela é filha do Denis, e ninguém me contou isso. Outra coisa que eu reparei foi o nome da menina. Não é um nome muito comum no Brasil, assim como o meu. O que tem de errado com os pais?
Minha mãe se senta em uma poltrona e mexe no celular distraidamente, deve estar avisando a todos que chegamos. Eu me sento no sofá e Ashley se senta do meu lado, interessada em puxar assunto.
- Então, John, certo?
- Josh. - Ninguém nunca tinha me chamado de John antes, é engraçado.
- Claro, Josh. Vocês chegaram mais cedo, fizeram boa viagem?
- Sim, foi bem tranquilo... Obrigado. - Ela espera que a gente continue conversando. - Denis já tinha falado de mim para você?
- Há alguns dias. Mas você não deve me conhecer, né? Eu não morava com meu pai, mas tive que vir para cá depois que minha mãe faleceu.
- Ashley, eu sinto muito.
- Obrigada, mas sei que ela está em algum lugar bem melhor agora. - Ela respira fundo e volta a sorrir. - Vou ver se meu pai já terminou o banho e depois vou te mostrar seu quarto. Espere aí!Ela se levanta e sobe as escadas rapidamente. Quando sai do meu campo de vista, me viro para minha mãe e chamo-a.
- Mãe!
- O que foi, filho? - Ela desvia o olhar do celular.
- Por que não me contou sobre Ashley?
- Achei que não era tão importante, desculpa. - Ela sorri. - Você percebeu que o nome dela é tão interessante como o seu?
- Boa noite, família! - Uma voz invade o ambiente, interrompendo a conversa.A voz é de Denis, que está descendo as escadas usando um roupão, acompanhado de Ashley.
- Boa noite, fizeram uma boa viagem? - Ele abraça minha mãe.
- Fizemos uma ótima viagem! Josh, cumprimente o Denis, querido!
- E aí, campeão! Animado? - Ele ri. Particularmente, eu odeio ser chamado de campeão (a não ser que eu mereça).Sorrio tão artificialmente como ele, e logo o assunto muda e eu já não sou necessário ali (e não tenho certeza se já fui necessário depois que Denis chegou).
- Ei! Josh! - Ashley acena pra mim, perto da escada.
- O que foi?
- Vem ver o seu quarto! - Ela sorri. - Estou ansiosa para ver isso.Vou atrás dela, que está realmente muito ansiosa para que eu veja meu quarto. O que tem demais em um quarto? Quando ela abre, eu entendo.
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Panda S/A
Ficção AdolescenteJosh, um brasileiro com o nome um tanto americano, não esperava que sua vida fosse mudar tanto de uma hora para outra. Ter que sair da sua vida cômoda em São Paulo para viver em outra cidade e com uma nova família não vai ser nada fácil. Descubra um...