Acordo tarde, me sentindo bem após uma verdadeira noite de sono. Não escuto nenhum barulho em casa e penso que estou sozinho. Tomo banho e me escovo como já é um costume básico e desço as escadas rumo à sala, despreocupado enquanto mexo no meu celular.
– Bom dia! – Ashley diz, me assustando.
– Bom dia... Você não devia estar na escola?
– Hoje não, é conselho de classe. – Ela sorri. – Vai tomar café, ainda é hora. Tá lá na mesa, e eu posso te pedir uma coisa?
– Claro!
– Já que você vai estar lá, enche essa caneca de café com leite pra mim?
– Deixa comigo. – Sorrimos um para o outro, eu pego a caneca dela e vou para a cozinha.Na verdade eu não sei bem onde fica a cozinha, então vou seguindo um rumo que acho correto, até que encontro não a cozinha, mas uma sala de jantar com todo o café da manhã na mesa. Temos café e leite, pão, manteiga, queijo, presunto, pão de queijo e bolo de fubá (que ninguém tocou). Eu achei muita coisa para um café da manhã, mas talvez porque eu tenha acordado quase na hora do almoço.
Preparei o café com leite da Ashley e faço um igual para mim, pego dois pães de queijo e um pedaço do bolo, coloco em um pratinho e volto para a sala, onde Ashley estava assistindo um programa sobre esquilos.– Voltei! – Entro na sala, entregando a caneca dela.
– Oba, senta aí!
– O que você está assistindo? – Como se eu não tivesse visto.
– Um programa tosco sobre esquilos, por pura preguiça de mudar de canal. Vamos ver Netflix?
– Tudo bem, você escolhe.
– Certo. Bom, você já terminou de ver Stranger Things? – Faço que sim com a cabeça. – E essa outra aqui... The OA?
– Eu tô louco pra começar essa.
– Então já escolhemos o que vamos ver.Assistimos só o primeiro episódio, porque Ashley olha a hora e fica preocupada por estar de pijama. "E se meu pai chegar pra gente almoçar comigo desse jeito? Espera eu me arrumar que a gente termina!" foi o que ela disse. Enquanto ela foi tomar o banho dela, eu fui colocar meu celular para carregar, porque se não eu ia ficar sem bateria. Justamente porque eu estava com preguiça de pegar o carregador de dentro da mala no dia anterior.
•
Algum tempo mais tarde, depois de Ashley tomar seu banho, nós estamos no quarto dela morrendo de fome quando ela recebe uma mensagem de Denis:
"filha, Luísa e eu não vamos almoçar com vocês, você pode cozinhar? se não quiser, pode pedir algo e pagar com o cartão de emergência".
Ela não esboça reação nenhuma até que vira o celular para mim, então abre um grande sorriso.
– O que é o "cartão de emergência"? – Pergunto depois de ler, curioso.
– É um cartão de crédito que fica aqui em casa, que só é usado em momentos de emergência, como o nome já diz. Tipo, quando meu pai não está em casa para pagar algo, eu pago.
– Então nosso almoço...
– Isso mesmo. – Ela sorri. – Nós podemos comprar o que quisermos para almoçar e colocar no cartão.
– Agora você falou minha língua!Ashley pula da cama e sai correndo. Eu, sem reação, fico parado esperando, até que ela volta, minutos depois, segurando o "cartão de emergência".
– Certo, peguei o cartão. Nós podemos pedir algo ou sair pra comer. O que você prefere?
– Eu não sei, você escolhe.
– Você gosta de massas?
– Quem não gosta de massas? – Brinco.
– Abriu um restaurante aqui do lado do condomínio, eu nunca fui lá mas disseram que é muito bom... Quer ir?
– Vamos nessa!
– Eba! – Ela bate palmas animadas. – Deixa eu só trocar de roupa, vai se trocar também.
– Certo, nos vemos daqui a pouco.Nos trocamos e fomos para o restaurante. Chegando lá, sentamos em uma mesa e olhamos o cardápio. Nos deparamos com inúmeros tipos de massas e molhos que só deixou a gente mais indeciso. No fim, Ashley pediu um clássico à bolonhesa, e eu escolhi um de nome difícil, mas que parecia muito apetitoso. Em poucos momentos, o garçom chega com nossos pratos, e dispara:
– Aqui está o pedido do lindo casal.
Travamos. Ashley me olhou, eu olhei ela, e (por incrível que pareça) nós começamos a rir. O garçom, por sua vez, fingiu não entender que ele se enganou ao nos chamar de casal e foi embora. O assunto do almoço foi "o pedido do lindo casal", mas ambos ficamos meio desconfortáveis com a cena.
Limpamos os pratos e, na hora de pagar, não tinha ninguém atendendo o caixa e ficamos esperando. Em determinado momento, enquanto Ashley lia uma propaganda em cima do balcão, eu vi que o canto da boca dela estava sujo. Ao invés de pedir para que ela limpasse, como uma pessoa normal, eu mesmo decidi limpar. Mas, enquanto eu passava meu dedo no canto da boca dela (aquilo parecia mais uma carícia), uma senhora chegou para atender o caixa e disse:– Quando se é jovem, o amor é a coisa mais linda que existe. Vocês que o digam! – Então ela sorriu e pediu nossa comanda, para somar nosso pedido.
"Duas vezes em um almoço", Ashley cochichou no meu ouvido e entregou a comanda para a moça. "O lindo casal tá fazendo sucesso, hein!". Quando estávamos saindo, ela me puxou pelo braço.
– Espera, vamos tirar uma selfie. – Então ela puxa o celular e tira uma foto. Logo depois, vai ver como ela ficou. – Olha, ficou linda! Você gostou?
– Ficou linda porque nós somos o lindo casal!
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Panda S/A
Teen FictionJosh, um brasileiro com o nome um tanto americano, não esperava que sua vida fosse mudar tanto de uma hora para outra. Ter que sair da sua vida cômoda em São Paulo para viver em outra cidade e com uma nova família não vai ser nada fácil. Descubra um...