Quatorze

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Com a ajuda das meninas, coloco Ashley dentro do táxi. Antes que eu entre, sinto alguém segurando meu ombro.

– Obrigada. – Diz Cecília, quando eu me viro. – Eu não sei o que faríamos se não tivesse atendido.
– Não foi nada. O que vai fazer com a casa? Me desculpe, mas está um caos.
– Eu dou um jeito.

Depois disso, ficamos em silêncio por uns momentos até que ela se estica e beija minha bochecha. Fabrícia continua parada, no canto.

– Tchau, e obrigada de novo.
– Tchau, foi bom te conhecer! – Fabrícia finalmente diz algo.
– Tchau. – Sorrio para elas e entro no táxi. Ashley e o motorista (principalmente o motorista) já devem estar impacientes.

Somos levados até a porta do condomínio de novo. Pago o homem e entro com Ashley.

– Boa noite, Pablo. – Ashley diz, ao entrar. – Seu bigode tá bonitão.
– Eu faço o que posso. – Ele brinca. – Agora vá, antes que seu pai acorde ou algo assim.

Levo ela até a porta dos fundos e paro por um momento.

– Ashley? – Cochicho.
– Oi? – Ela cochicha de volta.
– Eu vou te guiar, tente não fazer nenhum barulho, certo? Se seu pai te ver nesse estado e descobrir que eu tive que sair para te buscar, vai explodir.
– Eu sei, tudo bem. – Ela dá uma risadinha. – Tô na porta do castelo e meu cavaleiro dourado vai me levar para dentro agora.
– Boba.

Destranco a porta e abro-a devagar. Coloco a mão dela na minha cintura e começamos a entrar na casa, devagar. Vou iluminando o caminho com a luz fraca da tela do meu celular, e vamos até a porta do quarto dela totalmente em silêncio (lembre que para chegar tivemos até que subir escadas!).

– Pode me deixar aqui. – Ela diz, ainda meio bêbada.
– Tem certeza, não quer que eu entre com você até você deitar?
– Tenho, eu ainda vou lavar o rosto e me trocar. – Ela me beija na bochecha. – Até amanhã.
– Até amanhã.

Ela entra no quarto e fecha a porta para abafar qualquer barulho e eu vou para o meu, exausto. Não é todo dia que esse tipo de coisa acontece com a gente.

Na manhã seguinte tudo parece ter corrido bem, porque acordo sozinho em casa. Então Denis e mamãe foram trabalhar, e Ashley deve estar na escola. Ainda parece meio surreal tudo isso que aconteceu de madrugada, para horas mais tarde voltarmos para nossas vidas normais.

– Totalmente normal. – Falo para mim mesmo.

Tomo meu banho, me escovo e me visto e vou procurar algo para comer. Como imaginado, tem algumas quitandas me esperando na sala de jantar. Depois de tomar meu café, vou para a sala, mas não chego a ligar a televisão e fico mexendo no meu celular, entediado. Pouco tempo depois, Ashley chega da escola.

– Bom dia. – Ela não está tão entusiasmada como costuma ser.
– Bom dia, como você tá?
– Acho que é ressaca. – Ela se senta do meu lado. – E você?
– Eu tô bem.

Ficamos um tempo em total silêncio.

– Ei? – Ashley começa. – Obrigada.
– Por que?
– Por ter me buscado ontem. Eu bebi demais, não deveria ter feito isso. Enfim... Obrigada.
– Tudo bem. – Sorrio. – Irmão é pra essas coisas.
– Irmão é pra essas coisas. – Ela também sorri.

Ficamos um tempo conversando até que Denis e mamãe chegam.

– Olá, vocês dois! – Minha mãe diz, entrando na frente. Logo em seguida vem Denis.
– Oi campeão! Oi princesa, como foi a festa ontem?
– Oi pai. Foi... Ahn, foi muito boa.
– Aproveitou bastante?
– Aproveitei sim, foi ótimo.
– Que bom, então. Se precisarem de mim, vou estar no escritório. – Ele anuncia, enquanto sobe as escadas.

Assim que Denis e minha mãe saem de vista, Ashley se vira para mim com os olhos arregalados.

– Meu Deus, eu já achei que ele sabia de alguma coisa.
– Eu também fiquei um pouco tenso. Ele não desconfia de nada?
– Espero que não. – Ela respira fundo. – Tomara que não.

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